domingo, 26 de dezembro de 2021

Morre Desmond Tutu, Prêmio Nobel da Paz e símbolo da luta contra o Apartheid

 


Morreu aos 90 anos o arcebispo sul-africano Desmond Tutu, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1984 por sua luta contra o apartheid na África do Sul. A informação foi confirmada pelo presidente do país, Cyril Ramaphosa, neste domingo (26).

"A morte do arcebispo emérito Desmond Tutu é outro capítulo de luto no adeus de nossa nação a uma geração de sul-africanos excepcionais que nos deixou uma África do Sul liberta", disse Ramaphosa.

“Desmond Tutu era um patriota sem igual; um líder de princípio e pragmatismo que deu significado à compreensão bíblica de que a fé sem obras está morta", continuou o presidente.

O apartheid foi um regime segregacionista que vigorou na África do Sul de 1948 a 1991, que separava pessoas negras das brancas e dava às últimas domínio do poder político e econômico no país.

Ativista pelos direitos humanos, o arcebispo falava sobre a ocupação do território palestino por Israel, direitos da população LGBTQIA+, mudanças climáticas e outros assuntos de relevância mundial.

Tutu deixa a esposa, Nomalizo Leah, e quatro filhos.

Tutu e Mandela





Luta contra o racismo

Em 1984, Tutu recebeu o Nobel da Paz por sua oposição não violenta ao apartheid. Uma década mais tarde, ele testemunhou o fim do regime e presidiu a Comissão da Verdade e da Reconciliação, criada para revelar as atrocidades cometidas durante aqueles dias sombrios.

Tutu comandou numerosas marchas e campanhas para acabar com o apartheid nos degraus da entrada da Catedral de São Jorge, e em resultado disto esta se tornou conhecida como a "Catedral do Povo" e um símbolo poderoso da democracia local.
Ele foi amigo de toda a vida de Nelson Mandela, e durante algum tempo morou na mesma rua do município sul-africano de Soweto -- a única rua do mundo que abrigou dois ganhadores do Prêmio Nobel da Paz.

"Sua qualidade mais característica é sua prontidão para adotar posições impopulares sem medo", disse Mandela certa vez a seu respeito. "Tal independência de mente é vital para uma democracia vicejante".
A morte de Tutu ocorre poucas semanas depois da morte do último presidente da era do apartheid na África do Sul, FW de Clerk, que morreu aos 85 anos.

O presidente Ramaphosa disse que Tutu era "um líder espiritual icônico, ativista anti-apartheid e ativista global dos direitos humanos".

Ordenado sacerdote em 1960, serviu como bispo do Lesoto de 1976-78, bispo assistente de Joanesburgo e reitor de uma paróquia em Soweto.

Fonte: G1

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Sugestão de leitura: Os Jacobinos Negros, de C.L.R. James

 


"Em agosto de 1791, passados dois anos da Revolução Francesa e dos seus reflexos em São Domingos, os escravizados se revoltaram. Em uma luta que se estendeu por doze anos, eles derrotaram, por sua vez, os brancos locais e os soldados da monarquia francesa.

Debelaram também uma invasão espanhola, uma expedição britânica com algo em torno de sessenta mil homens e uma expedição francesa de semelhantes dimensões comandada pelo cunhado de [Napoleão] Bonaparte. A derrota da expedição de Bonaparte, em 1803, resultou no estabelecimento do Estado Negro do Haiti, que permanece até os dias de hoje." (p.15)

"Os Jacobinos Negros - Toussaint L'Ouverture e a revolução de São Domingos", de C.L.R. James, trata sobre a única revolução que ocorreu em solo americano, se considerarmos o conceito literal da palavra. O Haiti foi a única nação onde ex-escravizados derrotaram seus senhores e assumiram o poder, deixando de ser colônia e proclamando uma República.


O Haiti se tornou um símbolo de esperança para as populações Negras da América do século XIX e o terror das potências mundiais, que não reconheceram sua independência, promoveram longos boicotes e destruíram o país completamente. Os reflexos disso são sentidos até hoje. Não é por acaso que o Haiti ainda é um dos países mais pobres do mundo.

A Revolução Haitiana é mais um dos capítulos da História que não tem o reconhecimento que merece, pois seus ecos ainda tiram o sono de muita gente...





quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Morre a escritora bell hooks, aos 69 anos

 


A escritora feminista negra bell hooks  morreu hoje (15), aos 69 anos. A intelectual norte-americana já estava doente há algum tempo e faleceu em sua casa, em Berea, cercada de parentes e amigos. A passagem de bell hooks foi divulgado por sua sobrinha Ebony Motley, em um comunicado à imprensa. 


Glória Jean Watkins (seu nome de registro) nasceu em 25 de Setembro de 1952, em Hopkinsville, Kentucky, quarta filha entre 7 irmãos. O nome "bell hooks" foi inspirado na sua bisavó materna, Bell Blair Hooks. A letra minúscula é um posicionamento pessoal da autora que busca dar enfoque ao conteúdo da sua escrita e não à sua pessoa.


Seu primeiro livro "E eu não sou uma mulher? Mulheres negras e feminismo" foi publicado em 1981. Ao longo de sua carreira ela publicou mais de 40 livros, incluindo ensaios, poesia e livros infantis. Entre os temas tratados em sua obra destacam-se feminismo, racismo, cultura, papeis de gênero, amor e espiritualidade. 

Mestre em Língua Inglesa pela Universidade de Stanford e doutora em Literatura pela Universidade de Winsconsin, bell hooks chegou a frequentar escolas segregadas na infância. Em 2004, a autora retornou ao seu estado natal, Kentucky, para lecionar na Universidade de Berea. Em 2010, a instituição abriu o Instituto bell hooks, que abriga sua coleção de arte afro-americana, objetos pessoais e cópia de livros publicados em outros idiomas. O acervo já foi visitado por feministas históricas de jovens, como Gloria Steinem e Emma Watson.

Fonte: IG Delas

Veja também:

E eu não sou uma mulher?





terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Rebelião Escrava no Brasil, de João José Reis



 "Na noite do dia 24 para 25 de janeiro de 1835, um grupo de africanos escravos e libertos ocupou as ruas de Salvador, Bahia, e durante mais de três horas, enfrentou soldados e civis armados. Os organizadores do levante eram malês, termo nagô pelo qual eram conhecidos na Bahia os africanos muçulmanos."

"Rebelião Escrava no Brasil", de João José Reis, é o estudo mais aprofundado sobre a Revolta dos Malês.  Muito importante ter referências próximas sobre nossa história, porque, mesmo apesar dos lentos avanços do ensino de História desde a Lei 10.639/03 e da Lei 11.645/08, que obrigam o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena, os livros didáticos e a própria historiografia tida como "clássica" ainda prioriza os acontecimentos das populações brancas do Sudeste.

Sou fascinado pela história da Bahia, principalmente a de Salvador, mas só pude ter mais contato com ela quando tive disciplinas na universidade. Por isso, nunca perco a oportunidade de falar um pouco sobre o assunto aos meus alunos, pra que eles possam ver a cidade e a si mesmos de outra forma.

Chamamento ao Povo Brasileiro, de Carlos Marighella



 "Não pretendo nada, 

Nem flores, louvores, triunfos.

Nada de nada.

Somente um protesto, 

Uma brecha no muro, 

E fazer ecoar,

Com voz surda que seja, 

E sem outro valor, 

O que se esconde no peito,

No fundo da alma

De milhões de sufocados.


A passagem subiu,

O leite acabou,

A criança morreu,

A carne sumiu,

O IPM prendeu,

O DOPS torturou, 

O deputado cedeu,

A linha dura vetou,

A censura proibiu,

O governo entregou,

O desemprego aumentou,

O Nordeste encolheu,

O país resvalou.


Tudo dó,

Tudo dó,

Tudo dó...

E em todo país

Repercute o tom

De uma nota só...

De uma nota só."

(Carlos Marighella - "O país de uma nota só")


Chamamento ao Povo Brasileiro é uma reunião de artigos, livros, cartas, poemas e manifestos escritos por Carlos Marighella, organizados por Vladimir Safatle e publicados pela Ubu Editora.

Ainda ganhei dois ingressos pra assistir ao filme de Wagner Moura em qualquer cinema do Brasil (com algumas exceções). O problema é achar algum que ainda esteja passando em horário acessível...

#Marighella #Livros #Cinema


sexta-feira, 19 de novembro de 2021

O racismo continua ganhando de goleada no Brasil



Dentro e fora de campo, os racistas seguem impunes, amparados por leis criadas por e para homens brancos. As penas contra o Brusque e contra um de seus principais diretores (Júlio Antônio Petermann, o presidente do Conselho Deliberativo do clube no momento do crime), pelas ofensas racistas proferidas ao jogador Celsinho, do Londrina, pela Série B do Campeonato Brasileiro, foram extremamente brandas.

O Brusque havia perdido 3 pontos, mas recorreu ao STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) e teve a pena revertida para apenas um jogo de portões fechados e pagamento de multa. Como se não bastasse a recuperação dos pontos, nesta luta que o Brusque trava contra o rebaixamento para a Série C, o jogo sem torcida vai ficar para 2022, já que não há mais tempo hábil para o cumprimento da pena ainda este ano. A punição, que já era leve desde o início, se tornou irrisória.

Não adianta criar hashtags em placas de publicidade ou em uniformes. Não adiantam "campanhas educativas".  Não adianta se dizer "antirracista" (já tô pegando ranço dessa palavra...) se, na hora em que as instituições que gerem o futebol e a justiça desportiva podem punir exemplarmente os casos de discriminação no futebol, elas se acovardam e dão penas meramente simbólicas. Sempre defendo que qualquer punição a casos de violência no futebol seja direcionada ao clube também, não apenas aos agressores. Só assim, os próprios clubes também se interessem em coibir estas práticas. Até mesmo os outros torcedores ao redor, com medo de perderem o acesso ao estádio, se controlem.

Outro problema está na falta de diversidade nos órgãos diretivos do Brasil. Historicamente, todas as leis beneficiam, direta ou indiretamente, a manutenção do status quo. Nada muda porque não existe vontade de que nada mude de verdade. Os sete auditores (os 2 que votaram pela manutenção da pena e os 5 que optaram pela sua redução) eram homens brancos. Alguns relativizaram, dizendo que a ofensa de Júlio Antônio Petermann não teria sido tão grave assim, como se houvesse uma escala ou parâmetro nos impactos que o racismo pode causar em um homem Negro. 

O próprio Brusque se apressou em defender seu diretor, fazendo o que os racistas rotineiramente fazem: transferindo a culpa do racismo à vítima, com aquele velho e asqueroso discurso sobre "vitimismo". Só voltou atrás e o afastou depois da enxurrada de críticas recebidas por todos os lados. 

Pelo que o STJD deixou transparecer, às vésperas do Dia da Consciência Negra, jogar um copo plástico no campo ou criticá-la publicamente parece ser mais grave que um ato deliberadamente racista de um dirigente contra um jogador no meio de uma partida. O Brusque pode até estar lutando contra o rebaixamento, mas o racismo segue líder e invicto no campeonato.

Os cinco auditores que votaram para diminuir a punição foram: Felipe Bevilacqua, Mauro Marcelo, Luiz Felipe Bulus, Ivo Amaral e Sérgio Martinez.

Sobre o assunto, leia mais detalhes no Blog da Gabriela Moreira no GE.


quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Os Condenados da Terra, de Frantz Fanon

 

"O colonizado vive em estado de alerta, pois, decifrando com dificuldade os múltiplos signos do mundo colonial, nunca se sabe se passou ou não do limite. Diante do mundo arranjado pelo colonialista, o colonizado é sempre presumido culpado.

A culpabilidade do colonizado não é uma culpabilidade assumida, é, antes, uma espécie de maldição. [...]


É dominado, mas não domesticado. É inferiorizado, mas não convencido de sua inferioridade. Espera pacientemente que o colono relaxe a vigilância para saltar para cima dele. Não se pode dizer que ele seja inquieto, aterrorizado. Na verdade, ele está sempre pronto a abandonar o seu papel de caça para tomar o de caçador. 

O colonizado é um perseguido que sonha permanentemente tornar-se um perseguidor."

(Frantz, Fanon. "Os Condenados da Terra, p. 70)


Este livro foi publicado em 1961, em plena guerra pela independência da Argélia, em que a violência colonial estava cada vez mais explícita. Foi proibido por diversas vezes, mas serviu - ontem e hoje - como referência para várias gerações de militantes anticolonialistas.


Aproveite o Novembro Negro pra ler autores e obras que te motivem a contestar, não a aceitar as coisas como são. O conformismo nunca nos levou a lugar nenhum.

sábado, 13 de novembro de 2021

Sugestão de filme: Amina



 Já foi ver Amina?

Filme nigeriano que estreou este mês na Netflix, inspirado em uma história real, sobre uma guerreira, herdeira do trono de Zazzau, na atual Nigéria, durante o século XVI. 

Desde criança, Amina enfrenta traições, disputas familiares, crises diplomáticas e o machismo pra liderar seu povo e expandir os seus territórios.

Dirigido por Izu Okukwu e com Lucy Ameh no papel principal, Amina está disponível na Netflix.

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Sugestão de leitura: Malcolm X Fala

 

"Malcolm X Fala", publicado pela Ubu Editora, é uma reunião dos principais discursos de Malcolm X entre 1964 e 1965 (ano de sua morte), além de cartas e entrevistas.

Sempre vale a pena ler, ver e ouvir tudo que ele fala, faço questão!


segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Sugestão de série: Colin em Preto e Branco

 


"Algumas pessoas jogam o jogo. Outras o mudam".

Estreou na Netflix "Colin em Preto e Branco", a série biográfica de Colin Kaepernick, ex-jogador do San Francisco 49ers, time de futebol americano. Kaepernick se tornou notícia fora da NFL por se ajoelhar durante a execução do hino dos EUA, em protesto ao racismo e à violência policial contra as populações Negras no país, em 2016. Como represália, não teve seu vínculo renovado com o 49ers nem foi aceito por mais nenhum outro time da liga profissional de futebol americano desde 2017.


Criada por Ava DuVernay (de Selma, Olhos que condenam, 13° Emenda) e pelo próprio Colin Kaepernick, que narra e intervém como se fosse um espectador da própria história, a série tem apenas seis episódios curtos, em que sua vida a partir do colegial serve  como pano de fundo pra diversas questões, como racismo e política. Jaden Michael (de The Get Down) o interpreta em sua versão mais jovem.


Apenas 1/3 dos jogadores Negros da NFL se tornam quarterback (a posição de Kaepernick, considerada a mais importante do time, uma espécie de camisa 10 no nosso futebol), mesmo que os jogadores Negros sejam cerca de 70% na liga. 

O protesto pacífico, solitário e silencioso de Kaepernick ganhou eco na NFL, NBA e se espalhou pelos campos de futebol de várias partes do mundo. Até mesmo o Comitê Olímpico Internacional reviu sua posição de proibir manifestações políticas nas Olimpíadas. 

"Quem disse que resistir é inútil?"



sexta-feira, 29 de outubro de 2021

O neocolonialismo e a vacinação na África

 

Nenhuma novidade. Enquanto sobram vacinas na Europa e na América do Norte, enquanto as pessoas escolhem marcas de vacina como se fossem marcas de cerveja e  inventam fake news a respeito de sua eficiência, o continente africano, uma área com mais de 50 países, não possui nem 10% de sua população vacinada.


Quando as vacinas ainda estavam em fases iniciais de testes, muitos "especialistas" europeus defendiam usar os africanos como cobaias, fato que só não aconteceu devido à péssima repercussão. Agora que todo mundo sabe o quanto as vacinas são importantes, o resto do mundo esqueceu que a África existe.


Segundo um balanço feito pela agência de notícias France Presse, foram administradas 9 doses de vacinas para cada 100 habitantes na África inteira, contra 118 nos Estados Unidos e Canadá, 104 na Europa, 85 na Ásia, 84 na América Latina e Caribe, 69 na Oceania e 54 no Oriente Médio. Isso apesar de todo negacionismo.


A União Africana criou um fundo para aquisição dos imunizantes, mas as próprias fabricantes dificultam o acesso e priorizam a venda para outros continentes.


O racismo, o capitalismo e os desdobramentos do neocolonialismo na África fazem com que o continente continue sendo o que mais sofre nessa pandemia.


sábado, 2 de outubro de 2021

SESC Digital exibe mostra de filmes africanos

 

Juju Stories é o primeiro filme da mostra de cinema africano do SESC Digital

A plataforma SESC Digital está promovendo até o dia 09/10 uma mostra de filmes africanos gratuitamente, muitos deles são inéditos no Brasil. Para acessar, clique no link: https://sesc.digital/conteudo/cinema-e-video/cinemas-africanos/juju-stories

Programação:

20h – Juju Stories (disponível até 08/10 às 23h59)


Dia 2 de outubro (sábado)


00h – Para Maria, Knuckle City, O Último Refúgio, Rua do Saara, 143 (disponíveis até 08/10 às 23h59)


00h – Sessão de curtas FIFF – parte 01 (disponível até dia 10/10 às 23h59)


00h – Sessão de curtas Cinema Árabe Africano Feminino – parte 01 (disponível até 10/10 às 23h59)


Dia 3 de outubro (domingo)


00h – Flatland, A Garota do Moletom Amarelo, Meu Primo Inglês (disponíveis até 09/10 às 23h59)


00h – Sessão de curtas FIFF – parte 02 (disponível até dia 10/10 às 23h59)


00h – Sessão de curtas Cinema Árabe Africano Feminino – parte 02 (disponível até 10/10 às 23h59)


Dia 08 de outubro (sexta-feira)


20h – Você Morrerá aos 20 (limite de 500 visualizações)


Dia 09 de outubro (sábado)


18h – Edifício Gagarine (disponível por 24h)

domingo, 26 de setembro de 2021

Mais um recorde: Lewis Hamilton torna-se o ÚNICO piloto a vencer 100 corridas

 


Lewis Hamilton fez história novamente na Fórmula 1, ao vencer o GP da Rússia e se tornar o único piloto a ver a bandeira quadriculada antes dos rivais pela centésima vez.

O heptacampeão mundial coloca mais uma marca incrível na sua prateleira de recordes e lidera o campeonato por apenas dois pontos a mais que Max Verstappen, da Red Bull.

O piloto mais próximo da marca centenária de Hamilton é Michael Schumacher, que venceu 91 vezes. A distância para os os demais pilotos fica ainda maior:  Sebastian Vettel, o único piloto da lista dos 5 maiores que ainda está em atividade, venceu 53 Grandes Prêmios. Alain Prost, com 51 e Ayrton Senna, com 41 triunfos, fecham a lista.

Ainda há quem questione a supremacia de Lewis Hamilton sobre todos os demais pilotos da história ou quem tente minimizar seus feitos, por estar na melhor equipe da atualidade. Não precisa ir muito longe pra entender o motivo. Afinal, não deve ser fácil aceitar que o único piloto Negro em 72 anos de Fórmula 1 conseguiu superar todos os pilotos brancos que este esporte elitista já teve.

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

100% dos mortos pela PM em Salvador em 2020 eram homens Negros

 


O Profissão Repórter da TV Globo desta terça-feira (21) que abordou a violência policial mostrou um estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública sobre os números da letalidade policial no estado da Bahia. Houve um aumento de 47% neste índice.

O número de pessoas mortas pela polícia na Bahia saltou de 773, em 2019, para 1.137, em 2020. O estado ultrapassou em números absolutos São Paulo — que teve 814 mortes — e se aproximou do Rio de Janeiro, o estado com a polícia mais letal do país, com 1.239 mortes registradas.


Os dados também indicam que 100% das vítimas de violência policial em Salvador eram homens negros.

Esses dados só reforçam o que sempre digo: a Polícia Militar é uma instituição genocida que se submete a tentar terminar o trabalho que a escravidão começou. 

A polícia não chega nos bairros periféricos de outra forma, é sempre a velha história da "troca de tiros".

Nunca houve nenhum plano concreto de ressocialização de pessoas marginalizadas. Não há o cuidado e o respeito aos moradores, todo mundo é visto como suspeito. Não recebemos sequer o benefício da dúvida. No começo desta semana, dois homens Negros foram encontrados mortos, horas após terem sido presos, "confundidos" com assaltantes de ônibus.


É por motivos assim que a maioria das pessoas Negras não confia na polícia. Não nos sentimos seguros nem protegidos por ela, até porque ela não foi criada pra isso. Ser homem Negro e periférico no Brasil é temer, ao mesmo tempo, ser abordado por criminosos ou ser parado por uma viatura em alguma rua deserta e mal iluminada.


Em nome de uma suposta "guerra contra as drogas", nosso povo vai sendo dizimado aos montes, todos os dias. Nessas horas, pouco importa se o governador é de "esquerda", como o petista Rui Costa (aquele mesmo que classificou a Chacina do Cabula como um "gol de placa da PM") ou de "direita", como o do tucano João Dória. O racismo no Brasil é ambidestro e o único sangue na calçada é o nosso.

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Irmãos de Sangue: Muhammad Ali e Malcolm X

 



Estreou na Netflix o documentário "Irmãos de Sangue: Muhammad Ali e Malcolm X". Inspirado no livro de Randy Roberts e Johnny Smith, de 2016, o filme aborda a relativamente curta, porém intensa relação entre estes dois dos maiores ícones Negros de todos os tempos.
Nas palavras do ativista Dr. Cornel West:

"Você não é amado. Isso é ser negro em um mundo de supremacia branca. Não é amado, não é cuidado, é abandonado. É visto como menos bonito, menos moral, menos inteligente... e ainda dizem para sempre ter medo. Malcolm X? Muhammad Ali? Sem chance!

Muhammad Ali e Malcolm X foram os dois Negros mais livres do século XX. Por outro lado, há um outro fardo. Há um custo tremendo em ser uma pessoa livre e amorosa."
Cada minuto desse filme vale a pena!

terça-feira, 7 de setembro de 2021

Da Diáspora, de Stuart Hall

 


Stuart Hall é uma referência pra mim no que se refere ao estudo da multiplicidade de identidades e culturas. 

Jamaicano de origem, morou na Grã-Bretanha de 1951 até a sua morte, em 10 de fevereiro de 2014. Devido a essa condição, escreveu a partir da diáspora pós-colonial, de um engajamento com o marxismo e o debate teórico sobre cultura, e de uma visão de cultura impregnada pelos meios de comunicação. 


"Da Diáspora", como o título sugere, trata da questão multicultural afrodiaspórica, em uma coletânea de artigos em que Hall dialoga com diversos autores.


O livro é dividido em cinco partes: controvérsias, marcos para os estudos culturais, cultura popular e identidade, teoria da recepção e Stuart Hall por Stuart Hall, em que ele concede uma entrevista sobre a formação de um intelectual diaspórico.

domingo, 29 de agosto de 2021

Como Fabricar um Gansta, de Daniel dos Santos

 


"Como Fabricar um Gangsta", de Daniel Dos Santos, é o resultado da primeira etapa do projeto de pesquisa intitulado #TheGanstaProject, desenvolvido entre o Mestrado e o Doutorado, sobre as masculinidades Negras na cultura Hip Hop dos Estados Unidos entre o fim do século XX e o início do XXI. 


A partir de um processo de investigação sobre a obra audiovisual dos rappers Jay-Z e 50 Cent, pode-se identificar e decodificar as configurações dos tipos de masculinidades Negras presentes nas narrativas do sub-gênero Gangsta Rap, através de uma narrativa interseccional estabelecida entre as epistemologias étnico-raciais pós-coloniais e das dissidências sexuais e de gênero. 


Neutralidade não existe. Quando uma pesquisa é feita por alguém que, de fato, possui um envolvimento afetivo com o tema, sem abdicar do método, da análise das fontes e da bibliografia necessária, o que podemos esperar é um trabalho autêntico. Quando o livro é escrito por um homem Negro, o significado é ainda maior, porque fica em nós a sensação de protagonismo, não a impressão de que somos usados como meros "objetos de pesquisa". Aqui estamos nós enquanto sujeitos complexos, singulares, com nossos vícios e virtudes; nossas falhas e qualidades. Aqui também temos a dualidade entre o que realmente somos e a maneira como somos representados na mídia e na sociedade como um todo. O que queremos ser e o que esperam de nós.


"Como Fabricar um Gangsta" foi publicado pela Editora Devires e pode ser adquirido no site da Queer Livros.



quinta-feira, 12 de agosto de 2021

12 de agosto, Dia da Revolta dos Búzios

 


Animai-vos, povo bahiense, que está para chegar o tempo feliz da nossa liberdade! O tempo em que todos seremos irmãos! O tempo em que todos seremos iguais!

Sabei que já seguem o Partido da Liberdade!"


223 anos da Revolta dos Búzios, ou Conjuração Baiana, também chamada de Revolta dos Alfaiates. Um movimento popular separatista, predominantemente Negro que, inspirado pela Independência do Haiti e pela Revolução Francesa, buscava o fim da escravidão, da opressão, das desigualdades sociais e da exploração colonial.


Nenhum tiro foi disparado no dia 12 de agosto de 1798, mas suas ideias aterrorizaram aquelas pessoas de sempre, que não desejam que nada mude no status quo, nem ontem, nem hoje.


Para sempre lembrados:

Lucas Dantas

Manuel Faustino

Luís Gonzaga das Virgens

João de Deus 


E todas as pessoas que perderam a vida há mais de 500 anos nesse Estado genocida.


quinta-feira, 29 de julho de 2021

Baile de Favela Olímpico!

 

Rebeca Andrade conquista a primeira medalha da ginástica feminina em Olimpíadas.

A ginasta Rebeca Andrade fez história nesta manhã de quinta-feira ao se tornar a primeira mulher a conquistar uma medalha olímpica na ginástica.

Misturando Johann Sebastian Bach com o "Baile de Favela" de MC João, Rebeca conquistou a medalha de prata nas Olímpiadas de Tóquio. 

Vale lembrar que Daiane dos Santos, outra ginasta Negra, foi a primeira mulher a conquistar o ouro numa competição mundial de ginástica, ao som de "Brasileirinho".

Duas mulheres Negras estarão marcadas para sempre na história da ginástica brasileira!

Em 2003, Daiane dos Santos foi a primeira ginasta brasileira a conquistar uma medalha de ouro no Mundial de Anaheim, EUA.


terça-feira, 20 de julho de 2021

Águas, Flores & Perfumes - Resistência Negra, Atabaques e Justiça na República




Depois de tanto tempo divulgando livros de pessoas que admiro, desta vez, a sugestão de leitura é o meu próprio livro.


"Águas, Flores & Perfumes - Resistência Negra, Atabaques e Justiça na República (Salvador-BA, 1890-1939)" analisa algumas medidas governamentais e jurídicas tomadas desde o final do século XIX até as primeiras décadas do século XX. 


Neste livro, eu investigo até que ponto, explícita ou implicitamente, estas leis buscaram exercer certo controle sobre as práticas culturais majoritariamente negras em Salvador - a exemplo do Candomblé, da Capoeira e das festas populares -, com o intuito de levar à frente os ideais de "modernização" e de "exclusão dos indesejáveis", agora que esta parcela da população não se encontrava mais sob o controle e a perseguição de senhores, feitores e capitães-do-mato. 


Jornais da época e documentos policiais, como portarias e processos-crime, também são utilizados, com o intuito de verificar a aplicação das primeiras leis republicanas (ou sua violação) no cotidiano da cidade, principalmente no que se refere aos costumes mais comuns às populações negras.


Adquira já o seu livro físico no site da Editora Dialética (CLIQUE AQUI). O livro também está disponível na versão física ou em e-book nos maiores marketplaces:

Amazon (versão física): (CLIQUE AQUI)

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terça-feira, 15 de junho de 2021

Para Educar Crianças Feministas



"Tente não usar demais palavras como 'misoginia' e 'patriarcado' com Chizalum. Nós, feministas, às vezes usamos muitos jargões, e o jargão, às vezes, pode ser abstrato demais. Não se limite a rotular alguma coisa de misógina - explique a ela por que aquilo é misógino e como poderia deixar de ser." (P.36)

Para Educar Crianças Feministas, de Chimamanda Ngozi Adichie, é um livreto escrito em formato de uma carta endereçada a uma amiga que acabou de ser mãe de uma menina.

Fala sobre como oferecer uma formação igualitária a todas as crianças, começando pela justa distribuição de tarefas entre pais e mães, sem atribuir um gênero específico a nenhuma atividade (tipo "coisa de menino" ou "coisa de menina").

Apesar de ter sido escrito de uma mulher para outra, esse livro pode (e deve) ser lido por todo mundo. É preciso romper esse ciclo histórico de machismo, racismo e todas as outras formas de preconceito que sustentam nossa sociedade há séculos.

domingo, 13 de junho de 2021

Cartas da Prisão de Nelson Mandela

 

 



"As palavras de Mandela são como uma bússola em mar revolto, terra firme em meio à forte correnteza" (Barack Obama).

Este livro reúne mais de 200 cartas enviadas por Mandela enquanto esteve preso, de 1963 até 1990. Muitas são endereçadas à família, mas outras também foram mandadas para aliados políticos e advogados.

Durante todo esse período, ele teve suas correspondências  censuradas, foi proibido de ir ao enterro da mãe e do filho, teve consultas médicas, acesso a ampla defesa, a livros e visitas negados e seus direitos humanos mais básicos violados. Suas correspondências, muitas delas enviadas às autoridades da África do Sul, demonstram isso.

Esta compilação levou quase 10 anos pra ficar completa, porque as cartas estavam em diversos endereços e arquivos do país. A realização deste livro foi possível porque, além de tudo, Mandela copiava todas as cartas que podia em um caderno, antes de enviá-las. Muitas das cartas permanecem intactas no Serviço Nacional de Arquivos e Registros da África do Sul, como evidência de que elas sequer chegaram a ser enviadas.

sexta-feira, 11 de junho de 2021

Sugestão de Leitura: Frederick Douglass - Autobiografia de um Escravo

 


"Não há um único homem sob a abóbada celeste que não saiba que a escravidão é errada para si mesmo."

Frederick Douglass foi um dos principais representantes da luta abolicionista dos EUA no século XIX. Este livro, junto com as demais autobiografias de ex-escravizados, que acabaram se tornando o primeiro gênero literário protagonizado por pessoas Negras na América, se tornou um documento fundamental na consolidação dos movimentos Negros dos anos 1960.

Os impactos físicos e sociais da escravidão contados pela perspectiva de quem os sentiu. Esta edição ainda conta com textos complementares, incluindo uma cronologia da escravidão e do racismo, desde 1619, início do tráfico de escravizados Negros para os EUA, até 2016, com a eleição de Donald Trump, um dos racistas mais famosos do mundo.
A apresentação ficou por conta de Silvio Almeida.

quarta-feira, 2 de junho de 2021

Zé Roberto revela ter vendido carro por causa das constantes abordagens policiais

 



Aposentado dos gramados, Zé Roberto tem se dedicado ao mundo fitness e as palestras após sua carreira no futebol. No último domingo (30), o ex-jogador participou do podcast PodPah e de forma bem cronológica relembrou episódios da sua trajetória dentro e fora das quatro linhas.

Entre as histórias, o ex-Palmeiras contou quando comprou um Eclipse GS, na cor verde, inspirado em Dener, que adquiriu o veículo antes de Zé Roberto. Na ocasião, o então jogador da Portuguesa começava a despontar para o cenário do futebol nacional. Dener morreu em acidente no seu eclipse em 1994 quando já era jogador do Vasco.

Entretanto, como Zé Roberto relatou, a compra do carro acabou se tornando uma verdadeira dor de cabeça. O problema, segundo ele, era que ao sair da Penha para visitar a namorada, hoje atual esposa, que morava em São Miguel Paulista, ambos bairros da Zona Leste da capital paulista, ele era “parado três vezes”.

“Sem sacanagem! Eu era parado pela polícia três vezes. […] Se eu não era parado, os caras [policiais] me seguiam e quando eu chegava na porta da casa dela [namorada] os caras: ‘Mão para cabeça! Sai [do carro]’! De quem é o carro?’”, relata.

“Isso foi muito constrangedor para mim. Isso fez com que eu vendesse o carro em três meses. Porque eu não tinha sossego”, completa.

Sobre o episódio, Zé Roberto ainda fez uma reflexão e lamentou ter vendido o carro por conta das seguidas abordagens.

“Não poder ter um carro que você sonha porque você é preto e eles [policias] quando me paravam achavam que eu estava com o carro por ele ser roubado”, lamenta.

Por ter morado fora do Brasil, na Espanha, Alemanha e Catar, o ex-Palmeiras ressaltou que no exterior não sofreu nenhum episódio de racismo.

“Não sofri racismo nenhum! Nem preconceito por ser estrangeiro. Mas vivi isso [racismo] dentro do meu País”, frisa.

“O mais triste ainda é que se passaram 20 anos e a gente continua com as mesmas coisas. Eu costumo dizer que o racismo é um câncer que vai ser difícil achar a cura”, finaliza.

Revelado pela Portuguesa, Zé Roberto saiu do Brasil direto para o Real Madrid. Mas foi na Alemanha que o seu perfil versátil dentro de campo fez sucesso com passagens por Bayer Leverkusen, Bayern de Munique e Hamburgo. Já no Brasil, o ex-jogador vestiu as camisas de Santos, Grêmio e Palmeiras, disputando ainda duas Copas do Mundo pela Seleção Brasileira (1998 e 2006).

Fontes: Isto É/ Observatório da Discriminação Racial no Futebol


quarta-feira, 19 de maio de 2021

96 anos de Malcolm X

 



"Nunca, em qualquer momento da história de nosso povo neste país, fizemos avanços ou sequer progredimos de qualquer forma apenas com base na boa vontade interna deste país.

Só avançamos quando ele estava sob pressão de forças acima e além de seu controle. Porque a consciência moral interna deste país está falida. Ela não existia desde que nos trouxeram aqui e nos tornaram escravos.

Eles nos ludibriam e fazem parecer que carregam nossos interesses em seus corações. Mas quando você estuda, todas as vezes, não importa quantos passos eles nos levem pra frente, é como se estivéssemos em uma esteira. A esteira está se movendo pra trás mais rápido do que somos capazes de avançar nesta direção. Não estamos nem parados, estamos andando pra frente ao mesmo tempo em que estamos indo pra trás."



sábado, 15 de maio de 2021

Sobre prisões e a falsa sensação de segurança

 



Em entrevista concedida em 2005 ao professor Eduardo Mandieta, da Stony Brook University, que resultou neste livro, Angela Davis falou sobre a relação entre a construção de novos presídios com a falsa sensação de segurança da sociedade:

"A ameaça à segurança parece sempre vir de fora, do inimigo imaginário externo. Há imagens múltiplas do inimigo (incluindo imigrantes e terroristas), mas o presidiário, visto como assassino e estuprador, está perigosamente mais próximo de uma ameaça à segurança.

Hoje, existem mais de duas milhões de pessoas atrás das grades (a maioria não foi condenada por crimes violentos), consideradas como a personificação do inimigo.

Teoricamente, isso deveria fazer com que as pessoas se sentissem melhor, mas o que realmente faz é desviar a atenção das ameaças à segurança geradas pelas forças armadas, pela polícia, pelas corporações gananciosas e, algumas vezes, pelos parceiros íntimos de uma pessoa."


quarta-feira, 12 de maio de 2021

100 Anos de Ruth de Souza

 



Se ainda estivesse viva, Ruth de Souza completaria um século de vida hoje. Nascida em 12 de maio de 1921, Ruth de Souza foi uma das artistas mais importantes do Brasil. Foi a primeira atriz Negra a atuar no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Ainda integrou o Teatro Experimental do Negro, grupo criado por Abdias Nascimento.

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Além de se destacar no Teatro, Ruth de Souza foi uma das pioneiras da televisão no Brasil e destaque no cinema, com mais de 30 filmes no currículo e indicações a prêmios internacionais.

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Seu último trabalho na TV Globo foi a minissérie "Se eu fechar os olhos agora", de 2019, mesmo ano em que ela foi homenageada pela escola de samba Acadêmicos de Santa Cruz, no Rio de Janeiro. Faleceu em 28 de julho de 2019.


quarta-feira, 21 de abril de 2021

História Negra em Quadrinhos

 


Duas histórias importantíssimas escritas em quadrinhos. Vejo como uma grande porta de entrada pra atrair jovens e adultos que têm interesse em estudar estas questões, mas não sabem por onde começar.



Escrito por Marcelo D'Salete, Angola Janga significa “pequena Angola” ou, como dizem os livros de História, Palmares. Por mais de cem anos, foi como um reino africano dentro da América do Sul. Formada no fim do século XVI, em Pernambuco, a partir dos mocambos criados por fugitivos da escravidão, Angola Janga cresceu, organizou-se e resistiu aos ataques dos militares holandeses e das forças coloniais portuguesas. Tornou-se o grande alvo do ódio dos colonizadores e um símbolo de liberdade para os escravizados. Seu maior líder, Zumbi, virou lenda e inspirou a criação do Dia da Consciência Negra.



"Miss Davis" é a biografia em HQ de Angela Davis, escrita por Sybille Titeux de la Croix ― acompanhada pelos brilhantes traços de Amazing Ameziane ― que refaz sua jornada desde a infância no Alabama, marcada pela segregação racial e pelos ataques da Ku Klux Klan, até sua saída da prisão em 1972, na Califórnia, após uma enorme mobilização mundial pela sua libertação.

segunda-feira, 19 de abril de 2021

Colonialismo e desumanização

 


"A colonização desumaniza até o homem mais 'civilizado'. A ação colonial, o empreendimento colonial, a conquista colonial fundada no desprezo pelo homem nativo e justificada por esse desprezo, inevitavelmente tende a modificar a pessoa que o empreende;
O colonizador, ao acostumar-se a ver o outro como animal, ao treinar-se para tratá-lo como um animal, tende objetivamente, para tirar o peso da consciência, a se transformar, ele próprio, em animal".
(Aimé Césaire)

sábado, 27 de março de 2021

Barbosa, 100 anos!


 Se estivesse vivo, Barbosa completaria um século de vida neste sábado. Moacir Barbosa é simplesmente o maior goleiro da história do Vasco e, sem dúvida, um dos maiores da história do futebol brasileiro. Em sua galeria de troféus, constam 6 títulos cariocas, numa época em que ainda não existia o Campeonato Brasileiro, então os estaduais tinham um status muito maior que o de hoje. Além disso, foi campeão invicto do Campeonato Sul-Americano de Campeões em 1948 (o primeiro título internacional de um clube brasileiro), um "embrião" do que viria a ser a Taça Libertadores da América alguns anos mais tarde; foi campeão sul-americano com a Seleção, em 1949 e do Torneio Rio-São Paulo de 1958, sendo o goleiro menos vazado destes e de vários outros torneios, inclusive os que o Vasco não se sagrou campeão.

Em 1950, Barbosa foi o goleiro do Vasco no primeiro título da história do Maracanã, o que garantiu ao clube o direito de escolher o lado em que sua torcida se posicionaria para sempre, quando atuasse naquele que era, à época, o maior estádio do mundo. No mesmo ano, o arqueiro foi o líder de "clean sheets" (quando um goleiro não sofre gols durante uma partida) na fatídica Copa do Mundo em que o Brasil foi derrotado pelo Uruguai.

O dia 16 de julho de 1950, no entanto, ficou marcado na vida de Barbosa e de todos os goleiros Negros do Brasil depois disso. Brasil x Uruguai se enfrentaram pela final da Copa do Mundo e os uruguaios venceram por 2x1, causando uma enorme frustração nos brasileiros. O gol de Ghiggia atormentou Barbosa pelo resto da sua vida. Ele costumava repetir a frase: " a pena máxima de um criminoso no Brasil é 30 anos. Eu  já paguei 49 anos (em 1999) e vocês ainda estão me cobrando?"

A verdade é que Barbosa foi considerado o principal "culpado" pela derrota da Seleção na Copa porque existe a máxima de que goleiro não pode falhar. Como o futebol não é um mundo à parte do resto da sociedade, a mesma máxima se aplica aos homens Negros. Nós não podemos errar, pois não teremos segunda chance. Devemos lembrar que o futebol tinha finalmente "aceitado" a presença de jogadores pretos e pobres há pouco menos de 30 anos, justamente com o Vasco e a sua famosa Resposta Histórica, em que o clube se recusou a excluir estes jogadores do seus quadros, no início dos anos 1920, apesar da pressão dos quatro grandes clubes do Rio de Janeiro à época (Flamengo, Fluminense, Botafogo e América), e teve, como punição, sua desfiliação da entidade que regia o Campeonato Carioca.

Barbosa morreu em 7 de abril de 2000. Curiosamente, esta é a data em que a Resposta Histórica foi publicada, em 1924.



Na esteira do punitivismo racista que se abate sobre os indivíduos Pretos, nossas falhas são generalizadas, enquanto os erros e crimes dos brancos são particularizados. Isto é, quando um Negro erra, é como se todos errassem ou vão errar do mesmo jeito no futuro. Essa situação gerou um estigma de que homens Negros não possuem vocação para ser goleiro. O advogado, professor, filósofo e pós-doutor em Direito Sílvio Almeida, filho do goleiro Barbosinha do Corinthians, disse que seu pai tinha esse apelido em alusão a Barbosa, o que carregava com muito orgulho. Sempre ficava a impressão de que ele iria errar na hora mais decisiva de alguma partida importante: "Vejam como o futebol trata a questão racial. Vejam como é permitido no futebol o livre mercado do ódio. Parece que as pessoas vão ao estádio com passe livre para ofender racialmente trabalhadores. Há uma espécie de pacto silencioso para que no futebol as ofensas raciais sejam absorvidas. A imprensa esportiva também absorve e difunde o racismo no futebol", acrescentou numa entrevista ao UOL.

 Poucos goleiros Negros tiveram oportunidade nos clubes de elite do Brasil e menos ainda na Seleção Brasileira. Tanto que, depois de Barbosa, apenas dois goleiros Negros assumiram a titularidade em copas. Manga, em 1966 e Dida em em 2006, após amargar a reserva nas copas de 1998 e de 2002, foram as exceções. Jefferson, goleiro do Botafogo, chegou a assumir a camisa 1 após a Copa de 2014, mas não foi mais convocado. Em relação aos clubes, com o título de 2020, o jovem (e contestado) Hugo do Flamengo foi apenas o 13° goleiro Negro a conquistar um título atuando como titular, em 50 anos de Campeonato Brasileiro. Ao mesmo tempo, pense na quantidade de goleiros brancos que já passaram pelos clubes e pela Seleção desde 1950. Quantos falharam? Quantos foram "cancelados" pelo resto da vida?
 Nem mesmo Júlio César, o goleiro do 7x1 contra a Alemanha, a maior derrota da história do Brasil em copas, sofreu esse estigma. Os outros goleiros brancos continuam sendo convocados sem problema. O gol que Barbosa sofreu não foi nenhuma falha clamorosa. Mesmo que tivesse sido, um lance isolado jamais poderá ser mais importante que todas as atuações que ele fez ao longo de quase 20 anos de carreira.

Obrigado, Barbosa! Seu legado será eterno, principalmente para os vascaínos que não esquecem de tudo o que você conquistou. A imagem que está gravada na memória é a do homem que se acostumou a levantar troféus.



segunda-feira, 15 de março de 2021

Beyoncé se torna a mulher mais premiada da história do Grammy

 



Beyoncé ganhou 4 prêmios (maior número da noite) e se tornou a mulher que mais levou Grammys na história: 28. Com os prêmios dessa noite, ela igualou o feito do produtor Quincy Jones e só fica atrás (por enquanto) do maestro Georg Solti, que ganhou 31.

"Como artistas, é o nosso trabalho refletir a época - e tem sido uma muito difícil”, disse a cantora no Centro de Convenções de Los Angeles, nos EUA. “Então, queria enaltecer, encorajar e celebrar todas as belas rainhas e reis negros que inspiram o mundo inteiro.” É a primeira vez de Beyoncé no Grammy desde quando o disco Lemonade perdeu na categoria Álbum do Ano em 2017. 

“É [um período] tão opressor, trabalhei a vida inteira - desde os nove anos - e não posso acreditar que isso aconteceu em uma noite tão mágica”, acrescentou ela.

Vale lembrar que ela não foi a única da sua família a se consagrar na noite. Sua filha, Blue Ivy Carter, também se tornou a segunda vencedora mais jovem do Grammy, ao conquistar o troféu de Melhor Clipe de Música para “Brown Skin Girl”.

segunda-feira, 8 de março de 2021

8 de Março - Dia Internacional da Mulher

 


Sobre as interseções entre gênero e raça, bell hooks é uma das maiores vozes. No trecho abaixo, hooks fala sobre o discurso de Sojourner Truth, mulher Negra ex-escravizada que respondeu à provocação de um homem branco durante a convenção anual do movimento pelos direitos das mulheres em Akron, Ohio, em 1852. O homem teria dito: "Eu não acredito que você é realmente uma mulher". As feministas brancas também acharam inadequado uma mulher Negra falar publicamente em um evento como aquele. Sojourner Truth, então, encarou todos os protestos de homens E de mulheres brancas e discursou:

"Penso que entre as negras do Sul e as mulheres do Norte, todas estão falando sobre direitos, os homens brancos logo, logo vão ter problemas. Mas sobre o que tudo isso aqui está falando? Que o homem lá fala que as mulheres precisam de ajuda para subir na carruagem, para passar sobre as valas e para ter os melhores lugares [...] e eu não sou uma mulher?
Olhem para mim! Olhem para o meu braço!
Eu lavrei e plantei e juntei os grãos no celeiro e nenhum homem conseguia passar na minha frente - e eu não sou uma mulher?
Eu conseguia trabalhar tanto quanto qualquer homem (quando conseguia trabalho), e aguentar o chicote também - e eu não sou uma mulher?
Pari cinco crianças e vi a maioria delas sendo vendidas para a escravidão, e quando chorei meu luto de mãe, ninguém além de Jesus me ouviu - e eu não sou uma mulher?"
(Sojourner Truth, citada por bell hooks, p. 252-253).


domingo, 21 de fevereiro de 2021

Malcolm X e o "racismo reverso"

 


No dia 21 de fevereiro de 1965, El-Hajj Malik El-Shabazz foi assassinado de maneira brutal e covarde durante um discurso no Harlem. Malcolm tornou-se um mártir na luta contra o racismo e a opressão capitalista. Em um de seus fortes discursos, ele criticou a famigerada e errônea ideia do que chamam de "racismo reverso":

“A imprensa nos chama de racistas e pessoas ‘violentas em sentido inverso’. Eles fazem você pensar que se você tentar parar a Ku Klux Klan em um linchamento, você estará praticando a ‘violência em sentido inverso’. Eu ouço muitos de vocês repetindo o que o homem branco diz. Você diz: ‘Eu não quero ser uma Ku Klux Klan em sentido contrário’. Se um criminoso vem em sua casa para praticar um roubo e você o expulsa com sua arma, isso não faz de você um ladrão. Agora, eu digo que é hora de os negros montarem um tipo de ação, uma unidade, para que não sejamos mais um povo amedrontado. Mas quando dizemos isso, a imprensa nos chama de racistas ao contrário.” 


FONTES: http://www.malcolm-x.org/speeches/spc_021465.htm

Malcolm X Brasil