Pela estrada desce a noite 
Mãe-Negra, desce com ela... 
Nem buganvílias vermelhas, 
nem vestidinhos de folhos, 
nem brincadeiras de guisos, 
nas suas mãos apertadas. 
Só duas lágrimas grossas, 
em duas faces cansadas. 
Mãe-Negra tem voz de vento, 
voz de silêncio batendo 
nas folhas do cajueiro... 
Tem voz de noite, descendo, 
de mansinho, pela estrada... 
Que é feito desses meninos 
que gostava de embalar?... 
Que é feito desses meninos  
que ela ajudou a criar?... 
Quem ouve agora as histórias 
que costumava contar?... 
Mãe-Negra não sabe nada... 
Mas ai de quem sabe tudo, 
como eu sei tudo 
Mãe-Negra!... 
Os teus meninos cresceram, 
e esqueceram as histórias 
que costumavas contar... 
Muitos partiram p'ra longe, 
quem sabe se hão-de voltar!... 
Só tu ficaste esperando, 
mãos cruzadas no regaço, 
bem quieta bem calada. 
É a tua a voz deste vento, 
desta saudade descendo, 
de mansinho pela estrada.. 
Lisboa, 1951 (de Poemas, 1966)
Nenhum comentário:
Postar um comentário