sexta-feira, 19 de novembro de 2021

O racismo continua ganhando de goleada no Brasil



Dentro e fora de campo, os racistas seguem impunes, amparados por leis criadas por e para homens brancos. As penas contra o Brusque e contra um de seus principais diretores (Júlio Antônio Petermann, o presidente do Conselho Deliberativo do clube no momento do crime), pelas ofensas racistas proferidas ao jogador Celsinho, do Londrina, pela Série B do Campeonato Brasileiro, foram extremamente brandas.

O Brusque havia perdido 3 pontos, mas recorreu ao STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) e teve a pena revertida para apenas um jogo de portões fechados e pagamento de multa. Como se não bastasse a recuperação dos pontos, nesta luta que o Brusque trava contra o rebaixamento para a Série C, o jogo sem torcida vai ficar para 2022, já que não há mais tempo hábil para o cumprimento da pena ainda este ano. A punição, que já era leve desde o início, se tornou irrisória.

Não adianta criar hashtags em placas de publicidade ou em uniformes. Não adiantam "campanhas educativas".  Não adianta se dizer "antirracista" (já tô pegando ranço dessa palavra...) se, na hora em que as instituições que gerem o futebol e a justiça desportiva podem punir exemplarmente os casos de discriminação no futebol, elas se acovardam e dão penas meramente simbólicas. Sempre defendo que qualquer punição a casos de violência no futebol seja direcionada ao clube também, não apenas aos agressores. Só assim, os próprios clubes também se interessem em coibir estas práticas. Até mesmo os outros torcedores ao redor, com medo de perderem o acesso ao estádio, se controlem.

Outro problema está na falta de diversidade nos órgãos diretivos do Brasil. Historicamente, todas as leis beneficiam, direta ou indiretamente, a manutenção do status quo. Nada muda porque não existe vontade de que nada mude de verdade. Os sete auditores (os 2 que votaram pela manutenção da pena e os 5 que optaram pela sua redução) eram homens brancos. Alguns relativizaram, dizendo que a ofensa de Júlio Antônio Petermann não teria sido tão grave assim, como se houvesse uma escala ou parâmetro nos impactos que o racismo pode causar em um homem Negro. 

O próprio Brusque se apressou em defender seu diretor, fazendo o que os racistas rotineiramente fazem: transferindo a culpa do racismo à vítima, com aquele velho e asqueroso discurso sobre "vitimismo". Só voltou atrás e o afastou depois da enxurrada de críticas recebidas por todos os lados. 

Pelo que o STJD deixou transparecer, às vésperas do Dia da Consciência Negra, jogar um copo plástico no campo ou criticá-la publicamente parece ser mais grave que um ato deliberadamente racista de um dirigente contra um jogador no meio de uma partida. O Brusque pode até estar lutando contra o rebaixamento, mas o racismo segue líder e invicto no campeonato.

Os cinco auditores que votaram para diminuir a punição foram: Felipe Bevilacqua, Mauro Marcelo, Luiz Felipe Bulus, Ivo Amaral e Sérgio Martinez.

Sobre o assunto, leia mais detalhes no Blog da Gabriela Moreira no GE.


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