sexta-feira, 22 de abril de 2016

Quem foi Harriet Tubman, o novo símbolo das notas de US$ 20

Harriet Tubman ilustrará as cédulas de 20 dólares, no máximo, a partir de 2020, ano do centenário da conquista do voto feminino nos EUA.


Harriet Tubman nasceu em Maryland, estado localizado entre o sudeste e o noroeste americano, na década de 1820. Como escrava, aos seis anos começou a trabalhar como servente doméstica. Aos 13, foi enviada para trabalhar nos campos da fazenda onde vivia. Ela viu suas irmãs serem vendidas, os pais idosos trabalharem como escravos e carregou por toda a vida marcas físicas da escravidão: além das cicatrizes deixadas por chicotes, ela ganhou uma deficiência permanente depois de receber uma forte pancada na cabeça, desferida por um feitor e destinada a outro escravo a quem Harriet tentava defender – ela nunca se recuperou completamente e como consequência, por vezes caia em sono profundo sem querer. 



  Em 1849, conseguiu fugir rumo ao norte e se instalou na Filadélfia, onde arrumou emprego e moradia. Harriet trocaria a segurança da liberdade no Norte para voltar a Maryland uma dezena de vezes para libertar outros escravos. Operando na Underground Railroad (Rota Subterrânea) – como ficou conhecido o conjunto de estradas, caminhos e esconderijos secretos usados por escravos e abolicionistas para libertação de pessoas – Harriet comandou missões a seu estado natal para libertar entre 60 e 70 escravos, entre parentes e amigos. Ela disse que “nunca perdeu nenhum passageiro”, o que lhe rendeu o título de “a mais hábil condutora” das Rotas Subterrâneas. A determinação e tenacidade também lhe renderam o apelido de “General Tubman”, dado pelo abolicionista John Brown, que também a qualificou como “uma das pessoas mais corajosas do continente”.



  Nos Estados Unidos, ela se tornou mais conhecida por sua participação durante a Guerra Civil Americana (1861-1865). Kate Larson, historiadora e autora da biografia Bound for the Promised Land – Harriet Tubman: portrait of an American Hero (Destinada à Terra Prometida – Harriet Tubman: retrato de uma heroína americana, em tradução livre), qualifica Harriet como um “camaleão” – ela atuou como professora, cozinheira e espiã, conectando as tropas da União com redes de informações de escravos. "Ela é lembrada por sua determinação nas Rotas Subterrâneas, não só para se libertar, mas voltar diversas vezes para resgatar sua família e amigos, pondo sua vida em grande risco”, afirma Larson. “Muito poucas pessoas fizeram isso, e Tubman não o fez uma ou duas vezes, mas 13 vezes. Ela enfrentou a possibilidade de ser morta muitas vezes, quase foi capturada muitas vezes e continuou lutando contra a escravidão a cada momento que pôde. Ela nunca desistiu, ela continuava em frente”, diz a autora. Embora tenha tido um papel ativo, Tubman levaria 30 anos para conseguir do governo americano a pensão que lhe era de direito como “veterana” da Guerra Civil.





Depois do fim da guerra, Tubman viveu uma longa vida ao lado da família em Auburn, no estado de Nova York, onde passou a apoiar o movimento sufragista, que lutava pelo direito ao voto das mulheres. "O New York Times sempre tem um artigo no fim do ano sobre as pessoas notáveis do mundo que morreram naquele ano. Quando ela morreu, em 1913, foi citada como uma das pessoas mais famosas a morrer naquele ano – seu nome estava ao lado de reis e rainhas, autores famosos e industriais. Isso é extraordinário, para uma mulher negra nos Estados Unidos em 1913 receber esse tipo de honraria", afirma Larson. Durante sua vida, prolífica em atos, não deixou um documento escrito de próprio punho – como a maioria dos escravos, Harriet nunca foi alfabetizada. Ainda assim, é lembrada como uma grande oradora.



  Considerando o momento atual nos Estados Unidos – com o surgimento de movimentos como o Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), que denuncia o tratamento dado a negros no país pelas forças de segurança, e o fato de o mandato do primeiro presidente negro do país, Barack Obama, se encaminhar para seu fim – a mudança na nota de US$ 20 pode ter uma simbologia muito importante, de acordo com Larson. “Representa o quanto Tubman lutou para que esse país avançasse em questões de liberdade e igualdade. Nós progredimos bastante, ainda temos um longo caminho a percorrer, mas ela realmente mudou o mundo e tê-la naquela nota vai ajudar a levar adiante uma conversa que esse país tem tido dificuldade de levar: o legado da escravidão e como nós ainda vivemos com esse legado hoje. Ela vai nos ajudar a ter essa conversa de forma mais ampla e significativa. E nós, como um povo, temos que estar incrivelmente orgulhosos", afirma.


Além da nota de US$ 20, recentemente dois parques foram nomeados em sua homenagem nos Estados Unidos. A atriz afro-americana Viola Davis, indicada a prêmios e conhecida por sua atuação no filme Vidas Cruzadas, já anunciou que protagonizará sua cinebiografia. "Ela está recebendo o que merece. A significância disso é que as pessoas olharão para essas notas todo santo dia, eles pensarão sobre sua luta, sobre o legado da escravidão nesse país, talvez isso leve as pessoas a fazer algo e isso fomentará a discussão sobre racismo. Vai mudar a vida das pessoas”, diz Larson. “Tubman teria amado isso, teria sido o que ela queria”

Fonte: Revista Época

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Conflito regional da Nigéria: O número de crianças usadas em ataques suicidas aumentou dez vezes



Dakar/Nova Iorque/Genebra, 12 de abril de 2016 – O número de crianças envolvidas em ataques suicidas na Nigéria, nos Camarões, no Chade e no Níger aumentou drasticamente no ano passado, de 4, em 2014, para 44, em 2015, Segundo informe do UNICEF divulgado hoje. Mais de 75% das crianças envolvidas nos ataques são meninas.
"Vamos ser claros: essas crianças são vítimas, não perpetradores", afirmou Manuel Fontaine, diretor regional do UNICEF para a África Central e Ocidental. "Iludir crianças e forçá-las a praticar atos mortais tem sido um dos aspectos mais terríveis da violência na Nigéria e nos países vizinhos".
Divulgado dois anos depois do sequestro de mais de 200 meninas em Chibok, o informe Beyond Chibok (Além de Chibok – disponível somente em inglês) revela tendências alarmantes em quatro países afetados pelo Boko Haram nos últimos dois anos:

  • Entre janeiro de 2014 e fevereiro de 2016, os Camarões registraram o número mais elevado de ataques suicidas envolvendo crianças (21), seguido pela Nigéria (17) e pelo Chade (2).
  • Durante os últimos dois anos, aproximadamente uma a cada cinco pessoas que participaram de ataques suicidas com bombas era criança; e três quartos destas crianças eram meninas. No ano passado, as crianças foram usadas em metade dos ataques nos Camarões; em um a cada oito no Chade; e em um a cada sete na Nigéria.
  • No ano passado, pela primeira vez, os ataques suicidas com bombas espalharam-se para além das fronteiras da Nigéria. A frequência desses ataques suicidas aumentou de 32, em 2014, para 151, em 2015. Também em 2015, 89 desses ataques aconteceram na Nigéria; 39, nos Camarões; 16, no Chade; e 7, no Níger.

O uso premeditado de crianças que podem ter sido coagidas a transportar bombas criou um ambiente de medo e suspeita com consequências devastadoras para as meninas que sobreviveram ao cativeiro e à violência sexual pelo Boko Haram no nordeste da Nigéria.
As crianças que fugiram dos grupos armados, ou que foram libertadas, são muitas vezes vistas como potenciais ameaças à segurança, como mostra um estudo recente do UNICEF e da ONG International Alert. As crianças nascidas como resultado de violência sexual são também vítimas de estigmatização e discriminação nas suas aldeias, comunidades de acolhimento e em campos para deslocados internos.

"À medida que os ataques suicidas envolvendo crianças se tornam frequentes, algumas comunidades começam a ver as crianças como uma ameaça à sua segurança", afirmou Fontaine. "Essa desconfiança em relação às crianças pode ter consequências destrutivas. Como uma comunidade pode se reconstruir quando está banindo suas próprias irmãs, filhas e mães?"
Beyond Chibok avalia o impacto do conflito nas crianças nos quatro países afetados pelo Boko Haram. O relatório aponta que:

  • Cerca de 1,3 milhão de crianças foram deslocadas.
  • Aproximadamente 1.800 escolas estão fechadas – ou porque foram danificadas, saqueadas, incendiadas ou porque são usadas como abrigo por pessoas deslocadas.
  • Mais de 5 mil crianças estão desacompanhadas ou separadas dos seus pais.

O UNICEF está trabalhando com comunidades e famílias na Nigéria, no Chade, nos Camarões e no Níger para combater o estigma contra as crianças sobreviventes de violência sexual e para criar um ambiente protetor para as que foram libertadas do cativeiro.
Com os seus parceiros, o UNICEF fornece água potável e serviços essenciais de saúde; ajuda a restabelecer o acesso à educação, criando espaços temporários de aprendizagem; e oferece tratamento terapêutico para crianças desnutridas. O UNICEF também providencia apoio psicológico para as crianças a fim de ajudá-las a lidar com problemas emocionais.

A resposta a essa crise continua com um grave déficit financeiro. Neste ano, somente 11% dos US$ 97 milhões necessários para a resposta humanitária do UNICEF foram arrecadados. O UNICEF solicita um maior compromisso dos doadores para apoiar crianças e mulheres afetadas pelo conflito na Nigéria, no Níger, nos Camarões e no Chade.

Fonte: UNICEF Brasil

terça-feira, 5 de abril de 2016

Ao Som dos Atabaques: Costumes Negros e as Leis Republicanas em Salvador-BA (1890-1939)



Hoje é um dia simbólico pra mim. Há 5 anos atrás, no dia 05 de abril de 2011, defendi minha Dissertação de Mestrado em História Regional e Local pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB - Campus V, em Santo Antônio de Jesus-BA), na Linha de Pesquisa Estudos Sobre Trajetórias das Populações Afro-brasileiras.

Como eu disse na época, agradeço aos Orixás e a todos os espíritos ancestrais que possibilitaram que, no dia 13 de maio de 2009, exatamente 121 anos depois da abolição oficial da escravidão no Brasil, em que aos Negros era vedado o direito à educação e era proibido até mesmo saber ler e escrever, eu tivesse a minha primeira aula em um curso de pós-graduação de uma Universidade pública. Não conquistei nada disso sozinho. Tenho plena consciência da luta de muitas pessoas que vieram antes de mim para tornar este fato possível. Sei também do papel da minha família, dos meus amigos, professores e das minhas orientadoras Nancy Assis, desde a graduação, e Isabel Reis, em todas as etapas do processo.

Tenho orgulho de reafirmar minha condição de COTISTA, assim, com todas as letras maiúsculas, pra provar que o abismo que separa brancos e Negros no Brasil é motivado simplesmente pelas oportunidades historicamente desiguais.

Falando sobre a dissertação, o presente estudo se propõe a analisar algumas medidas governamentais e jurídicas tomadas desde o final do século XIX até as primeiras décadas do século XX e perceber até que ponto, explícita ou implicitamente, estas leis buscaram exercer certo controle sobre as práticas culturais majoritariamente negras em Salvador – a exemplo do Candomblé e da Capoeira –, com o intuito de levar à frente os ideais de “modernização” e de “exclusão dos indesejáveis”, agora que esta parcela da população não se encontrava mais sob o controle e a perseguição de senhores, feitores e capitães-do-mato. Jornais e documentos policiais, como portarias e processos-crime, também são utilizados, com o intuito de verificar a aplicação das leis republicanas (ou sua violação) no cotidiano da cidade, principalmente no que se refere aos costumes mais comuns às populações negras.


Compartilhando conhecimentos, espero que este trabalho seja útil a quem ler. Isso é Ubuntu.

Ao Som dos Atabaques. Costumes Negros e as Leis Republicanas em Salvador (1890-1939)

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Calendário Negro: Há 48 anos,Martin Luther King Jr. foi assassinado


No dia 4 de abril de 1968, Martin Luther King Jr., pastor evangélico e um dos principais nomes do movimento Negro contra o racismo e em defesa dos direitos civis nos Estados Unidos, finalmente fora assassinado, após sobreviver a inúmeros atentados e ameaças.
O atentado fatal ocorreu na cidade de Memphis, Tennessee, em que King fora atingido por disparos enquanto estava na sacada de um hotel.
Martin Luther King Jr. havia recebido o Prêmio Nobel da Paz quatro anos antes, em 1964. Seus discursos inflamados e seu poder de mobilização das massas eram uma preocupação constante da sociedade racista estadunidense, bem como do próprio governo, fatos que põem em dúvida, até hoje, a real autoria e motivação de seu assassinato.
O corpo do reverendo se foi, mas suas ideias permanecem vivas para sempre!