terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Por uma infância sem racismo - Vídeo do UNICEF com Lázaro Ramos

"Se a nossa diversidade deve ser celebrada, por que crianças que nascem diferentes não têm direitos iguais?" A pergunta do ator baiano Lázaro Ramos nos faz pensar a respeito dos ideais de "igualdade social" e "justiça" no Brasil. Até quando as crianças de cor negra serão vítimas das diversas formas de violência e da pobreza?  56% das crianças negras no Brasil são atingidas por esse mal. 62% das crianças que estão fora das escolas também são negras.
O que podemos fazer pra mudar?
Enquanto permanecerem os mesmos grupos políticos se revezando no poder e reforçando ainda mais suas riquezas, o status quo continuará inalterado. Enquanto aumentam R$ 15,00 no salário mínimo, causando "prejuízos avassaladores na Previdência", nossos comprometidos representantes se dão 100, 150, 200% de aumento...
"E o caos segue em frente com toda a calma do mundo": Os brancos ricos gerarão filhos brancos ricos; os negros pobres continuarão lutando pra sobreviver e gerando filhos negros pobres. Nosso eterno círculo vicioso.

Pela Igualdade Racial!
Por leis que verdadeiramente nos representem!
Totalmente a favor das Cotas!

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Vendedora de sorvetes e ex-moradora de rua passa na Ufba

Postei essa matéria, que está no jornal Correio da Bahia, como forma de incentivo a quem acha "impossível" passar no vestibular. Como eu sempre digo, "vestibular é só uma prova". Espero que ela tenha condições de seguir o curso até o final, pois sabemos o quanto nossas universidades são excludentes...

Alexandre Lyrio | Redação CORREIO
alexandre.lyrio@redebahia.com.br 
Na prova da vida,  Mona Lisa Nunes de Souza, 23, marcou a alternativa correta. Restava o vestibular e, também nesse caso, acertou em cheio. Aprovada  na Universidade Federal da Bahia (Ufba), seu nome consta entre os 45 selecionados para cursar história. Seria apenas mais uma estudante de ensino superior se na sua linha do tempo tudo não tivesse conspirado para que sequer completasse o primeiro grau.



A fábrica de sorvetes no quarto do barraco e saindo para estudar História  

“Sentem-se aí”, convidou, ao receber o CORREIO na Igreja Batista Sinai, no Barbalho, onde fez um cursinho para alunos de baixa renda. Após puxar a cadeira e sentar-se, a mais nova estudante de História da Ufba começou contando a sua própria. Uma trajetória de tragédia e superação.
Atual vendedora de sorvetes no bairro do Santo Antônio, Mona conta que foi abandonada pela mãe quando criança. Entregue à avó numa cidade do interior, apanhava e era tratada como empregada doméstica. “Passava o dia lavando roupa e arrumando a casa. Me alimentava com restos de comida dela”.
Sempre teve o sonho de reencontrar a mãe. Mas, quando ela reapareceu de repente, descobriu que na verdade o pesadelo começaria ali. Aos 9 anos, foi trazida para a capital sem ter onde morar. Passou seis anos nas ruas. A essa altura, a mãe e as duas irmãs estavam viciadas em crack. “Nunca nem toquei nessas”.

Sobrevivia pedindo esmolas, fazia malocas de papelão para dormir e esperava o “carro da sopa” passar à noite. Pela manhã, tomava café na Ladeira de Santana, onde até hoje existe uma instituição de caridade que assiste moradores de rua. Quando tinha comida para cozinhar, usava fogareiros de álcool. Numa dessas, aos 14 anos, foi vítima de uma explosão.

Alma queimada
“Coloquei álcool e não vi que ainda tinha fogo aceso no fogareiro”. Mona ficou 30 dias internada no setor de queimados do Hospital Geral do Estado com 40% do corpo atingido com queimaduras de primeiro, segundo e terceiro graus. “Fiquei desfigurada. Minha mãe só foi me visitar uma vez”. Isso lhe queimou a alma.

Órgãos públicos até ajudaram a família, que em alguns anos foi agraciada com duas casas do governo. “Mas minha mãe vendia as casas e voltava para a rua”. Mona era a única a não se conformar. Por iniciativa própria, longe dos olhares da mãe, matriculava-se em escolas públicas.

“Minha mãe era analfabeta e não queria que eu estudasse. Sempre dizia: ‘Pra que estudo? Com a vida que você tem, você não precisa’. Mas eu me matriculava escondido”. 

Perdeu alguns anos letivos por ausência. “Eu  tinha que fazer serviços domésticos o dia inteiro. Senão apanhava. Apanhava muito”. Através de uma instituição pública, conseguiu emprego como ajudante de cozinha de um restaurante que só abria aos sábados e domingos. Ganhava R$ 15 por dia. Foi quando fugiu de casa para morar no emprego. Teve que largar a família para não abandonar os livros.

Teve outros dois empregos. Trabalhava das 6h às 19h e corria para escola. No Colégio Estadual Marques de Abrantes, no Santo Antônio, conheceu o esposo, Welson Pereira, 27, com quem se casou há quatro anos. Logo ele, que largou os estudos para ser sorveteiro. “Ele é meio preguiçoso para os estudos. Fica dando desculpa pra não voltar a estudar”.

Sustento  Juntaram um dinheirinho, compraram freezer e máquina de fazer sorvete. Até outro dia, Mona passava a manhã e as tardes misturando ingredientes e essências para produzir o seu sustento. À noite, tentava garantir o seu futuro na sala de aula. “Às vezes fazia tudo ao mesmo tempo. Enquanto fazia o sorvete dava uma olhadinha nos livros”. Atravessou o segundo grau nos colégios Central e Icéia. Depois, entrou para o cursinho. 

“Só chegava aqui esbaforida, essa menina”, lembra Riva Araujo, coordenadora do cursinho. O professor de História Marcelo Mascarenhas, o maior incentivador, diz que a realidade vivida pela aluna faz com que ela entre na universidade com uma maior capacidade crítica.

“É incrível. Para Mona, história é algo vivo. Através da disciplina, ela parece entender melhor as engrenagens sociais que a levaram a condição de pobreza e exclusão”, acredita o professor. Na nova fase, Mona tentou incluir as irmãs e a mãe.  Mas descobriu que, ao colocá-las dentro da sua própria casa, estava sendo roubada. “Levavam minhas coisas para sustentar o vício”.
Como não deu certo. Prefere nem ter notícias, mas elas chegam. “A última vez que soube das minhas irmãs, uma estava namorando um traficante. A outra continua se prostituindo”. A mãe, a maior mágoa, é a única a fazê-la chorar. “O mais duro é saber que ela não gostava de mim”. 

A aprovação na Ufba ajuda a abrandar o passado triste. Estava entre os 191 inscritos no vestibular para História. Enfrentou cinco candidatos para cada vaga. Agora só espera o dia da matrícula e o início das aulas, marcado para o final de fevereiro.

A paixão pela disciplina que dá nome ao curso começou de repente. “Fico imaginando como aconteciam as coisas do passado.  Me imagino na cena. Me revolto com as injustiças daquele tempo”, diz Mona. Curioso. Uma pessoa tão interessada no passado jamais abriu mão do futuro.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Calendário Negro - Fevereiro


01 - Nascimento, em Minas Gerais, da antropóloga e filósofa Lélia Gonzalez, intelectual e militante / 1935


02 - Dia de Iemanjá
02 - Nasce em Vitória (ES), a atriz e escritora Elisa Lucinda. (1958)
02 - O plenário da Constituinte aprova a emenda de autoria do Deputado Federal Carlos Alberto de Oliveira - Caó, do PDT (RJ) - estabelecendo que racismo passa a ser crime inafiançável e imprescritível. (1988)
02 - Morre em um acidente automobilístico o compositor e vocalista Francisco de Assis França – Chico Science, criador do gênero musical “mangue beat” e integrante da banda “Chico Science & Nação Zumbi. (1997)


03 - O governo de Frederick de Klek anuncia a libertação iminente de Nelson Mandela, após 26 anos de prisão, e apresenta um pacote de medidas: legalização do Congresso Nacional Africano, o fim da pena de morte, a soltura de presos políticos não envolvidos em mortes ou atos de terrorismo. O líder negro exige mais concessões para ser libertado.
03 - Morre assassinado por agentes portugueses em Dar-es- Salam, na Tanzânia, Eduardo Mondlene, presidente da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique). (1969)

06 - Nasce na Jamaica Robert Nesta Marley, Bob Marley, o maior ícone do Reggae de todos os tempos. (1945)
06 - É destruído o Quilombo dos Palmares. (1694)
06 - Nasce em Igarapava (SP) o cantor Jair Rodrigues de Oliveira - Jair Rodrigues. (1939)


07 - Nascimento de Clementina de Jesus da Silva, Valença/RJ (1902)

09 - Nasce a escritora Alice Walker, na Geórgia, EUA / 1944

10 - Nasce em Salvador (BA), Maria Escolástica da Conceição Nazaré, a Mãe Menininha do Gantois. (1894)


11 - Libertado Nelson Mandela, depois de 27 anos de prisão, na África do Sul (1990)


12 - Nascimento de Arlindo Veiga dos Santos, acadêmico e primeiro Presidente da Frente Negra Brasileira (1902)
12 - Admitido o primeiro universitário negro na Universidade de Alabama - EUA /1956
12 - Nasce em Duas Barras (RJ) o compositor e cantor Martinho José Ferreira, o Martinho da Vila, um dos grandes criadores do samba carioca e um dos maiores impulsionadores das relações culturais entre o Brasil e o continente africano. (1938)
12 - Nasce em Garanhuns (PE) o cantor, compositor e instrumentista José Domingos de Morais - Dominguinhos. (1941)


13 - Assassinato de Patrice Lumumba - Congo (1961)

14 - Nasce nos Estados Unidos, Frederick Douglas, escritor, defensor da causa abolicionista. (1817)
14 - Morre aos 71 anos de idade, o líder e estudioso das questões negras, o baiano Manuel Querino. (1923)
Morre no Arraial do Tijuco, atual Diamantina (MG), aos 70 anos de idade, Francisca da Silva, a lendária Chica da Silva. (1796)





15 - Morre num hospital em Santa Mônica, (EUA), vítima de câncer, o cantor Nathaniel Adams Coles - Nat King Cole. (1965)

17 - Morre aos 75 anos, Alfredo Viana Filho, o Pixinguinha, um dos maiores e mais importantes compositores brasileiros. (1973)
18 - Fundação em Salvador (BA), do Afoxé Filhos de Gandhi. (1949)

18 - Morre o poeta, compositor, ator e teatrólogo Solano Trindade (1974)

19 - O americano W. E. B. Dubois, um dos pioneiros da luta pela independência e unidade africana, organiza o I Congresso Pan-Africano, em Paris. (1919)
19 - Carter G. Woodson cria, nos EUA, a "Negro History Week", atualmente o "Black History Month" (Mês da História Negra) (1926)

21 - Morre assassinado Malcolm X (1965)

23 - Nasce William Edward Burghardt Dubois, doutor em Filosofia e pai do pan-africanismo contemporâneo. (1868)


 
25 - Nasce em Glória do Goitá (PE), João Francisco dos Santos, Madame Satã, o primeiro travesti artista do Brasil e famoso malandro do Rio de Janeiro, (1900)
25 - Morre em São Paulo (capital), o poeta, romancista, crítico de arte e crítico literário, Mário Raul de Moraes Andrade - Mário de Andrade, autor de “Macunaíma - O Herói sem Nenhum Caráter”. (1945)
25 - O pugilista Cassius Clay ganha o título de Campeão Mundial de Boxe na categoria peso pesado, ao derrotar na cidade de Miami, Flórida (EUA), Sonny Liston. (1964)

26 - Nasce no Rio de Janeiro o cantor Wilson Simonal de Castro - Wilson Simonal. (1939)
26 - As potências européias repartem o continente africano (1885)

27 - Independência da República Dominicana. (1844)


quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Odoyá, Iemanjá!


Dia 2 de fevereiro é uma data especial para os pescadores e adeptos do Candomblé de diversas partes do Brasil, especialmente para os baianos. É quando se sauda a "Rainha do Mar", a "Dona das Águas Salgadas", a grande mãe Iemanjá.
Em Salvador, desde a madrugada, as colônias de pescadores do bairro do Rio Vermelho organizam as oferendas, que geralmente são espelhos, perfumes e flores - os seus presentes favoritos - para levar ao mar nos balaios, agradecendo pela fartura na pescaria ou em outros âmbitos da vida, e fazendo pedidos.
A festa de Iemanjá há muito tempo já transcendeu os pescadores e o Candomblé. Aqui na Bahia, por exemplo, é comum encontrar pessoas de diversas religiões (tá bom, evangélico não conta!), das variadas classes sociais e atividades econômicas. É um dos principais eventos religiosos do calendário baiano e leva ao bairro do Rio Vermelho mais de 400 mil pessoas todo ano. Sua origem, como não podia deixar de ser, remete ao período colonial, trazida e adaptada pelas diversas etnias africanas e passada de geração em geração.
Iemanjá é um dos Orixás da Criação, sendo assim, uma das mais respeitadas divindades, a Mãe dos Orixás. Sua importância é tão grande que muitos dos que tentam se apropriar de sua imagem se esquivam de mostrá-la como negra, como ela é, assim como todos os outros Orixás. É difícil achar uma imagem que a retrate como uma mulher negra. A maioria das representações de Iemanjá as deixa quase como uma santa católica, provavelmente influência do sincretismo religioso, que foi muito importante na época da repressão à religiosidade dos antigos escravos, mas hoje é completamente desnecessária.