segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

O injustiçado Balotelli

Vamos lá...
Não queria começar o ano falando sobre esse assunto, mas o racismo não tira férias.
Mario Balotelli, que, atualmente, defende o Brescia, na Itália, foi alvo de mais uma manifestação racista durante a partida contra a Lazio (sempre a Lazio...). A partida foi interrompida por alguns minutos, conforme a nova determinação, mas, pra variar, não deu em nada.
Esses casos se proliferam na Europa e apenas os personagens mudam. Só aqui no Ufanisi já publiquei diversos casos, embora eu deteste fazê-lo. O roteiro e o desfecho são sempre os mesmos. A UEFA e a FIFA não tomam medidas efetivas, insistem com as mesmas campanhas "educativas" que não afetam ninguém.

Sobre Balotelli, proponho uma reflexão: se é extremamente difícil ser Negro no Brasil, se já é uma luta constante ser Negro em Salvador, uma das cidades mais Negras do planeta, imagina o que é ser um italiano Negro. Imagina subir pra aquecer antes de uma partida pela sua seleção e alguém, supostamente de sua própria torcida, gritar que "não há italianos Negros", como se tornou comum. Nenhum órgão da justiça ou das entidades que regem o futebol está realmente preocupado em combater o racismo e, tal qual acontece por aqui, transfere a culpa para a vítima. A imprensa tem grande participação nisso também, porque aborda de forma tímida e superficial o tema e também responsabiliza Balotelli por não ter equilíbrio emocional para lidar com as críticas e "provocações" dos adversários.

Balotelli é visto como "problemático", como "marrento", "bad boy", entre outras coisas, justamente por não se submeter, por não ficar em silêncio sobre o racismo, desde que começou a despontar para o futebol. Esse é o argumento que muitos usam pra tentar justificar a perseguição que o acompanha por onde quer que ele vá. Muita gente prefere ver o Negro em posição de submissão. Prefere se solidarizar com aquele que chora e demonstra fraqueza, não com o homem que tira a camisa e exibe os músculos, expressão séria no rosto e nenhuma comemoração após o gol.

Incomoda saber que Mario Balotelli é rico, bem-sucedido, já jogou Copa do Mundo, mantém projetos sociais e vive da maneira que quer, ostenta simplesmente pra mostrar que pode, e que seu lugar é onde ele quiser. Quem é Negro de verdade sabe que a "Sombra do Véu" está sempre presente, não importa o quão rico ou famoso você seja. O problema sempre foi racial. Só que Balotelli parte para o confronto e expõe a hipocrisia daqueles que tem o poder para mudar a situação de fato, mas nunca fazem nada. 

Sempre que falo sobre racismo no futebol, defendo punições exemplares aos CLUBES, além dos infratores. Os clubes não se empenham tanto quanto deveriam, já que não há nenhuma punição severa, e os racistas não estariam lá se os clubes não existissem, logo, sua responsabilidade é direta. Em casos explícitos como o que ocorreu na partida entre Lazio x Brescia, o time deveria ser punido com portões fechados, perda de pontos, exclusão ou rebaixamento da competição, da mesma forma que aconteceria em casos de violência física generalizada. Falta aos gestores (todos eles brancos) a convicção de que o racismo é um ato de violência tão grave quanto uma lesão corporal. Não adianta lamentar e levantar cartazes contra o racismo sempre que uma situação surgir, mas permitir que os criminosos mantenham sua rotina.


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