terça-feira, 1 de março de 2016

O discurso de Chris Rock e a falta de diversidade no Oscar

"Estou aqui no Oscar, também conhecido como o Choice Awards dos brancos".

Como de costume em assuntos polêmicos, sempre prefiro aguardar algum tempo, antes de emitir uma opinião. O tempo é necessário para que evitemos equívocos ou excessos, motivados pelo calor do momento.
Pois bem...

O cinema é um dos maiores meios de divulgação de uma cultura para o mundo, algo que os Estados Unidos fazem magistralmente há décadas. É através dos filmes que o american way of life é difundido para ser contemplado como a "terra das oportunidades", pelos outros países e pelo seu próprio povo. Esse é o motivo da representatividade ser tão importante. É por isso que desejamos ver protagonistas Negros, mulheres, LGBT e quaisquer outras categorias vistas como "minorias", expressão que eu, definitivamente, não abraço.

Devido à grande repercussão, pelo fato de artistas como Spike Lee e o casal Will e Jada Pinkett-Smith terem boicotado a cerimônia em protesto à sua falta de diversidade, já que nenhuma pessoa Negra foi indicada a nenhuma categoria pelo segundo ano consecutivo, o discurso de abertura de Chris Rock, o apresentador do 88º Oscar, era muito aguardado.

O humor ácido e sutil de Rock é sua marca registrada e ele atuou como uma espécie de mediador, como sua função de hoster pedia, mas sem deixar de se posicionar enquanto um pontinho preto cercado por centenas de pontinhos brancos. Tal fato pode ser evidenciado pela sua frase de abertura: " Uau, cara! Contei umas quinze pessoas Negras ali fora!" 

Muita gente não entendeu de imediato as críticas que ele fez durante a sua fala (daí a necessidade do tal tempo pra digerir as informações) e muitos se precipitaram em dizer que ele fez o "jogo dos brancos", que ficou em cima do muro, que foi egoísta etc., mas eu não vejo dessa forma. Uns o criticaram por, aparentemente "pegar leve" demais, e outros, por ter sido duro demais com algumas piadas, principalmente nas suas referências ao extermínio de Negros promovido pela Ku Klux Klan. De fato, foi pesado (e deveria ser, não tem como suavizar uma tema como esse), mas eu vejo isso como o método que ele encontrou pra atingir seu objetivo, passar a mensagem sem ataques diretos e ao mesmo tempo, sem deixar de ser quem sempre foi. Aquela história de "toda brincadeira tem um fundo de verdade", sabe como é?

Independente das críticas que se possa fazer ao monólogo de Chris Rock, fato é que ele teve mais de 10 minutos pra falar a milhões de pessoas e contextualizar os fatos que o levaram a estar ali naquela noite. Teve a segregação racial dos anos 1950/60, as variadas formas de violência imposta aos Negros ("estávamos muito ocupados sendo linchados e estuprados, para nos importar sobre quem era o melhor cinematografista") e até os atuais casos de assassinatos de Negros pela polícia, ao sugerir que a sessão In Memorian deste ano tivesse apenas Negros que foram baleados por eles a caminho de seus filmes. Próximo ao final do discurso, Rock foi mais direto e tocou no ponto central de toda a discussão: o que nós queremos são OPORTUNIDADES! Não uma, mais várias. Que os atores e atrizes Negrxs possam assumir um protagonismo maior e possuam uma maior gama de personagens, além daqueles tipos estereotipados que já conhecemos bem. Isso perpassa pelo incentivo a diretores/as, roteiristas e produtores/as Negrxs, que retratem núcleos Negros em seus filmes, que incluam famílias Negras, pares românticos Negros...

Apesar de tudo, mesmo concordando com a afirmação de Chris Rock, com todas as letras, de que Hollywood é mesmo racista, não há como negar que os tempos estão mudando. Não foi a primeira vez que pessoas Negras foram "esquecidas" nas indicações, mas toda essa repercussão mostra que isso sempre esteve errado, e as pessoas não estão mais dispostas a aceitar pacificamente. Acredito que não vai mais acontecer com tanta frequência depois disso, porque, se acontecer, a reação vai ser ainda maior. Nossa luta por representatividade chegou pra ficar.













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