quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Novo Código da FIFA permite que árbitros terminem o jogo em caso de racismo

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Juízes poderão até mesmo atribuir a derrota ao time infrator após “procedimento de três etapas”.
A Fifa tornou público seu novo Código Disciplinar. E a luta contra o racismo é um dos pilares. A partir de agora os árbitros podem suspender um jogo de futebol por incidentes racistas. E até mesmo encerrar a partida e atribuir a derrota ao time infrator.
Essa medida, entretanto, só será posta em prática após o juiz aplicar o “procedimento de três etapas” para tais incidentes: solicitar um anúncio público para exigir que tal comportamento pare, suspender o jogo até que essas atitudes cessem e, finalmente, abandonar a partida definitivamente.
– A Fifa não decepcionará as vítimas de abuso racista – disse o órgão em um comunicado, salientando que o novo código, elaborado após consulta das seis confederações de futebol e outras entidades relacionadas, entra em vigor a partir de segunda-feira apenas nas competições oficiais da entidade, incluindo as Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022 no Catar.
A Fifa também estipulou castigos mais pesados para jogadores e outras pessoas do meio do futebol que que se envolvam em casos de racismo, aumentando de cinco para dez jogos o período de suspensão. E também vai abrir um canal de juízes para ouvirem as vítimas de racismo e discriminação.
Mais mudanças
O código atualizado da Fifa, que não sofria mudanças consideráveis há pelo menos 15 anos, expande o escopo do que é considerado comportamento discriminatório para qualquer coisa relacionada a “raça, cor da pele, origem étnica, nacional ou social, gênero, deficiência, orientação sexual, idioma, religião, opinião política, riqueza, nascimento ou qualquer outra status ou qualquer outro motivo “.


O código também inclui a opção de impor proibições de transferência em clubes que inadimplente em dívidas em processos feitos pela Fifa e pelo Tribunal de Arbitragem do Esporte (CAS).
As mudanças surgem depois de vários incidentes do tipo na temporada passada. A Inter de Milão recebeu ordens para jogar dois jogos em casa a portas fechadas, depois de os seus torcedores terem insultado o zagueiro Kalidou Koulibaly, do Napoli. Koulibaly, que recebeu um cartão vermelho por demonstrar dissidência, foi suspenso por duas partidas, provocando críticas de que a vítima estava sendo punida.
A seleção de Montenegro também recebeu ordens da Uefa para disputar um jogo em casa a portas fechadas, como parte das sanções aplicadas ao comportamento racista de seus torcedores durante uma partida contra a Inglaterra.
Fonte: Globo Esporte

terça-feira, 6 de agosto de 2019

Morre Toni Morrison, primeira Negra a vencer o Prêmio Nobel de Literatura


A escritora Toni Morrison (Lorain, Ohio, 1931), premiada em 1993 com o Prêmio Nobel de Literatura, faleceu, segundo confirmou um amigo à agência AP. Comprometida com a luta contra a discriminação racial, ela foi a primeira afro-americana a receber o Nobel. A academia sueca baseou sua decisão em conceder-lhe o prêmio no fato de que "com sua arte narrativa impregnada de força visionária e poesia, ela oferece uma pintura viva de um aspecto essencial da realidade americana".
A escritora, batizada como Chloe Anthony Wofford, nasceu em uma família humilde. Filha de um operário e de uma dona de casa, ela mesma trabalhou como empregada doméstica na adolescência. Em seguida, formou-se em Filologia Inglesa e trabalhou como editora da Random House em Nova York. Foi quando publicou seu primeiro romance e criou seu novo nome, recuperando o apelido que lhe davam na família e adotando o sobrenome de seu ex-marido: Toni Morrison.
Morrison marcou a história da literatura, não apenas por ter sido a primeira mulher Negra a receber o Prêmio Nobel, mas também pelo Prêmio Nacional da Crítica pelo romance Song of Solomon (1977), o Pulitzer por Amada (1987), pelo sucesso de público e crítica com Jazz (1992) e ao tornar-se membro da Academia Americana de Artes e Letras e do National Arts Council.
Os romances de Morrison são considerados um relato da história sociopolítica de sua raça que está entrelaçada com a de seu país: a dos negros escravizados, a dos afro-americanos e a das influências recíprocas entre eles e o resto da sociedade. “O que eu faço é remover os curativos para que a cicatriz seja vista, a realidade. Não devemos ter medo de olhar para o passado porque só assim sabemos quem somos”.
Toni Morrison começou a publicar em 1970, com 39 anos. Após a estreia tardia, com O olho mais azul, a escritora não parou mais. Com seis romances publicados, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. O Nobel foi como uma faísca que iluminou seu lado mais criativo, porque, desde então, Morrison não parou de explorar novas formas de escrever, de investigar os rastros da História e de dialogar com os leitores.
Fonte: El País Brasil

CINCO GRANDES LIVROS DE TONI MORRISON

O olho mais azul (1970) Em seu romance de estreia, Morrison parte da realidade de uma garota desafortunada para construir o retrato de uma infância truncada, além de abordar diversos aspectos, como o conceito de beleza imposta ou a voz feminina.
Sula (1973) é uma obra situada em uma fictícia colina de algum local de Ohio (EUA), onde vive uma comunidade fundamentalmente negra, pobre e sem esperança, através da qual a romancista expressa uma de suas preocupações essenciais: o status das mulheres negras nos Estados Unidos, discriminadas pela sociedade e pelo Estado, abandonadas, abusadas e abusadas educação para cuidar de suas filhas e em casa.
Song of Solomon (1977) é a história familiar de um empresário próspero que tentou esconder suas origens para integrar-se à sociedade branca.
Tar Baby (1981) narra a chegada de um náufrago negro à costa de uma idílica ilha caribenha de mansões oníricas em que a vida dos milionários corre pacificamente entre servos e opulência.
Amada (1987) foi o livro mais célebre da romancista. Ambientado na Guerra da Secessão Americana, o romance é baseado na vida da escrava afro-americana Margaret Garner, que fugiu do Estado escravista de Kentucky em janeiro de 1856 para Ohio, onde essa a escravidão havia sido abolida.

sábado, 3 de agosto de 2019

Medalhista do boxe é proibida de falar sobre racismo e empoderamento


Jucielen Romeu recebe a medalha de prata no boxe do Pan - Wander Roberto/COB



Medalhista de prata nos Jogos Pan-Americanos, Jucielen Romeu foi censurada quando se prontificou a falar sobre racismo e empoderamento feminino. O veto partiu do treinador-chefe da seleção brasileira, Mateus Alves, assim que a reportagem citou a vontade de conversar com ela sobre o tema e a lutadora assentiu que sim com a cabeça. Juci, como é conhecida no meio do boxe, é terceiro sargento do Exército Brasileiro. "Ela não pode falar disso. Está proibida. A seleção não é lugar para falar dessas coisas. Ela não pode falar desse tipo de coisa. Não pode falar de política", disse ele, se colocando à frente da atleta na zona mista do Coliseo Miguel Grau em Callao, cidade vizinha a Lima, no Peru.

Jucielen costuma se posicionar sobre temas como feminismo e racismo. Ela começou a lutar aos 12 anos na academia Macedo & Macedos Boxe, em Rio Claro (SP), instruída pelo técnico Breno Macedo. Breno é formado na escola italiana de boxe, essencialmente antifascista, que entende a nobre arte como um direito social e plataforma de cultivo de valores como o antirracismo, antifascismo e o combate à discriminação. Mulher, negra, e crescida na periferia, Jucielen foi formada dentro dessa escola. Desde 2017, porém, ela faz parte da seleção olímpica permanente, um polêmico projeto da Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe) que tira os melhores atletas do país (normalmente um por categoria) e os colocara para morar e treinar em São Paulo sob o comando de uma comissão técnica também permanente. Foi contra esse projeto que a medalhista olímpica Adriana Silva se posicionou após o bronze em Londres-2012.

"Ela é da seleção, não é do clube", reforçou o técnico da seleção quando a reportagem tentou entrevistar Jucielen. Depois, por Whatsapp, quando o UOL Esporte pediu para Mateus um comentário adicional, ele respondeu que não faria comentários, "apenas para dizer que nos interessa o boxe". Procurado, o Comitê Olímpico do Brasil negou que haja censura na delegação. "A única orientação que temos é a carta olímpica. Não há qualquer censura por parte do COB", informou o comitê, por nota.

Fonte: UOL Esporte