domingo, 27 de dezembro de 2020

O Monumento à Renascença Africana

 


Localizado em Dakar, capital do Senegal, o Monumento à Renascença Africana é um dos maiores do mundo, com 49 metros de altura (cerca de 10 metros a mais que o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro), custou US$ 27 milhões e foi erguido a pedido do presidente Abdoulaye Wade para marcar os 50 anos da independência do país, sendo inaugurada em 04 de abril de 2010. 

A obra é feita de bronze, fica no topo da Colline des Mamelles, e foi desenhada pelo arquiteto senegalês  Pierre Goudiaby,  para simbolizar o horizonte de prosperidade para a família africana após a libertação colonial. É uma das maiores atrações turísticas do Senegal, bem como de todo o continente africano. 

A despeito das críticas quanto ao valor gasto para sua construção, às acusações de que a estátua é "soviética" demais (foi construída por uma empresa norte-coreana) e contrária ao islamismo, religião predominante no país, o Monumento à Renascença Africana é um símbolo imponente do potencial africano. Uma maneira de mostrar que a África pode e deve caminhar por si mesma, aprendendo com o passado, mas caminhando para o futuro, como o Sankofa. 

domingo, 20 de dezembro de 2020

Martin Luther King e os "brancos moderados"

 



"Nos anos recentes, eu percebi que os brancos moderados são normalmente pessoas que impedem o progresso, pois elas são comprometidas somente de maneira moderada, e toda vez que você age para resolver um problema, elas respondem falando: 'você está indo rápido demais', 'você tem que relaxar', 'você deve pisar no freio'.


E acabam mais devotos à ordem do que à justiça, e mais devotos a manter o tipo de paz negativa, que é meramente a falta de tensão, do que ganhar uma paz positiva, que é a presença de justiça.

Elas podem sempre te falar que você deve esperar por um momento mais conveniente.


E eu vejo que, normalmente, essas são as pessoas que ficam no meio do caminho, porque elas se aproximam o suficiente de você para pelo menos discutir seus planos, e elas são amigáveis o suficiente para você pelo menos ter um diálogo com elas, mas elas querem impedir todos os movimentos de progresso.


Eu acho que, em certos momentos, é preferível uma rejeição direta e desentendimento de pessoas de má fé do que ter aceitação morna de pessoas de boa fé." 


(Martin Luther King Jr., em entrevista a David Susskind, 9 de junho de 1963)

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Dica de Filme: A Voz Suprema do Blues

 


"A Voz Suprema do Blues" é marcante por ser o último filme de Chadwick Boseman, nosso eterno Pantera Negra, mas é muito mais que isso.


Inspirado em uma peça de teatro de August Wilson, produzido por Denzel Washington e protagonizado por Viola Davis no papel de Ma Rainey,  e Chad como o trompetista Levee, o filme se passa durante as gravações de um disco da "Mãe do Blues",  durante uma tarde quente de Chicago, em 1927.


Questões como racismo, machismo e a exploração dos músicos Negros pelos brancos estão presentes. O diretor  do filme, George C. Wolfe, conseguiu captar o calor claustrofóbico do estúdio e explorou bastante o aspecto teatral do material de origem, inclusive com monólogos sensacionais. A banda também é maravilhosa e, no documentário extra, é dito que todos os atores estão tocando de verdade. Aprenderam do zero!


Sem exagero, considero esta a melhor atuação de Chadwick Boseman, principalmente se lembrar que ele já estava em estágio avançado de câncer. Vocês vão entender o que quero dizer quando assistirem. As falas dele soam quase como uma despedida. Minha admiração por ele ficou ainda maior!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

10 anos de Ufanisi!

Em meio a pandemia, genocídios e governos ditatoriais, este blog completa 10 anos! No dia 14 de dezembro de 2010, alguns meses depois do fim da primeira Copa do Mundo de futebol realizada em solo africano, comecei o Ufanisi ("Prosperidade", no idioma Swahilli) como uma maneira de canalizar, mesmo que despretensiosamente, notícias, músicas, poesias ou qualquer outra coisa que servisse como inspiração às pessoas Negras. Algo diferente do que a mídia tradicional sempre fala aqui, nos EUA, no continente africano ou em qualquer outro lugar.
 Através do Ufanisi, conheci muita gente, aprendi bastante, inspirei e fui inspirado. Nem sempre me dediquei como gostaria, mas levo este veículo sem pressa e sem pressão. Gosto de seguir o velho provérbio africano: "Até que os leões tenham suas próprias histórias, os contos de caça glorificarão sempre o caçador".
Nunca imaginei que isso fosse durar tanto tempo! 
Enfim... só me resta agradecer e torcer por dias melhores do que estes que ainda estamos vivendo em 2020.

Gill Nguni



O fato histórico que conta

 

Abdias Nascimento 

"A maliciosa artificialidade do argumento, apresentando a estratificação social como oposta à racial, não resiste à mais superficial análise, já que era o fator racial que determinava a posição social. Foram escravizados os africanos (Negros), e não os europeus (brancos). Este é o fato histórico que conta." 

(Abdias Nascimento, "O Genocídio do Negro Brasileiro - Processo de um Racismo Mascarado", p. 66).

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Sugestão de leitura: "Entre o Mundo e Eu", de Ta-Nehisi Coates

 



Quando eu soube que Ta-Nehisi Coates seria o novo roteirista das HQ do Pantera Negra, fui procurar saber um pouco mais sobre ele e conheci este livro. Ironicamente, Ta-Nehisi  é filho de um veterano de guerra e ex-membro do Partido dos Panteras Negras, William Coates. 

Em "Entre o Mundo e Eu", Coates escreve como se fosse uma carta para o filho, que tinha acabado de completar 15 anos. Relembra sua infância em Baltimore e discute as grandes tensões raciais dos EUA.

Questiona o que é estar em um corpo Negro que, no passado, foi explorado pela escravidão e pela segregação e, nos dias atuais, é ameaçado, encarcerado e assassinado.

Meu filho só tem 3 anos, mas acho que todo pai ou mãe de uma criança Negra se pergunta sobre como tratar de questões tão vitais e, ao mesmo tempo tão complexas. Todos nos preocupamos com o futuro deles nesse mundo brankkko e abertamente racista, independentemente do espectro político no poder. Sabemos que existe "a pele alva e a pele alvo", como diz Emicida e como os jornais nos lembram diariamente.

No fim das contas, desejamos que nossos filhos tenham uma vida melhor e menos complicada que a nossa, por isso, como todo bom professor, apontamos caminhos, ao invés de oferecer respostas prontas.

domingo, 15 de novembro de 2020

Lewis Hamilton é heptacampeão mundial de Fórmula 1!

 


Assisto Fórmula 1 desde criança. Lembro até hoje do vácuo que senti depois da morte de Ayrton Senna. Lembro também da primeira vez que vi aquele menino Negro estreando na mesma McLaren que me fazia acordar cedo todo domingo, alguns anos antes. 

Foi a chegada de Hamilton que me trouxe a alegria de torcer e me identificar de verdade com alguém nesse esporte totalmente branco e elitista. 

Hoje ele, que já era o maior vencedor da história, também se tornou o maior campeão do mundo,  igualando o recorde de Schumacher. 


The world is yours, Lewis Hamilton! 🏆🏆🏆🏆🏆🏆🏆

domingo, 8 de novembro de 2020

O feito histórico de Kamala Harris

 


A eleição de Kamala Harris é tão importante quanto foi a de Barack Obama, 8 anos atrás. Simbólica e com uma carga maior de responsabilidade que a do próprio Joe Biden.

Primeira mulher, primeira Negra e primeira descendente de imigrantes a se tornar vice-presidente em um país que se diz "a maior democracia do mundo", mas é tão preconceituoso e genocida quanto o nosso. 

 Sempre se espera (e se cobra) mais de uma pessoa Negra. E mesmo que ela a seja melhor do mundo, sempre tem alguém pra colocar um asterisco (olha o exemplo de Lewis Hamilton aí). Sua eleição em meio a uma intensa polarização, no mesmo momento em que Argentina, Chile e Bolívia expurgaram a extrema-direita golpista de seus quadros, nos dá esperança de que esses ventos cheguem até o Brasil o mais rápido possível. 

Desejo-lhe sorte, força e prosperidade pra encarar os desafios, derrubar as barreiras de raça e de gênero e pavimentar o caminho pra escrever uma nova página na história em 2024, já que Biden não tem intenção de concorrer à reeleição.

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Dica de filme: Harriet

 



"Libertei mil escravos. Teria libertado outros mil, se eles soubessem que eram escravos".

Harriet Tubman era uma mulher escravizada que, em 1849, conseguiu fugir para a Filadélfia, onde arrumou emprego e moradia. Harriet trocaria a segurança da liberdade no Norte para voltar a Maryland uma dezena de vezes para libertar outros escravizados. 


Operando na Underground Railroad (Rota Subterrânea) – como ficou conhecido o conjunto de estradas, caminhos e esconderijos secretos usados por escravos e abolicionistas para libertação de pessoas – Harriet comandou missões a seu estado natal para libertar cerca de 70 escravos, entre parentes e amigos. Ela disse que “nunca perdeu nenhum passageiro”, o que lhe rendeu o título de “a mais hábil condutora” das Rotas Subterrâneas. 


  Nos Estados Unidos, ela se tornou mais conhecida por sua participação durante a Guerra Civil Americana (1861-1865), atuando  como professora, cozinheira e espiã, conectando as tropas da União com redes de informações de escravos. Harriet contribuiu diretamente para a libertação de mais de 700 pessoas, além de ajudar na derrota dos Confederados, o que fez a escravidão ser abolida no país. 


Por meio de votação popular, durante o governo Obama, Harriet Tubman foi escolhida pra estampar as notas de 20 dólares, em substituição ao ex-presidente racista Andrew Jackson, mas sua execução não ocorreu em tempo hábil e Donald Trump, grande admirador dele (zero surpresas), adiou a decisão até 2028.

 "Harriet" está em cartaz no Telecine e também é possível achar pra download. 



domingo, 25 de outubro de 2020

Todos os recordes de Lewis Hamilton (até agora)


25 de outubro de 2020 é um dia histórico na Fórmula 1. O dia em que Lewis Carl Davidson Hamilton ultrapassou a marca "inalcançável" de Michael Schumacher e conquistou sua 92ª vitória, assim se tornando o maior vencedor de todos os tempos. O único grande recorde que ainda falta para Hamilton deve ser alcançado ainda este ano, com o heptacampeonato mundial de pilotos, feito que só o alemão detém, por enquanto.


Veja os outros recordes já batidos por Lewis Hamilton:

Melhor estreante da história (9 pódios nas 9 primeiras corridas, sendo 6 poles e 4 vitórias)

Único piloto a vencer pelo menos uma corrida em todas as temporadas que disputou.

Maior número de vitórias (92)

Maior número de pole positions (97)

Maior número de vitórias largando da pole (57)

Maior número de pódios (161)

Maior número de "resultados perfeitos" em uma temporada (pole position, volta mais rápida e vitória "de ponta a ponta") 3 vezes

Maior número de triunfos em um único GP (8 vezes vencedor do GP da Hungria)

Maior número de triunfos em casa (7 vezes vencedor do GP da Grã-Bretanha)

Venceu no maior número de pistas diferentes (ao todo, foram 28 pistas)

Pole positions no maior número de circuitos diferentes (29 no total)

Maior número de largadas na primeira fila (156)

Maior número de corridas lideradas (158)

Maior número de corridas lideradas do princípio ao fim (22)

Além dos diversos recordes de pista e de maior média de velocidade da história.

Lewis Hamilton levou o automobilismo a outro nível e escreveu seu nome na história de forma definitiva, mesmo que todas estas marcas sejam alcançadas algum dia.



quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Boston Celtics anuncia um compromisso de US$ 25 milhões para enfrentar a injustiça racial e as desigualdades sociais

 


O Boston Celtics e a Boston Celtics Shamrock Foundation anunciaram um compromisso multifocal para combater a injustiça racial e a desigualdade social na região metropolitana da cidade de Boston, com ênfase no enfrentamento a questões que impactaram a comunidade Negra, como resultado do longo histórico de casos de racismo sistêmico do país.

O grupo de investidores do Celtics e a diretoria da franquia se comprometeram a investir 25 milhões de dólares nos próximos dez anos, sendo US$ 20 milhões em dinheiro e US$ 5 milhões adicionais para outras ações da NBA que sigam determinações que foram debatidas entre os líderes comunitários e os jogadores e comissão técnica da equipe. Este esforço coletivo foi batizado de Boston Celtics United For Social Justice ("Boston Celtics Unido Pela Justiça Social", em tradução livre).

Os seis pilares definidos nestas reuniões são:

1. Equidade na educação;

2. Oportunidade econômica e empoderamento;

3. Equidade em saúde;

4. Justiça criminal e policial;

5. Quebrar barreiras e construir pontes;

6. Votação e engajamento cívico.

Estes pilares servem como pontos de partida, mas não devem se resumir a isso.

Entre algumas das medidas a serem adotadas pelo fundo na educação, estão a criação de um centro de educação infantil para famílias de baixa renda, o desenvolvimento de um currículo voltado para a história das populações Negras e auxílio à passagem dos jovens do Ensino Médio para a faculdade.

Esforços também serão feitos para a reintegração de jovens infratores e de adultos anteriormente encarcerados ao mercado de trabalho.

Sobre a saúde, o Celtics planeja promover a detecção precoce de condições de saúde que afetam desproporcionalmente as populações Negras dos EUA e desenvolver a criação de unidades móveis de saúde para a realização destes exames. Além disso, pretende estimular o voto, reafirmando a importância cívica deste ato, que não é obrigatório no país.

Todas as medidas adotadas por esta organização deveriam ser realizadas pelos poderes públicos, mas, na ausência ou omissão deles, os esforços seguem coletivos, na intenção de diminuir o abismo social e racial que existe nos EUA e em diversas partes do mundo.

Fonte: Site Oficial do Boston Celtics 

domingo, 30 de agosto de 2020

Lewis e LeBron: As maiores vozes dos esportes na luta contra o racismo e o genocídio

 

Lewis Hamilton
ao vencer o GP da Bélgica hoje, prestando homenagens a
Chadwick Boseman.


O britânico Lewis Hamilton e o estadunidense LeBron James transcendem os limites físicos da área em que atuam e desafiam aqueles que repetem o erro absurdo de que "não se pode misturar esportes e política".
Hamilton carrega há quase 10 anos o fardo de ser "o primeiro (e único) piloto Negro de Fórmula 1". Bate todos os recordes possíveis a cada fim de semana, mas ainda é comum ver "especialistas" de internet questionando sua qualidade e colocando pilotos que não possuem nem a metade dos seus números à sua frente na lista dos "melhores de todos os tempos".
Sofre duras críticas dentro e fora dos paddocks pelo posicionamento firme contra o racismo e a falta de representatividade na Fórmula 1.
Seu constante engajamento possibilitou que sua equipe, a Mercedes, tivesse a primeira mulher Negra e africana a subir no pódio da Fórmula 1 em 70 anos de história, a engenheira do Zimbábue Stephanie Travers, no GP da Estíria. Também abriu o canal de diálogo para que outras ações mais concretas possam ser tomadas, para que este esporte tão elitista possa ser mais inclusivo.

LeBron James
 no triunfo do Lakers sobre o Blazers, também fez o "Wakanda Forever"


LeBron James é um dos maiores atletas da história da NBA e a principal voz na luta contra o racismo, o genocídio da população Negra nos EUA e, mais recentemente, pelo voto, que não é obrigatório por lá. Se manifesta nas partidas, nas redes sociais e nas entrevistas, além de já ter construído escolas em Cleveland, sua cidade natal, e manter diversos projetos sociais. Sua postura combativa incomoda o White Devil e a ala mais "conservadora" dos Republicanos, mas serve de exemplo aos atletas mais jovens e de pressão nas famosas ligas de esportes do país, que reconheceram sua apatia histórica e apoiaram os boicotes dessa semana.
Muitos chegaram a dizer que James fazia essas coisas para se promover, logo ele, um dos atletas mais bem pagos do mundo. Só mais uma tentativa de transformar a questão racial em uma coisa menor do que ela realmente é.
Menção honrosa a
Colin Kaepernick
, que começou um protesto solitário na NFL e pagou com a carreira. Sigo esperando que ele seja inserido novamente em alguma equipe e que a liga de futebol americano peça desculpas pela perseguição a que Kaepernick sofreu.

sábado, 29 de agosto de 2020

Aos 43 anos, morre o ator Chadwick Boseman, o Pantera Negra

 



É com tristeza incomensurável que confirmamos o falecimento de Chadwick Boseman.⁣
Chadwick foi diagnosticado com câncer de cólon em estágio III em 2016 e lutou contra ele nos últimos 4 anos, enquanto progredia para o estágio IV. ⁣
Um verdadeiro lutador, Chadwick perseverou em tudo e trouxe a você muitos dos filmes que você tanto ama. De Marshall a Da 5 Bloods, de August Wilson, Ma Rainey’s Black Bottom e vários outros, todos foram filmados durante e entre inúmeras cirurgias e quimioterapia. ⁣
⁣ Foi a honra de sua carreira dar vida ao Rei T’Challa no Pantera Negra. ⁣ ⁣ Ele morreu em sua casa, com sua esposa e família ao seu lado. ⁣ ⁣
A família agradece por seu amor e orações e pede que você continue respeitando a privacidade deles durante este momento difícil.

Fonte: Facebook de Chadwick Boseman

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Milwaukee Bucks lidera histórico protesto na NBA

 


Neste domingo, 23, foi divulgado um vídeo de Jacob Blake, homem negro de 29 anos, sendo alvejado por policiais brancos no estado de Wisconsin, enquanto caminhava para o seu carro onde estavam seus três filhos. Desde então, o estado segue em uma imensa onda de protestos que já resultaram em algumas mortes e feridos.
O Bucks, time da cidade mais populosa de Wisconsin, anunciou que não entraria em quadra, como forma de protesto à violência policial. O que isso significa? Que os protestos antiracistas na NBA são pra valer. Vai além do simbolismo de ter um escrito na quadra, de ajoelhar durante o hino, colocar nomes bonitos na camisa e tweetar hashtags. É uma forma de mostrar que não se pode mais encarar com normalidade casos e mais casos como esses nos Estados Unidos e no resto do mundo.
Hoje, o Milwaukee Bucks entra pra história da liga. Não é possível jogar basquete em um mundo onde seus irmãos estão sendo mortos, apenas por existirem, por um estado genocida. Assim como o Knicks, franquia do maior mercado dos EUA, que nos anos 50 ameaçou se retirar da liga caso não pudesse utilizar jogadores negros. Hoje é um dia pra se lembrar daqui há 20, 50, 100 anos.

Texto: NBA da Depressão, no Facebook

sábado, 8 de agosto de 2020

Morre a atriz Chica Xavier, aos 88 anos

 

A atriz Francisca Xavier Queiroz de Jesus, a Chica Xavier, morreu, na manhã deste sábado (8), aos 88 anos, no Hospital Vitória, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. A artista morreu às 4h20 em consequência de um câncer. A morte foi confirmada pelo neto Ernesto Xavier.

Nascida na cidade de Salvador e ialorixá na Irmandade do Cercado do Boiadeiro, em Sepetiba, Rio de Janeiro, Chica se consagrou como atriz de teatro, cinema e televisão, em mais de 60 anos de carreira. A atriz era uma grande personalidade da representatividade Negra na arte do Brasil e deixa um imenso legado.

Que o Orum a receba de braços abertos!

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Filmes e séries africanas pra ver na Netflix


Uso Netflix há alguns anos, mas nunca fui muito de pesquisar, só via os títulos que me apareciam ou que alguém me indicava. Só agora resolvi procurar no Google pra saber se existia uma lista organizada de produções africanas e me surpreendi com a quantidade de coisas que eu não sabia que existiam!
Então, resolvi fazer uma lista breve, só pra estimular vocês a procurarem por mais. Um filme te levará ao outro. Os gêneros dos filmes foram feitos pela própria Netflix, tanto que, às vezes, um mesmo filme aparece em mais de uma categoria.

SÉRIES
Queen Sono
Shadow
Tjovitjo
Agent
Na Vida Real
Crazy, Lovely, Cool
Sangue e Água

LANÇAMENTOS
Aprendiz de Mecânico
O Bebê do Elevador
Solteiramente
Devendo pra Máfia
O Roubo do Bem
Skin
Os Sedutores de Abuja 2

FILMES "BESTEIROL"
Lua de Mel à Jamaicana
Blitz Patrollie
The Accidental Spy

THRILLERS
93 Dias
Sylvia
Os Cinco CEOS
A Dívida de Andy
1 de Outubro
The Delivery Boy

COMÉDIAS ROMÂNTICAS
O Casamento de Nicole
The Royal Hibiscus Hotel
A Cozinha Incrível de Anesu
Casamento às Avessas (1 e 2)
A Lei de Okafor

FILMES ROMÂNTICOS
Os Elliots
The Perfect Picture: Ten Years Later
A Ponte
Kasanova
Trocando Celulares

DRAMAS POLICIAIS
Nimbe
Gangster's Paradise: Jerusalema
King of Boys
Uma Luz na Escuridão
Gbomo Gbomo Express

DRAMAS SOBRE QUESTÕES SOCIAIS
Atlantique
O Destino de Amina
Porto Seguro
A Quarta República
In My Country
O Garoto do Espelho


quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Uma breve distinção entre o racismo individual e o institucional

Kwame Ture, nascido Stokely Carmichael, militante pelos direitos civis nos EUA na década de 1960.

Charles V. Hamilton e Kwame Ture explicando a diferença entre o racismo individual e o institucional:

"Quando terroristas brancos bombardeiam uma igreja Negra e matam cinco crianças Negras, isso é um ato de racismo individual, amplamente deplorado pela maioria dos segmentos da sociedade.
Mas quando nessa mesma cidade - Birmingham, Alabama - quinhentos bebês Negros morrem a cada ano por causa de falta de comida adequada, abrigos e instalações médicas, e outros milhares são destruídos e mutilados física, emocional e intelectualmente por causa das condições de pobreza e discriminação, na comunidade Negra, isso é uma função do racismo institucional.

Quando uma famíla Negra se muda para uma casa em um bairro branco e é apedrejada, queimada ou expulsa, eles são vítimas de um ato manifesto de racismo individual que muitas pessoas condenarão - pelo menos em palavras. Mas é o racismo institucional que mantém os Negros em favelas dilapidadas, sujeitas às pressões diárias de exploradores, comerciantes, agiotas e agentes imobiliários discriminatórios.
(Black Power: Politics of Liberation in America)

quarta-feira, 29 de julho de 2020

A naturalização das desigualdades



"Ainda que hoje seja quase um lugar-comum a afirmação de que a antropologia surgida no início do século XX e a biologia - especialmente a partir do sequenciamento do genoma - tenham há muito demonstrado que não existem diferenças biológicas ou culturais que justifiquem um tratamento discriminatório entre seres humanos, o fato é que a noção de raça ainda é um fator político importante, utilizado para naturalizar desigualdades e legitimar a segregação e o genocídio de grupos sociologicamente considerados minoritários".
(Silvio Almeida, Racismo Estrutural, p. 31).


sábado, 25 de julho de 2020

25 de Julho - Dia da Mulher Negra Latina e Caribenha!


O local de nascimento de Tereza de Benguela é desconhecido. Ela pode ter nascido em algum país do continente africano ou no Brasil, mas sua vida faz parte da história pouco contada do Brasil.
Tereza viveu no século XVIII e foi casada com José Piolho, que chefiava o Quilombo do Piolho até ser assassinado por soldados do Estado. O Quilombo do Piolho também era conhecido como Quilombo do Quariterê (a atual fronteira entre Mato Grosso e Bolívia). Esse quilombo foi o maior do Mato Grosso.
Com a morte de José Piolho, Tereza se tornou a líder do quilombo, e, sob sua liderança, a comunidade negra e indígena resistiu à escravidão por duas décadas.
O Quilombo do Quariterê abrigava mais de 100 pessoas, com destacada presença de negros e indígenas. Tereza navegava com barcos imponentes pelos rios do pantanal. E todos a chamavam de “Rainha Tereza”.
O Quilombo, território de difícil acesso, foi o ambiente perfeito para Tereza coordenar um forte aparato de defesa e articular um parlamento para decidir em grupo as ações da comunidade, que vivia do cultivo de algodão, milho, feijão, mandioca, banana, e da venda dos excedentes produzidos.
Tereza comandou a estrutura política, econômica e administrativa do quilombo, mantendo um sistema de defesa com armas trocadas com os brancos ou roubadas das vilas próximas. Os objetos de ferro utilizados contra a comunidade negra que lá se refugiava eram transformados em instrumentos de trabalho, visto que dominavam o uso da forja.
“Governava esse quilombo a modo de parlamento, tendo para o conselho uma casa destinada, para a qual, em dias assinalados de todas as semanas, entrava os deputados, sendo o de maior autoridade, tipo por conselheiro, José Piolho, escravo da herança do defunto Antônio Pacheco de Morais, Isso faziam, tanto que eram chamados pela rainha, que era a que presidia e que naquele negral Senado se assentava, e se executava à risca, sem apelação nem agravo.” - Anal de Vila Bela do ano de 1770
Não se tem registros de como Tereza morreu. Uma versão é que ela se suicidou depois de ser capturada por bandeirantes a mando da capitania do Mato Grosso, por volta de 1770, e outra afirma que Tereza foi assassinada e teve a cabeça exposta no centro do Quilombo.
O Quilombo resistiu até 1770, quando foi destruído pelas forças de Luís Pinto de Sousa Coutinho. A população na época era de 79 negros e 30 índios.
Em homenagem a Tereza de Benguela, o dia 25 de julho é oficialmente no Brasil o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. A data comemorativa foi instituída pela Lei n° 12.987/2014.
Além da data comemorativa, a rainha Tereza foi homenageada nos versos da escola de samba Unidos do Viradouro, com o enredo da agremiação de 1994, cujo título é ‘Tereza de Benguela – Uma Rainha Negra no Pantanal’.
Fonte: Biblioteca da CECULT - Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

domingo, 19 de julho de 2020

Morre John Lewis, um dos ícones da luta pelos direitos civis nos EUA



O congressista John Lewis, importante ativista na histórica luta pela igualdade racial nos EUA morreu nesta sexta-feira, 17 de julho. Ele tinha 80 anos.

Sua morte foi confirmada em uma declaração de Nancy Pelosi, a presidente da Câmara dos Deputados. Lewis, da Geórgia, anunciou em 29 de dezembro que estava com câncer de pâncreas no estágio 4 e prometeu combatê-lo com a mesma paixão com a qual lutou contra a injustiça racial. "Eu estive em algum tipo de luta - por liberdade, igualdade, direitos humanos básicos - por quase toda a minha vida", disse ele.

Nas linhas de frente da sangrenta campanha para acabar com as leis de Jim Crow, com golpes no corpo e um crânio fraturado para provar isso, Lewis era um valente defensor do movimento dos direitos civis e o último orador sobrevivente na histórica marcha em Washington por Emprego e Liberdade em 1963.

Mais de meio século depois, após o assassinato em maio de George Floyd, Lewis parabenizou as manifestações globais contra os assassinatos cometidos pela polícia contra pessoas negras e, mais amplamente, sob o racismo sistêmico de muitos países. Ele viu esses protestos como uma continuação do trabalho de sua vida, embora sua doença o tivesse deixado assistir do lado de fora.

Fontes: The New York Times/ Mídia Ninja

terça-feira, 7 de julho de 2020

Negros morrem mais de Covid-19 do que os brancos


Do primeiro ministro britânico Boris Johnson ao ator Tom Hanks, da influenciadora digital Gabriela Pugliesi à cantora Preta Gil, o início do surto, o novo coronavírus pareceu não poupar ninguém: todos estariam igualmente expostos à doença. O governador de Nova York, Andrew Cuomo, chegou a afirmar que o coronavírus era um “grande equalizador” ao divulgar que seu irmão mais novo havia contraído o vírus. À primeira vista, o raciocínio parece lógico: se ninguém tem imunidade contra microrganismo, que não escolhe suas vítimas, em tese todos estão sujeitos ao mesmo risco de infecção.

Não demorou muito para que dados derrubassem o equívoco e escancarassem o impacto das desigualdades sociais na prevenção e propagação da pandemia. Em países como Estados Unidos e Brasil, campeões de casos no mundo, é quase impossível não falar de desigualdade social e racismo. Por aqui, 75% dos mais pobres são negros, segundo um levantamento realizado em 2018 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que apontou como pretos e pardos trabalham, estudam e recebem menos que os brancos no país.
Nos Estados Unidos, primeira nação das Américas a ver a escalada dos casos, a desproporção é gritante. Embora 18% da população do país seja negra, 52% dos casos e 58% das mortes por Covid-19 são de pacientes negros, segundo um relatório da amfAR publicado no início de maio. Em estados como Geórgia, Louisiana e Alabama, as disparidades são ainda maiores, conforme mostra o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC): na Geórgia, 83% dos internados são negros, que correspondem a 32% da população; em Louisiana, estado com 33% da população negra, as mortes afroamericanas equivalem a 70%; e, no Alabama, a proporção de mortes é de 44% em uma população de 26%.
No Brasil, os dados do Ministério da Saúde sequer eram separados por cor no início da pandemia. Os boletins só passaram a incluir tais números a partir do dia 11 de abril, quase um mês e meio depois da confirmação do primeiro caso de Covid-19, e graças à pressão da Coalizão Negra por Direitos, um grupo de 150 entidades que, no início de abril, enviou uma carta ao Ministério da Saúde e às secretarias de saúde de todos os estados pedindo a divulgação da cor, do gênero e dos bairro dos infectados. “A quantidade de notificação sem informação de cor só reforça o racismo institucional, que invisibiliza os negros”, diz a médica Rita Helena Espirito Santo Borret, coordenadora do Grupo de Trabalho (GT) de Saúde da População Negra da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC).
Os dados são desanimadores: uma análise da Agência Pública mostrou que há uma morte para cada três brasileiros negros hospitalizados por Covid-19, enquanto entre brancos a proporção é de uma morte a cada 4,4 internações. Em São Paulo, cidade com o maior número de casos, bairros com maior concentração de negros têm mais óbitos pela doença. Dos dez com o maior número absoluto de mortes por coronavírus, oito têm mais negros que a média municipal.
Um estudo liderado por pesquisadores da PUC-Rio e divulgado no último dia 27 de maio evidencia ainda mais essas disparidades. Em termos de óbitos por Covid-19, pessoas sem escolaridade têm taxas três vezes maiores (71,3%) em relação àqueles com nível superior (22,5%). Combinando raça e índice de escolaridade, o cenário fica ainda mais desigual: pretos e partos sem escolaridade morrem quatro vezes mais pelo novo coronavírus do que brancos com nível superior (80,35% contra 19,65%). Considerando a mesma faixa de escolaridade, pretos e pardos apresentam proporção de óbitos 37% maior, em média, do que brancos.
“Entendemos que o racismo está estruturado na nossa sociedade, e por isso impacta a vida de todos de diferentes formas”, diz Luís Eduardo Batista, pesquisador do Instituto de Saúde da Secretaria de Saúde de São Paulo. “Ele interfere no acesso aos serviços, na qualidade e até nas relações do usuário com o profissional", complementa Batista, que também é coordenador do GT Racismo e Saúde da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
E isso é uma via de mão dupla: vale tanto para pacientes que não confiam ou se recusam a ser atendidos por profissionais de saúde negros quanto para médicos e enfermeiros que não estão preparados para lidar com a população negra. “Existe uma reprodução do racismo institucional na instituição saúde”, avalia Borret. "Médicos e todos os outros profissionais da saúde são pessoas da mesma sociedade, que é racista. Na medicina e em outros cursos, não há cuidado de atentar para a saúde da população negra, isso hierarquiza as pessoas que têm mais direito a viver, e neste caso são os brancos”, analisa a médica. 
Desigualdade estrutural
Até o momento, não foi identificado se há componentes genéticos que aumentem o risco da população negra acometida pelo novo coronavírus. Sabe-se, no entanto, que ela tem maior predisposição a diabetes e hipertensão, condições que aparecem como comorbidades em vítimas de Covid-19. Ainda assim, explica o representante da Abrasco, esse tipo de informação costuma ser negligenciada pela comunidade médica. “A Sociedade Brasileira de Hipertensão, por exemplo, não avisa os profissionais em seus materiais que negros têm níveis pressóricos mais altos”, observa.

Mesmo com a predisposição às comorbidades, os principais fatores que deixam a população negra mais vulnerável ao novo coronavírus são sociais. “A população negra tem menos acesso a saneamento, vive mais concentrada, com mais trabalho informal ou desemprego”, diz Borret. “Falam ‘lave as mãos’, mas não tem saneamento básico e água encanada. Falam ‘vamos fazer isolamento’, mas que isolamento social é esse, se porteiros e cozinheiras continuam tendo que trabalhar?”, critica Batista. Esses fatores sociais podem, aliás, ser relacionados às próprias comorbidades: pobres têm mais obesidade, diabetes, hipertensão e colesterol alto por falta de dietas equilibradas (o maior exemplo é a cesta considerada básica, que não costuma incluir frutas e verduras).
O acesso aos serviços de saúde também está relacionado a fatores sociais. A começar pela própria localização deles — os hospitais de campanha de São Paulo, por exemplo, foram construídos no centro da cidade, embora haja mais casos na periferia. E quase 80% da população brasileira que depende do Sistema Único de Saúde (SUS) se autodeclara negra, mas somente 44% dos leitos de unidade de terapia intensiva (UTIs) estão no sistema. “Ter um sistema único garante o mínimo de cuidado, mas quando olhamos para a distribuição dos leitos de UTI, respiradores, e outros equipamentos necessários no tratamento da Covid-19, ela é muito desigual”, destaca Borret.
Política da morte
“Vivemos hoje em uma política que propõe que quem tem dinheiro vai ter acesso à saúde, e há pessoas autorizadas a morrer: pretas, pobres e periféricas”, pontua a médica da SBMFC. É o fenômeno da “necropolítica”, termo cunhado pelo filósofo camaronês Achille Mbembe, que investiga como governos decidem quem vive e quem morre, e de que maneira isso vai acontecer. O exemplo máximo foi a frase dita pelo presidente Jair Bolsonaro no início da pandemia: “alguns vão morrer? Vão morrer. Lamento, essa é a vida.”

É a certeza, velada ou subconsciente, de que não fazem parte desse “alguns” que leva muita gente a fazer pouco caso da nova pandemia, reforçando a ideia de que ela não é nada democrática. “Para algumas pessoas, está tudo certo este pacto social que temos de que muitos vão morrer, mas estes muitos não serão os meus, porque minha família está aqui protegida”, ilustra Batista.
Por mais recente que seja o termo necropolítica (Mbembe o descreveu em 2003) e que no início a pandemia de fato tenha se espalhado pelas elites brancas, ela já começa a seguir um curso que não é nenhuma novidade na história: na medida em que os mais ricos superam a doença e conseguem frear o contágio entre si, criando uma espécie de “bolha”, e ela se espalha para as camadas mais pobres, a enfermidade passa a ser negligenciada.
Passado que se repete
Foi assim com a peste bubônica em 1349. Segundo a revista Scicence, o cronista francês Gilles Li Muisis chegou a escrever que “nem os ricos, a classe média, nem os pobres estavam seguros; cada um teve que esperar a vontade de Deus.” De fato, entre 1347 e 1351, de 30% a 60% dos europeus padeceram por causa da peste. A França perdeu quase metade de sua população, assim como a cidade de Londres, uma das maiores metrópoles já naquela época.

Mas estudos arqueológicos recentes, que avaliaram esqueletos em cemitérios criados especificamente para as vítimas da peste, identificaram que as desigualdades sociais e econômicas desenharam o rumo da pandemia. E, após a primeira grande onda, os ricos começaram a se isolar logo no início de novos surtos. Entre 1563 e 1665, a mortalidade da peste entre as camadas mais ricas de Londres teve uma redução significativa, enquanto permanecia igual ou crescia entre os mais pobres, segundo registros de batismos e certidões de óbito. Não à toa, médicos italianos passaram a considerar a peste uma doença dos pobres.
O ciclo se repete até hoje. “Se olhar para todas as doenças infecciosas que não conseguimos erradicar no nosso país, como tuberculose e hanseníase, elas são mais frequentes entre a população preta e pobre”, diz Borret. “Porque a população que tem dinheiro e acesso consegue achar meios para diminuir a contaminação entre si, e aí isola o agente infeccioso entre a população que está autorizada a morrer. Isso, que está acontecendo agora com o coronavírus e pode ser que aconteça de novo mais para frente, não é nada novo, é o caminho natural que as doenças infecciosas seguem no nosso país.”
Para quebrar este ciclo, é preciso mais do que medidas imediatistas de combate a surtos epidêmicos, que são importantes, mas não resolvem o verdadeiro problema: o racismo estrutural que vem desde os tempos de colonização. “No Brasil, logo depois da escravidão, nunca houve políticas para integrar os negros na população”, diz a especialista da SBMFC. “A população negra pode até ser a maioria em número, mas é minoria em poder, e não é representada, está sempre na subalternidade.”
A pandemia pode até ter feito parcelas da sociedade civil finalmente enxergarem populações vulneráveis e invisibilizadas, mas seu efeito equalizador para por aí — porque, pelo visto, este será mais um episódio da história com o qual vamos aprender muito pouco ou, talvez, nada.
Fonte: Galileu

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Antirracismo em 10 pontos

O assassinato de George Floyd gerou uma onda de protestos nos EUA e no mundo.
O caso de mais um homem Negro assassinado covardemente por policiais brancos nos Estados Unidos reacendeu os debates e protestos sobre o racismo em várias partes do mundo. Foi a gota d'água pra uma situação que sempre aconteceu, mas passou a ter mais repercussão devido à difusão dos celulares e da resposta rápida das redes sociais. A polícia nunca se intimidou em nos assassinar, nem mesmo com a presença de testemunhas ou câmeras.
 A seguir, 10 pontos sobre como podemos evitar a perpetuação do racismo:

1. O QUE É SER ANTIRRACISTA?
É se posicionar, com ações teóricas e práticas, contra todas as formas de discriminação impostas a um ser humano por causa de sua etnia. 

2. O RACISMO É UM PROBLEMA DA SOCIEDADE INTEIRA
Não deve ser visto como uma questão exclusiva dos negros. Toda a sociedade precisa participar, independentemente da sua cor.

3. OS NEGROS SÃO OS PROTAGONISTAS 
As pessoas brancas podem (e devem) apoiar a luta antirracista, mas nunca devem falar pelos negros. É importante respeitar o lugar de fala de quem já passou por experiências que você desconhece.

4. RECONHECER O COLORISMO
Entender que existem inúmeras tonalidades na pele negra e que, quanto mais escura, maiores as chances da pessoa ser alvo de racismo. Contudo, isso não torna os “negros de pele clara" menos negros que os demais. 

5. RECONHECER O PRIVILÉGIO BRANCO
Não quer dizer que os brancos não sofrem dificuldades, mas que sua cor não foi um empecilho. Os brancos recebem, em média, 72,5% a mais que os negros, de acordo com o IBGE. Este é apenas um dos exemplos. 

6. QUESTIONAR O RACISMO ESTRUTURAL
Segundo o IBGE, a população negra é maioria no Brasil (cerca de 54%), mas raramente ocupa cargos de chefia nas grandes empresas.

7. COMBATER OS ESTEREÓTIPOS 
Não julgue nossa índole pelo bairro de onde viemos, pelo cabelo ou pela roupa que usamos.

8. LUTAR PELO FIM DA VIOLÊNCIA POLICIAL E DO ENCARCERAMENTO EM MASSA DA POPULAÇÃO NEGRA.
 Quase a totalidade das pessoas mortas por policiais é homem (99,3%) e a maioria é negra (75,4%). As vítimas também são, em geral, jovens de 15 a 29 anos (54,8%).

9. LEIA, OUÇA E APRENDA
Busque o conhecimento através das músicas, livros e produções audiovisuais de pessoas negras.

10. QUESTIONE PRESENÇAS E AUSÊNCIAS
Observe as pessoas que aparecem (ou não) nos locais que você frequenta e nos programas, filmes e séries que você assiste. Não se cale diante das disparidades.

terça-feira, 26 de maio de 2020

"Ninguém tem o direito de matar em nome de Deus", diz Alpha Blondy


Já tive o privilégio de ver o show do marfinense Alpha Blondy pessoalmente aqui em Salvador e foi uma experiência incrível. Ontem, eu estava assistindo ao show dele no Festival Rockpalast, em 2017, e me deu vontade de traduzir e transcrever pelo menos um dos vários belos discursos que ele faz antes de algumas músicas. O discurso contra as guerras, contra o colonialismo e contra o mau uso da religião para fins políticos questionáveis são os mais frequentes em suas músicas. Muitas coisas podem servir de exemplo para outras realidades, inclusive a nossa do Brasil, onde alguns políticos hipócritas tentam esconder suas atitudes medíocres e assassinas atrás de um suposto discurso religioso.
Logo após anunciar Spiritual Crime, Alpha Blondy diz:

Não faça mau uso do santo nome de Deus. Ninguém tem o direito de matar em nome de Deus!
Ninguém tem o direito de usar o santo nome de Deus pra justificar um crime. É o que todos nós dizemos.
Deus diz na Torá: "Não matarás!"
Deus diz na Bíblia: "Não matarás!"
E Deus diz no Corão: "Não matarás!"
E no Corão, Deus diz: "Se você mata um inocente, é como se você tivesse matado a humanidade inteira. Se você salva a vida de um inocente, é como se estivesse salvando a vida de toda a raça humana."

É isso o que estamos dizendo: Não envolva Alah em seus crimes! Não envolva Maomé em seus crimes!
Porque Alah não é um deus do terrorismo. Porque Maomé não é um profeta do terrorismo.

O momento desta fala (em inglês) pode ser visto a partir do minuto 00:40:04. Você pode assistir o show inteiro aqui:



segunda-feira, 25 de maio de 2020

25 de Maio - Dia da África


No dia 25 de maio de 1963, chefes de estado e diplomatas de 32 países africanos independentes se reuniram em Adis Abeba, capital da Etiópia, a convite do imperador Haile Selassie, para traçar uma estratégia visando uma unificação do Continente Africano. Esse encontro aconteceu de 22 a 25 de maio e se encerrou com a criação da Organização da Unidade Africana (OUA). Nove anos depois, em 1972, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o 25 de maio como Dia da Libertação Africana, ou o Dia da África.

A OUA nasceu com os objetivos de promover a unidade e solidariedade entre os estados africanos; coordenar e intensificar a cooperação entre eles, para garantir uma vida melhor para os povos; defender a soberania, integridade territorial e independência desses estados; erradicar todas as formas de colonialismo; promover a cooperação internacional, respeitando a Carta das Nações Unidas e a Declaração Universal dos Direitos Humanos; e coordenar e harmonizar as políticas dos estados membros nas esferas política, diplomática, econômica, educacional, cultural, da saúde, bem estar, ciência, técnica e de defesa.

Em seu discurso de 1963, Jomo Kenyatta – pai da independência do Quênia – afirmou que a África só seria livre de verdade no dia em que se realizasse uma reunião de cúpula da OUA, na África do Sul, então sob o cruel regime do apartheid. Quase 40 anos depois, em 2002, a Organização das Nações Unidas realizou na cidade de Durban, naquele país, uma nova reunião de cúpula com participação de representantes de 53 países africanos, ratificando e ampliando sua carta magna. Foi o último encontro da OUA e ali nasceu um novo organismo: a União Africana (UA). O Dia da África serve para ajudar os afrodescendentes a refletir sobre o continente de origem de seus antepassados. Além de olhar para as civilizações que antecederam à Conferência de Berlim, que retalhou aquele continente com mais de 30 milhões de quilômetros quadrados e leiloou os pedaços entre potências europeias, temos de procurar conhecer a África de hoje.

Apesar de tudo, ainda precisamos perceber a África como realmente é: um continente vasto e plural, com suas particularidades culturais, climáticas e socioeconômicas. Não devemos generalizar os aspectos negativos, como a maioria das mídias faz frequentemente. O dia de hoje serve para perceber o quanto todos nós Negros nascidos na África ou na Diáspora já avançamos e onde precisamos avançar, pra superar o racismo e todas as outras formas de preconceitos e desigualdades.

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Comunidades Negras e Estado policial, por Malcolm X


As estatísticas fazem o público branco pensar que a periferia é uma área criminosa, onde todos estão prontos para a violência. A polícia fica à vontade para ir lá para brutalizar, eliminar e assustar os Negros.

Quando qualquer coisa acontece, 20 viaturas aparecem. Isso não assusta os Negros. Essa força cria um ressentimento em todos os Negros. Eles sentem que estão num Estado policial. Eles se tornam hostis à polícia. Eles sentem que a polícia está contra eles. E esses pensamentos, frustrações e apreensões fazem os Negros buscarem meios de se defenderem caso a polícia passe demais do limite.

Depois que a polícia convence o público branco  de que o Negro é um elemento criminoso, a polícia pode chegar e interrogar, brutalizar e assassinar Negros desarmados e inocentes. E o público branco é manipulável o bastante para lhes dar apoio. Isso faz da comunidade Negra um Estado policial. É o bairro mais patrulhado. Tem mais polícia que qualquer outro bairro e, ainda assim, tem mais crimes que qualquer outro bairro. Como pode ter mais policiais e mais crimes? Como pode? Isso nos mostra que a polícia deve estar envolvida com os criminosos.