terça-feira, 24 de janeiro de 2012

África Escultural


África
da nudez plangente
dos braços nus dos embondeiros, silhuetando na noite
África
a contemplar embevecida a imensidão dos oceanos
na lembrança trágica dos filhos deportados
África
dos homens bêbados
arrastando os pés descalços
na terra sequiosa da vida
da mulher nua que se entrega para se achar
das barrigas dos meninos
barrigudos de fome
África
do ritmo quente
do batuque e da farra
perdidos na noite
do canto triste dos poetas
dos seus poemas
escritos com sangue e suor de gente

Acredito em ti
como a África escultural dos homens
esculpindo a vida
na pedra da vida.

(Domingos Florentino, Raízes do Porvir)

Racismo contra filho motivou saída de Zé Roberto do Inter-RS

ze roberto no bahiaRacismo contra filho motivou saída do Inter, diz Zé Roberto

Com o sentimento de ter feito "a escolha certa" em ter ido para o Bahia, e não para qualquer outro clube, o meia Zé Roberto foi apresentado oficialmente na tarde desta segunda-feira, em Salvador.
Zé Roberto tinha contrato com o Internacional, seu ex-clube, até 2013. Segundo ele, um dos motivos em ter deixado Porto Alegre foi o fato de o seu filho, apenas cinco anos, ter sido vítima de racismo no colégio onde estudava.
"Eu não gosto nem de falar muito sobre isso. Mexeu muito comigo, com a família. Foi o que mais fez com que eu deixasse o Inter", confessou. De acordo com o meia, o assunto está sob cuidado do seu advogado.
Em relação ao seu novo time, a estrutura e os projetos do clube, por exemplo, foram fatores determinantes para que pudesse jogar no Bahia, segundo o atleta. "A maneira como o Bahia está se organizando e a grandeza do clube me ajudaram muito. Não tenho dúvidas de que fiz a escolha certa", garantiu.
Desde dezembro do ano passado, o meia estava nos planos do Bahia. No entanto, a negociação não foi adiante porque o Vitória entrou na transação e porque o atleta tinha algumas pendências para resolver com o Internacional.
Zé Roberto foi contratado pelo Bahia por dois anos, sendo que 50% dos direitos econômicos do atleta pertence à equipe tricolor.
Fonte: A Tarde 

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Muhammad Ali completa 70 anos hoje

O Mito completa 70 anos nesta terça-feira
Nascido Cassius Marcellus Clay Jr., ou simplesmente "Cassius Clay", em Louisville, no Kentucky em 17 de janeiro de 1942, esta grande lenda do boxe se tornou um dos maiores ícones Negros dos Estados Unidos, ao defender os direitos civis das populações Negras, juntamente com Martin Luther King Jr., na década de 1960.
Após se converter ao Islã, Cassius Clay muda seu nome para Muhammad Ali. Além de ficar famoso por ser campeão mundial de boxe, outro fato célebre em sua vida foi quando se recusou a lutar no Vietnã, pois não havia nada contra os vietcongues e preferia se concentrar na luta contra o racismo dentro de seu próprio país.
No início da década de 1980, Muhammad Ali descobriu que tinha Parkinson, uma doença degenerativa incurável que o aflige até hoje. Ali esteve nas telas dos cinemas no famoso documentário Quando Éramos Reis, que mostra a promoção de uma luta sua contra George Foreman no Zaire; e no filme Ali, interpretado por Will Smith.
Parabéns ao grande mito do boxe, que sempre soube aliar esporte, marketing pessoal e a luta em prol da igualdade de direitos entre Negros e brancos nos Estados Unidos e, por que não, no resto do mundo!

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Mais uma vitória do Sistema de Cotas

Primeiro aluno de Medicina a entrar por cotas na Ufba recebe diploma

Ícaro Luis tornou-se ícone do sistema; aprovado em concurso para o Programa de Saúde da Família, já tem emprego garantido




Em uma casa azul na Ladeira Manoel Faustino - mesmo nome de um dos líderes negros da Revolta dos Alfaiates, que em 2011  se tornou Herói da Pátria – Ícaro Luis Vidal, 24 anos, se apronta para o grande dia de sua vida. À noite, o primeiro estudante a ingressar pelo sistema de cotas no curso de Medicina da Universidade Federal da Bahia (Ufba) se forma.

As trancinhas que a cabeleireira faz em seu black power têm dois motivos: um é poder vestir o capelo de formatura (chapéu usado na solenidade). O outro é a pressão de sua mãe, Raimunda Vidal dos Santos, 47, que acha que assim o filho fica mais bonito para a festa, realizada ontem à noite, no Centro de Convenções.

Ícaro começou o curso em 2005, quando a Ufba implantou o sistema de cotas. Hoje, a instituição reserva 2% das vagas para índio-descendentes e 43% para alunos que tenham todo o ensino médio em escolas públicas. Desses, 85% são para estudantes que se declararam pardos ou pretos.

Ao fim do 3º ano no Colégio da Polícia Militar, conciliado com o cursinho, Ícaro já tinha passado no meio do ano em Direito na Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs). “Assim, eu fiz a prova mais tranquilo”. Amiga de infância, Inês Costal, 24, lembra dele como aluno aplicado. “Sempre foi brilhante, era o CDF”, relata.


Orgulho



Ícaro atribui o desempenho à sua criação. “Ele nunca me deu trabalho, mas sempre cobrei. A média do colégio era 8, mas eu exigia  9”, lembra a mãe. O rigor deu resultado. “Tenho orgulho dos meus filhos”, afirma ela, incluindo a filha Ísis Carine dos Santos, 25, que mês que vem se forma em Engenharia Química, também na Ufba.

Ontem, na formatura, dona Raimunda via o sonho realizado e vibrava num longo rosa. “Dever cumprido. Agora vou cuidar de mim”, diz ela, que este ano vai tentar cursar Pedagogia. “Espero conseguir uma vaga pelo Enem”, torce.
Ícaro divide com ela e com Ísis uma casa na Liberdade. O pai, que mora em Feira de Santana, também veio para a formatura. Uma outra irmã mora em Conceição de Feira.
Parabéns, Ícaro! Sua vitória também é nossa! 


Desafios

O sonho de Medicina surgiu cedo. Ao ver crescer a barriga de três tias que engravidaram na mesma época, a cabeça do menino de 6 anos se encheu de perguntas. “Queria saber como tinha entrado, como saía”, lembra. Com o tempo, esqueceu a obstetrícia: agora quer ser oncologista. “Conviver com esses pacientes, tão carentes de atenção, me despertou para a área. O câncer é uma doença que isola”, reflete.

Se os pacientes sofrem, Ícaro também passou perrengues. Nos dois primeiros anos, além de cursar a faculdade, trabalhava e fazia curso técnico em Química, no Instituto Federal da Bahia (Ifba, então Cefet), que lhe possibilitou ser perito técnico da Polícia Civil.

O rapaz só chegava em casa às 23h e ainda tinha que estudar até as 2h.  Várias vezes acabou dormindo em cima dos livros. “Mas nunca repeti nenhuma matéria”, orgulha-se.

O grande impacto na Ufba foi o grau de dificuldade. “A cota facilita a entrada, mas sair depende de você”, analisa.

Hoje, Dr. Ícaro está encaminhado:  passou em um concurso para médico do Programa Saúde da Família (PSF). E quer mais. “Quando vi a equipe do (Hospital) Sírio-Libanês que cuidou de Lula falando com os repórteres, pensei: um dia eu é que vou estar aí”.


Projeto propõe cotas obrigatórias

Mesmo com tantas universidades no país adotando cotas, não há uma lei federal que determine regras ou obrigue as instituições a aderirem ao sistema. As universidades têm autonomia para decidir quantas vagas destinarão às cotas e se o critério será socioeconômico ou étnico. Um Projeto de Lei (71/99) sobre o tema já foi aprovado na Câmara e desde 2008 aguarda para ser votado no Senado. Segundo a proposta, apresentada em 1999 pela então deputada federal Nice Lobão (PFL-MA), as universidades públicas federais reservariam vagas para estudantes que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas, tenham renda familiar per capita de até 1,5 salário mínimo e sejam negros, pardos ou indígenas.

No Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Ricardo Lewandowski relata duas ações contra cotas para negros. A primeira foi ajuizada pelo DEM contra a Universidade Federal de Brasília (UnB), onde  uma comissão decide por foto ou entrevista quem pode ser classificado como negro, pardo ou branco.  A outra foi proposta em maio  por um estudante que não foi aprovado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Há ainda no STF mais três ações sobre o sistema de cotas adotado pelo ProUni. Os processos estão na pauta de votação desse ano.
Fonte: iBahia.com

ONG mapeia 129 instituições públicas de ensino superior com sistema de cotas

A ONG Educafro criou uma ferramenta para estudantes de todo o País pesquisarem as instituições de ensino superior que adotam algum tipo de cota em seus processos seletivos. O levantamento é especialmente útil porque neste sábado, 7, começam as inscrições no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que unifica a oferta de vagas em escolas públicas para quem prestou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

No site da entidade (http://www.educafro.org.br /), o vestibulando poderá navegar por um mapa interativo do Brasil. Ao clicar nos Estados, encontrará a lista de instituições com alguma política de reserva de vagas. A ferramenta reúne estabelecimentos federais, estaduais e municipais. Também é possível saber o ano de implantação das cotas em cada unidade, como funcionam os sistemas e os atos administrativos que deram origem ao acesso restrito.
A Educafro mapeou 129 instituições com cotas. A maioria fica na Região Sudeste - só no Rio, 17 têm reserva de vagas. Na outra ponta vem o Centro-Oeste, com 10 estabelecimentos. O Estado cujas escolas mais separam cadeiras é o Paraná: 18.
Para o presidente da Educafro, frei David Raimundo dos Santos, o número de estabelecimentos com cotas representa uma "grande vitória em pouco tempo". Ele lembra que a primeira instituição do País a adotar reserva de vagas foi a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), em 2003. "De lá para cá, reitores sérios tomaram as rédeas para garantir um país mais igual", diz.
Sisu
As inscrições para as 108.552 vagas disponíveis no Sisu devem ser abertas nas primeiras horas do sábado.
Algumas instituições participantes separam parte das cadeiras para cotistas. Assim, em parte dos cursos haverá dois tipos de disputa: ampla concorrência e ações afirmativas. O candidato deverá, no momento da inscrição, optar pela modalidade de acordo com o seu perfil.
Durante as duas chamadas, o aluno que se inscreveu pelas ações afirmativas vai competir com outros que fizeram a mesma escolha. E o sistema selecionará, no grupo, aqueles que tiveram as melhores notas no Enem 2011. O Sisu está aberto para consultas às vagas no endereço http://sisu.mec.gov.br /.
PARA ENTENDER
Universidades têm autonomia
As instituições de ensino superior têm liberdade para criar seus próprios sistemas de cotas. Entre os vários tipos de ações, há reserva de vagas para negros, indígenas, ex-alunos de escolas públicas e filhos de policiais mortos em serviço.
Tramita no Congresso um projeto que prevê 50% das vagas em universidades para negros e para quem estudou na rede pública de ensino.
O assunto já chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF), que deve se pronunciar neste ano sobre a constitucionalidade da reserva de cadeiras para negros e indígenas na Universidade de Brasília (UnB). As cotas são apenas um tipo de ação afirmativa.
Fonte: Estadão / Portal Geledés