sábado, 21 de novembro de 2015

Filha de Malcolm X está no Brasil, e falou sobre racismo e passividade

Filha de Malcolm X se diz surpresa com a passividade diante da violência racista existente no Brasil e cobra ações mais contundentes. Imagens: Alma Preta/Pragmatismo Político


Em passagem pelo Brasil, a ativista dos direitos humanos e filha do líder negro norte americano Malcolm X, Malaak Shabazz, convidou a população negra a promover ações mais contundentes. Na entrevista que concedeu à imprensa negra após encontro com jovens na cidade de São Paulo, na tarde desta quinta-feira (19), a ativista diz ter se surpreendido pelo fato de as pessoas estarem tão tranqüilas diante da violência racista existente no Brasil.
“[minha mãe] criou seis filhas ao mesmo tempo em que se dedicava à construção de uma sociedade livre do racismo”.
Pelo menos 400 pessoas se aglomeraram no auditório da Galeria Olido, no centro de São Paulo, para ouvir Malaak e, também, dar notícias sobre as condições de vida da população negra. O público era maior, mas muitos ficaram de fora por ordem dos bombeiros. Entre os diversos temas abordados, a ativista norte-americana falou sobre feminismo negro, desigualdade de gênero, representatividade negra na política, governo Obama e também suas impressões sobre o racismo no Brasil e o genocídio afeta sobretudo moradores da periferia.
Na partilha de experiências, Malaak fez análise da conjuntura política e abordou temas que estão presentes tanto na sociedade norte-americana quanto na brasileira, como a repressão policial e a necessidade de articulação entre os movimentos negros.
A ativista compartilhou momentos importantes da biografia de seu pai, mas fez questão de enfatizar o papel da mãe na luta antirracista. A também ativista Dra. Betty Shabbaz, “criou seis filhas ao mesmo tempo em que se dedicava à construção de uma sociedade livre do racismo”. Atuou, sobretudo, na criação de condições para que os jovens negros pudessem ter acesso à educação de forma subsidiada.
Horas antes da palestra, promovida pela Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial (SMPIR), Malaak conheceu o bairro de Cidade Tiradentes, na zona leste paulistana e pode conversar com moradores. Ao final a ativista demonstrou disposição em colaborar com a proposta de construção de um seminário internacional sobre o genocídio da população negra.

OBAMA

Apesar de lamentar a força do racismo depois de tantos anos desde a morte do pai, Malaak comemorou a força que o negro ganhou nos Estados Unidos depois que Barack Obama assumiu a presidência. Ela ressaltou, no entanto, que a ‘islamofobia’ não para de crescer nos EUA.
“Há um movimento negro mais forte, em posições mais altas. Quando Obama se tornou presidente, a velha guarda dos brancos que queriam os negros por baixo simplesmente não conseguiu lidar com um presidente negro. Eles viram a família Obama, uma representação bonita de família negra, que não tinha nada a ver com a imagem do negro marginalizado. Eles ficaram confusos. Obama conseguiu como nunca antes ter mais brancos para votar nos negros. Então, as coisas estão melhorando, mas ainda há muito o que fazer”

MALCOLM X

“Meu pai costumava dizer que não importa se o negro é cristão, judeu ou muçulmano, quando ele sai na rua o branco o tacha como negro”, afirmou ao se referir a Malcolm, assassinado em 1965 durante um discurso no Harlem, em Nova York.

AÇÕES AFIRMATIVAS

Para a ativista, ações afirmativas são absolutamente necessárias, mas enfrentam muita resistência e, nos Estados Unidos, foram criadas para todas as minorias, que englobam mulheres, latinos e negros.
“O problema é que 67% das pessoas beneficiadas por ações afirmativas nos Estados Unidos são mulheres brancas”, explicou, lembrando da criação dos chamados Historically Black Colleges, instituições de ensino superior voltadas para a comunidade negra americana. “Foi muito importante para estudantes que não conseguiam ingressar em universidades como Yale, Harvard e Columbia. Não queríamos ficar só chorando, por isso nós criamos as nossas próprias universidades”, contou.
Atualmente há 215 Black Colleges no território americano, onde 98% dos estudantes são negros.

BRASIL

“Minha mãe vinha todos os anos para o Brasil. Ela trabalhava muito e vir para cá era o jeito que ela tinha de respirar, de descansar. Eu sempre quis vir, estou muito feliz de estar aqui e sei que vou voltar”, disse a ativista.
Fonte: Pragmatismo Político

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Atentados a Paris: uma consequência histórica


A França SEMPRE foi um país genocida, assassino e imperialista, que devastou a África por séculos e reagiu violentamente ao processo de independência de suas colônias. É certo que não devemos endossar a violência extremista do Estado Islâmico, mas não se pode fechar os olhos para a História. Aliás, não só ao passado, mas ao presente, em que a França e seus aliados bombardeiam a Síria e deixam corpos de civis em uma quantidade muito maior do que as vítimas de Paris.

O fanatismo religioso de grupos radicais muçulmanos identificados como "terroristas" no Ocidente, junto com  o desespero de ver sua cidade, seu país ser constantemente invadido, saqueado e bombardeado, durante gerações, acabam abrindo caminho para que grupos como o ISIS (sigla em árabe para "Estado Islâmico") ganhem cada vez mais adeptos, num ato suicida de oferecer a seus agressores um pouco do terror que eles vivenciam e também promovem, já que, nesse jogo, ninguém é "santo". 

A Europa vive hoje a mesma sensação de insegurança que assola grande parte dos países africanos e asiáticos, continentes esquecidos pela mídia no que se refere aos direitos humanos. Não sei se é a proximidade geográfica, a seletividade dos meios de comunicação, que dão uma cobertura sensacionalista a alguns fatos, mas esquecem outros ao seu bel prazer, ou a falta de interesse histórico e humanitário do Ocidente a estas regiões do globo, que fazem com que nós brasileiros ignoremos por completo os ataques terroristas de franceses, estadunidenses, ingleses, russos e alemães a alvos civis da Síria, Afeganistão, Iraque, além de patrocínios ou "vistas grossas" a grupos paramilitares da Nigéria, Israel e Sudão, por exemplo.

Nenhuma dor vale mais que a outra. Os civis franceses que morreram ou se feriram nos ataques a Paris na sexta-feira, 13 de novembro de 2015, são tão vítimas quanto as do World Trade Center, nos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001, as do metrô em Madri em 11 de março de 2004 e a todas as pessoas que morreram, direta ou indiretamente, pelas mãos do colonialismo europeu nas lutas pela descolonização da África e da Ásia, entre o final do século XIX e todo o século XX. Contudo, não podemos esquecer que tudo isso que acontece hoje é o caminho de volta, a consequência histórica a toda a violência e intolerância perpetradas pelos senhores da guerra, que dividiram o planeta entre eles, como se tudo fosse seu.

No fim das contas, "Terrorismo" é apenas uma questão de ponto de vista, ou de quem tem argumentos mais convincentes. Para os sírios, afegãos, iraquianos, palestinos, nigerianos e sudaneses, os terroristas somos nós.