quarta-feira, 28 de março de 2012

O divisor, de Wlamyra R. de Albuquerque



Era atlântica a solidão negra.
E nestes dias atlânticos sabemos ser nosso o que está distante,
submerso em travessias absurdas, em náuseas intermináveis.

Foi atlântico o medo do mar, a adivinhação da tempestade, a expectativa da rotina.
Foi atlântica a dissimulação de esperança

Nestes dias, sabemos ser nosso o que está distante.
Ela disse ser Esperança da Boaventura,
como os Aleluia, os Bonfim, os da Cruz, os do Espírito Santo.

Com tantos outros, mergulhamos num flagelo atlântico.
Desde então, estamos todos assentados no fundo do oceano.

(Wlamyra Albuquerque em O Jogo da Dissimulação: Abolição negra e cidadania negra no Brasil, publicado pela editora Companhia das Letras, em 2009.)

domingo, 11 de março de 2012

Iluminado - Vander Lee



Vi o meu sentido confudido, iluminado
Vi o sol enluarar quando vi você...

Vi a tarde inteira, a sexta-feira o feriado
Esperando o amor chegar e trazer você

Você chegou querendo
Tudo que o tempo não te deu
E que levou de você, sem saber que você já sou eu...

Agora não entendo
O meu relógio, o amor tirou
Mas sei que o meu coração tá batendo mais forte
Porque você chegou!

(Dedicado à minha noiva que tá fazendo aniversário hoje. Dayane, depois que você chegou, meus dias ficaram muito mais iluminados!)

quinta-feira, 8 de março de 2012

Um dia especial a todas as mulheres!


A todas as mulheres, símbolos de força, que desde a infância são "educadas" pela sociedade machista para serem pequenas mães, cuidando de bebês de brinquedo e brincando com cozinhas de plástico, enquanto os meninos brincam de ser super-heróis.
A todas que se viram pra criar os filhos e ao mesmo tempo precisam sair pra sustentar a família e complementar a renda de casa. 
A todas as mães solteiras que fazem o papel de mãe e de pai, e não deixam que seu filhos vejam nenhuma lágrima, apesar das dificuldades.
Para aquelas que, mesmo no século XXI, ainda recebem salários menores que os homens, apesar de desempenharem as mesmas funções.
Às mulheres que infelizmente ainda sofrem agressões daqueles que dizem que as amam dentro de casa. Tenham coragem de denunciá-los e pulso firme pra resistir às ameaças.
E principalmente a TODAS AS MULHERES NEGRAS, que sofrem do mesmo machismo que as mulheres não-negras, com o agravante do racismo que está sempre presente e as fazem ser ainda mais invisibilizadas ou menosprezadas pela sociedade que ajuda diariamente a construir, desde o início da colonização, quando foram arrancadas de suas famílias para criar os filhos dos outros.
Um salve a todas as mulheres por todos os seus dias!

segunda-feira, 5 de março de 2012

Lá no Água Grande

Lavadeiras. Pintura de Carybé.
Lá no "Água Grande" a caminho da roça
Negritas batem que batem co'a roupa na pedra.
Batem e cantam modinhas da terra.

Cantam e riem em riso de mofa
histórias cantadas. arrastadas pelo vento.

Riem de alto rijo, com a roupa na pedra
e põem de branco a roupa lavada

As crianças brincam e a água canta.
Brincam na água felizes...
Velam no capim um negrito pequenino.

E os gemidos cantados das negritas lá do rio
ficam mudos lá na hora do regresso...
jazem quedos no regresso para a roça.

(Poema de Alda do Espírito Santo, poetisa de São Tomé)