domingo, 26 de dezembro de 2021

Morre Desmond Tutu, Prêmio Nobel da Paz e símbolo da luta contra o Apartheid

 


Morreu aos 90 anos o arcebispo sul-africano Desmond Tutu, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1984 por sua luta contra o apartheid na África do Sul. A informação foi confirmada pelo presidente do país, Cyril Ramaphosa, neste domingo (26).

"A morte do arcebispo emérito Desmond Tutu é outro capítulo de luto no adeus de nossa nação a uma geração de sul-africanos excepcionais que nos deixou uma África do Sul liberta", disse Ramaphosa.

“Desmond Tutu era um patriota sem igual; um líder de princípio e pragmatismo que deu significado à compreensão bíblica de que a fé sem obras está morta", continuou o presidente.

O apartheid foi um regime segregacionista que vigorou na África do Sul de 1948 a 1991, que separava pessoas negras das brancas e dava às últimas domínio do poder político e econômico no país.

Ativista pelos direitos humanos, o arcebispo falava sobre a ocupação do território palestino por Israel, direitos da população LGBTQIA+, mudanças climáticas e outros assuntos de relevância mundial.

Tutu deixa a esposa, Nomalizo Leah, e quatro filhos.

Tutu e Mandela





Luta contra o racismo

Em 1984, Tutu recebeu o Nobel da Paz por sua oposição não violenta ao apartheid. Uma década mais tarde, ele testemunhou o fim do regime e presidiu a Comissão da Verdade e da Reconciliação, criada para revelar as atrocidades cometidas durante aqueles dias sombrios.

Tutu comandou numerosas marchas e campanhas para acabar com o apartheid nos degraus da entrada da Catedral de São Jorge, e em resultado disto esta se tornou conhecida como a "Catedral do Povo" e um símbolo poderoso da democracia local.
Ele foi amigo de toda a vida de Nelson Mandela, e durante algum tempo morou na mesma rua do município sul-africano de Soweto -- a única rua do mundo que abrigou dois ganhadores do Prêmio Nobel da Paz.

"Sua qualidade mais característica é sua prontidão para adotar posições impopulares sem medo", disse Mandela certa vez a seu respeito. "Tal independência de mente é vital para uma democracia vicejante".
A morte de Tutu ocorre poucas semanas depois da morte do último presidente da era do apartheid na África do Sul, FW de Clerk, que morreu aos 85 anos.

O presidente Ramaphosa disse que Tutu era "um líder espiritual icônico, ativista anti-apartheid e ativista global dos direitos humanos".

Ordenado sacerdote em 1960, serviu como bispo do Lesoto de 1976-78, bispo assistente de Joanesburgo e reitor de uma paróquia em Soweto.

Fonte: G1

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Sugestão de leitura: Os Jacobinos Negros, de C.L.R. James

 


"Em agosto de 1791, passados dois anos da Revolução Francesa e dos seus reflexos em São Domingos, os escravizados se revoltaram. Em uma luta que se estendeu por doze anos, eles derrotaram, por sua vez, os brancos locais e os soldados da monarquia francesa.

Debelaram também uma invasão espanhola, uma expedição britânica com algo em torno de sessenta mil homens e uma expedição francesa de semelhantes dimensões comandada pelo cunhado de [Napoleão] Bonaparte. A derrota da expedição de Bonaparte, em 1803, resultou no estabelecimento do Estado Negro do Haiti, que permanece até os dias de hoje." (p.15)

"Os Jacobinos Negros - Toussaint L'Ouverture e a revolução de São Domingos", de C.L.R. James, trata sobre a única revolução que ocorreu em solo americano, se considerarmos o conceito literal da palavra. O Haiti foi a única nação onde ex-escravizados derrotaram seus senhores e assumiram o poder, deixando de ser colônia e proclamando uma República.


O Haiti se tornou um símbolo de esperança para as populações Negras da América do século XIX e o terror das potências mundiais, que não reconheceram sua independência, promoveram longos boicotes e destruíram o país completamente. Os reflexos disso são sentidos até hoje. Não é por acaso que o Haiti ainda é um dos países mais pobres do mundo.

A Revolução Haitiana é mais um dos capítulos da História que não tem o reconhecimento que merece, pois seus ecos ainda tiram o sono de muita gente...





quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Morre a escritora bell hooks, aos 69 anos

 


A escritora feminista negra bell hooks  morreu hoje (15), aos 69 anos. A intelectual norte-americana já estava doente há algum tempo e faleceu em sua casa, em Berea, cercada de parentes e amigos. A passagem de bell hooks foi divulgado por sua sobrinha Ebony Motley, em um comunicado à imprensa. 


Glória Jean Watkins (seu nome de registro) nasceu em 25 de Setembro de 1952, em Hopkinsville, Kentucky, quarta filha entre 7 irmãos. O nome "bell hooks" foi inspirado na sua bisavó materna, Bell Blair Hooks. A letra minúscula é um posicionamento pessoal da autora que busca dar enfoque ao conteúdo da sua escrita e não à sua pessoa.


Seu primeiro livro "E eu não sou uma mulher? Mulheres negras e feminismo" foi publicado em 1981. Ao longo de sua carreira ela publicou mais de 40 livros, incluindo ensaios, poesia e livros infantis. Entre os temas tratados em sua obra destacam-se feminismo, racismo, cultura, papeis de gênero, amor e espiritualidade. 

Mestre em Língua Inglesa pela Universidade de Stanford e doutora em Literatura pela Universidade de Winsconsin, bell hooks chegou a frequentar escolas segregadas na infância. Em 2004, a autora retornou ao seu estado natal, Kentucky, para lecionar na Universidade de Berea. Em 2010, a instituição abriu o Instituto bell hooks, que abriga sua coleção de arte afro-americana, objetos pessoais e cópia de livros publicados em outros idiomas. O acervo já foi visitado por feministas históricas de jovens, como Gloria Steinem e Emma Watson.

Fonte: IG Delas

Veja também:

E eu não sou uma mulher?





terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Rebelião Escrava no Brasil, de João José Reis



 "Na noite do dia 24 para 25 de janeiro de 1835, um grupo de africanos escravos e libertos ocupou as ruas de Salvador, Bahia, e durante mais de três horas, enfrentou soldados e civis armados. Os organizadores do levante eram malês, termo nagô pelo qual eram conhecidos na Bahia os africanos muçulmanos."

"Rebelião Escrava no Brasil", de João José Reis, é o estudo mais aprofundado sobre a Revolta dos Malês.  Muito importante ter referências próximas sobre nossa história, porque, mesmo apesar dos lentos avanços do ensino de História desde a Lei 10.639/03 e da Lei 11.645/08, que obrigam o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena, os livros didáticos e a própria historiografia tida como "clássica" ainda prioriza os acontecimentos das populações brancas do Sudeste.

Sou fascinado pela história da Bahia, principalmente a de Salvador, mas só pude ter mais contato com ela quando tive disciplinas na universidade. Por isso, nunca perco a oportunidade de falar um pouco sobre o assunto aos meus alunos, pra que eles possam ver a cidade e a si mesmos de outra forma.

Chamamento ao Povo Brasileiro, de Carlos Marighella



 "Não pretendo nada, 

Nem flores, louvores, triunfos.

Nada de nada.

Somente um protesto, 

Uma brecha no muro, 

E fazer ecoar,

Com voz surda que seja, 

E sem outro valor, 

O que se esconde no peito,

No fundo da alma

De milhões de sufocados.


A passagem subiu,

O leite acabou,

A criança morreu,

A carne sumiu,

O IPM prendeu,

O DOPS torturou, 

O deputado cedeu,

A linha dura vetou,

A censura proibiu,

O governo entregou,

O desemprego aumentou,

O Nordeste encolheu,

O país resvalou.


Tudo dó,

Tudo dó,

Tudo dó...

E em todo país

Repercute o tom

De uma nota só...

De uma nota só."

(Carlos Marighella - "O país de uma nota só")


Chamamento ao Povo Brasileiro é uma reunião de artigos, livros, cartas, poemas e manifestos escritos por Carlos Marighella, organizados por Vladimir Safatle e publicados pela Ubu Editora.

Ainda ganhei dois ingressos pra assistir ao filme de Wagner Moura em qualquer cinema do Brasil (com algumas exceções). O problema é achar algum que ainda esteja passando em horário acessível...

#Marighella #Livros #Cinema