segunda-feira, 28 de março de 2016

Duppy - Festa de Caboclo


Tu entrarás no templo sagrado e encantador
Caboclo sabe onde tem ouro, tem ouro...

Não é só em Zé Pelintra que cê pode confiar
Pra toda má situação, varia de Jah à Oxalá
Agora não emborca na taboca sem ter volta pra chegar
Se tem perna pra correr, fuja do papararapapá! Pow!
Não é na beira mar, não é na beira mar
Que teus pecados terão chance para se purificar
Não é na beira amar, não é na beira mar
Que nessa vibe nem Exu vai segurar !

É na calada! Na calada!
É na calada da noite que a jurema é sagrada
É na calada! Na calada!
É na calada do catimbó que o transe invade sem dizer nada
É na calada! Na calada!
É na calada da noite que a jurema é sagrada
É na calada! Na calada!
É na calada do catimbó que o transe invade pra dizer

Hail! Seja bem vindo a Salvador
Magia negra não te causa dor
Inquice Congolês, Caboclo, Boiadeiro, Biolê, Buré, Kaitumba, Mutalambô
Seja o seu próprio senhor
Largue essa vida de plantar caô
Mundo encantado, tudo gira
Pombagira, Tranca-rua te espera no seu interior

É raizeiro
Sultão das matas
É Pena Branca, Guarani, Mata Serrada
É Sete flechas
Sete Serras
É Serra Negra
Gentileiro
Pedra Preta

Tu entrarás no templo sagrado e encantador
Caboclo sabe onde tem ouro
Convoque o boiadeiro, sem medo e sem rancor
Nordeste é o cativeiro do amor


segunda-feira, 21 de março de 2016

O Dia Internacional Contra a Discriminação Racial e o Massacre de Sharpeville


A data de hoje, 21 de março, passou a ser lembrada como o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial pela ONU devido ao assassinato de 69 pessoas e quase 200 feridos, num ataque promovido pela polícia, em repressão aos protestos contra a Lei do Passe em Sharpeville, na África do Sul.

Segundo essa lei, as pessoas Negras precisariam de uma autorização para circular em determinadas áreas majoritariamente brancas do país, e sua presença era bastante restrita. Caso desrespeitassem, poderiam ser presas.

em 21 de março de 1960, milhares de pessoas saíram às ruas para um protesto pacífico contra essa lei absurda, apenas uma das várias facetas do racismo perpetrado pelo sistema do Apartheid sul-africano, quando foram duramente reprimidas pela polícia que, sem nenhum aviso prévio, atirou contra homens, mulheres e crianças desarmadas.

Sharpeville mostrou que a luta contra o racismo e contra o status quo deve ser contínua. Jamais devemos baixar a cabeça ou obedecer às leis injustas. Décadas se passaram e incontáveis vidas foram perdidas, até que a África do Sul pudesse, finalmente, ser livre, embora as chagas do racismo ainda estejam presentes lá, aqui e em qualquer lugar do mundo.




domingo, 13 de março de 2016

Causas x Consequências

Por que não ver o mundo de outra forma?


A gente passa muito tempo discutindo as consequências das coisas, e acaba esquecendo de discutir as causas.
Você já parou pra pensar no motivo de existirem cotas? Já se preocupou em entender por que existem tantas formas de racismo pelo mundo ao longo da história? 
Já notou que, mesmo num país tão diverso como o Brasil, apenas um tom de pele é exposto pela mídia, na televisão, em jornais, revistas, filmes e novelas (exceto quando o tema é a escravidão ou a criminalidade)?
Já procurou entender o verdadeiro significado da palavra "Representatividade"?
Pois é, amigo... Tudo o que eu citei acima são CONSEQUÊNCIAS! 
Querer entender as consequências, sem ter a boa vontade de problematizar as causas, é como começar a ler um livro pela última página!

quinta-feira, 10 de março de 2016

SOJA - Everything Changes (Tradução)



O que nós realmente precisamos
Nessa vida?
As vezes eu olho pra mim mesmo
E sinto que não está certo

Pessoas lá fora sem
Comida à noite
E nós dizemos que nos importamos, mas nós não nos importamos
Então todos mentimos

E se existisse mais do que isso
E um dia nós
Nos tornássemos o que nós fazemos
Não o que falamos?

E nós terminássemos
Nessa merda toda em que eles estão
E os papéis fossem invertidos
E fosse diferente

E nós fossemos aqueles
Sem nada para comer
Nós fossemos aqueles
Com sangue nas nossas ruas

Nós fossemos aqueles
Com toda a descendência
E eles fossem aqueles
Que só assistem a TV

Nós fossemos aqueles
Quebrados e despedaçados
Com nossas vidas nas costas
E nossa esposa nos braços

E eles fossem aqueles
Que diziam "caramba, isso é tão triste"
Nós fossemos
Aqueles...

Nada nunca mudará
É a única coisa que eu sei
Que nada nunca mudará
Olhando por esse lado
Nada nunca mudará
Nada nunca mudará

Falcão:
Olhe pros seus sonhos suas intenções
Abra sua cabeça pra seus corações
Transformar algumas centenas em milhões
Pois, todos unidos somos então nações
Nem se ele estiver no sonho e eu também
Imagino quase é sempre o melhor pra alguém
Tipo nessa vida não se descontrolar
Dormir à noite com o assassino é melhor não se revoltar
Agora, trouxa, olha pros seus pesadelos
E ainda não ainda são seus piores medos
Há mestiços, brancos e negros
Gringos, negros, gringos e negros
Olha que você é obrigado a votar
Sua chance no Brasil é de alguém te conquistar
Oooh
De alguém te conquistar

Nada nunca mudará
Pelo menos é assim que nós agimos
Como se nada nunca mudasse
Como se Deus nos desse cobertura
Como se nada nunca mudasse
Estou olhando por esse lado
E eu posso ver que essa dor, sim
Só vai crescer

Sonho e intenções
Centenas em milhões
Unidos somos então nações
Milhões
Também
Melhor pra alguém

Talvez nós precisemos
De mais calçados nos nossos pés
Talvez nós precisemos
De mais roupas e TV's

Talvez nós precisemos
De mais dinheiro e joias
Ou talvez nós não sabemos
O que precisamos

Talvez nós precisemos
Querer consertar tudo isso
Talvez parar de falar
Talvez começar a escutar

Talvez nós precisemos
Olhar para esse mundo
Menos como um quadrado
E mais como um círculo

Talvez, apenas talvez
Deus não seja injusto
Talvez nós sejamos todos Seus filhos
E ele esteja lá em cima

Talvez ele nos ame
Por todas as nossas raças
Talvez ele nos odeie
Quando somos tão racistas

Talvez ele nos olhe
Quando não nos importamos
E o céu seja bem aqui
Mas é o inferno do lado de lá

E talvez os mansos
Herdarão a Terra
Porque isso já foi escrito antes

Então tudo muda
E nada permanece o mesmo
E tudo muda
E se você se sente envergonhado
Talvez você devesse mudar isso
Antes que seja tarde demais
Talvez você devesse mudar isso
Meu irmão, nós estamos empacados no portão

Tudo muda, muda, muda...
Muda, muda, muda...
Tudo muda, muda, muda...
Tudo muda


sábado, 5 de março de 2016

O Despertar das Forças!

Finn no topo do mundo!

"Há muito tempo atrás, numa galáxia muito distante..."

Por alguma razão que desconheço, as fábricas de brinquedos ignoram o fato de que as crianças Negras também brincam, também sonham em ser seus personagens favoritos e também gostariam de se sentir representadas. Também ligam a TV em determinado horário ou vão ao cinema pra ver alguém com quem elas possam criar um vínculo qualquer que as aproximem de seus heróis.

As coisas vêm mudando positivamente nas últimas décadas, com a introdução cada vez maior de personagens diferentes do padrão hegemônico (homem, branco, heterossexual, cristão, bilionário etc.) nas histórias em quadrinhos, nos filmes, nas séries e na publicidade, de maneira geral. Lógico que ainda estamos a anos-luz do nosso objetivo, mas é melhor andar devagar do que passar a vida inteira parado. Quando eu era criança, isso não era tão frequente. Tive dezenas de bonecos de super heróis, quase todos brancos. Minha infância não foi ruim por isso, mas é lógico que poderia ter sido melhor, me ajudaria a me conhecer melhor e me aceitar desde cedo. Não importa o que digam, é gratificante ser associado a uma coisa boa, isso fortalece a autoestima.

A franquia Star Wars não aborda a temática racial, até porque as histórias se passam em outra galáxia, com seres alienígenas de todas as espécies, e alguém ser tratado diferente apenas por causa da cor da pele seria absurdo. O que torna ainda mais estranha a violenta reação de algumas pessoas, quando o ator Negro John Boyega foi anunciado como um dos protagonistas da nova série de filmes. Chegou-se a criar uma tentativa (fracassada) de boicote ao filme e aos seus produtos. As reações também foram violentas à mudança de etnia do Johnny Storm, o Tocha Humana, no Quarteto Fantástico, antes mesmo de saber que o resto do filme seria realmente ruim (não por causa da atuação de Michael B. Jordan, é bom frisar).

Como eu adoro contrariar essa gente, já estava decidido a comprar o boneco oficial do Finn, personagem de Boyega em Star Wars: O Despertar da Força (2015) e colocá-lo na minha sala, ao lado das esculturas dos deuses africanos Xangô e Ísis, e continuo esperando o lançamento do Pantera Negra, um dos personagens da Marvel que eu mais admiro, por ser o rei de uma nação africana muito poderosa, que desafia toda a lógica eurocêntrica e colonial. Previsto para ser lançado em 2018, Pantera Negra, que será protagonizado por Chadwick Boseman, já teve sua primeira "polêmica" devido à decisão da Marvel de escalar um diretor Negro (Ryan Coogler foi o escolhido) e um roteiro que enfoque questões geopolíticas e, claro, questões raciais.

É preciso lembrar, no entanto, que ainda se faz necessária uma inclusão maior de personagens femininas Negras no mundo dos heróis, e outros brinquedos voltados para as meninas que não se apeguem apenas ao lar. Por que bonecos "para meninos" são heróis e as bonecas "para meninas" são bebês, cada vez mais parecidos com pessoas reais? Os brinquedos devem ter uma função lúdica, interativa e até mesmo educativa, não um treinamento para a maternidade. Com todas as discussões que ganham força ultimamente, é bem provável que as crianças de um futuro não tão distante sejam melhores que grande parte dos adultos do presente.



terça-feira, 1 de março de 2016

O discurso de Chris Rock e a falta de diversidade no Oscar

"Estou aqui no Oscar, também conhecido como o Choice Awards dos brancos".

Como de costume em assuntos polêmicos, sempre prefiro aguardar algum tempo, antes de emitir uma opinião. O tempo é necessário para que evitemos equívocos ou excessos, motivados pelo calor do momento.
Pois bem...

O cinema é um dos maiores meios de divulgação de uma cultura para o mundo, algo que os Estados Unidos fazem magistralmente há décadas. É através dos filmes que o american way of life é difundido para ser contemplado como a "terra das oportunidades", pelos outros países e pelo seu próprio povo. Esse é o motivo da representatividade ser tão importante. É por isso que desejamos ver protagonistas Negros, mulheres, LGBT e quaisquer outras categorias vistas como "minorias", expressão que eu, definitivamente, não abraço.

Devido à grande repercussão, pelo fato de artistas como Spike Lee e o casal Will e Jada Pinkett-Smith terem boicotado a cerimônia em protesto à sua falta de diversidade, já que nenhuma pessoa Negra foi indicada a nenhuma categoria pelo segundo ano consecutivo, o discurso de abertura de Chris Rock, o apresentador do 88º Oscar, era muito aguardado.

O humor ácido e sutil de Rock é sua marca registrada e ele atuou como uma espécie de mediador, como sua função de hoster pedia, mas sem deixar de se posicionar enquanto um pontinho preto cercado por centenas de pontinhos brancos. Tal fato pode ser evidenciado pela sua frase de abertura: " Uau, cara! Contei umas quinze pessoas Negras ali fora!" 

Muita gente não entendeu de imediato as críticas que ele fez durante a sua fala (daí a necessidade do tal tempo pra digerir as informações) e muitos se precipitaram em dizer que ele fez o "jogo dos brancos", que ficou em cima do muro, que foi egoísta etc., mas eu não vejo dessa forma. Uns o criticaram por, aparentemente "pegar leve" demais, e outros, por ter sido duro demais com algumas piadas, principalmente nas suas referências ao extermínio de Negros promovido pela Ku Klux Klan. De fato, foi pesado (e deveria ser, não tem como suavizar uma tema como esse), mas eu vejo isso como o método que ele encontrou pra atingir seu objetivo, passar a mensagem sem ataques diretos e ao mesmo tempo, sem deixar de ser quem sempre foi. Aquela história de "toda brincadeira tem um fundo de verdade", sabe como é?

Independente das críticas que se possa fazer ao monólogo de Chris Rock, fato é que ele teve mais de 10 minutos pra falar a milhões de pessoas e contextualizar os fatos que o levaram a estar ali naquela noite. Teve a segregação racial dos anos 1950/60, as variadas formas de violência imposta aos Negros ("estávamos muito ocupados sendo linchados e estuprados, para nos importar sobre quem era o melhor cinematografista") e até os atuais casos de assassinatos de Negros pela polícia, ao sugerir que a sessão In Memorian deste ano tivesse apenas Negros que foram baleados por eles a caminho de seus filmes. Próximo ao final do discurso, Rock foi mais direto e tocou no ponto central de toda a discussão: o que nós queremos são OPORTUNIDADES! Não uma, mais várias. Que os atores e atrizes Negrxs possam assumir um protagonismo maior e possuam uma maior gama de personagens, além daqueles tipos estereotipados que já conhecemos bem. Isso perpassa pelo incentivo a diretores/as, roteiristas e produtores/as Negrxs, que retratem núcleos Negros em seus filmes, que incluam famílias Negras, pares românticos Negros...

Apesar de tudo, mesmo concordando com a afirmação de Chris Rock, com todas as letras, de que Hollywood é mesmo racista, não há como negar que os tempos estão mudando. Não foi a primeira vez que pessoas Negras foram "esquecidas" nas indicações, mas toda essa repercussão mostra que isso sempre esteve errado, e as pessoas não estão mais dispostas a aceitar pacificamente. Acredito que não vai mais acontecer com tanta frequência depois disso, porque, se acontecer, a reação vai ser ainda maior. Nossa luta por representatividade chegou pra ficar.