Na madrugada de 24 para 25 de janeiro de 1835, eclodiu, em Salvador-BA, o maior levante de negros escravizados da história do Brasil. A Revolta dos Malês, apesar de rápida, foi suficiente para abalar as estruturas da então capital do país, mostrando o poder de organização dos escravizados e libertos predominantemente muçulmanos. O nome "Malê" era utilizado para designar os africanos que eram adeptos do Islamismo, e esta religião foi muito importante para a organização do movimento, pois grande parte deles sabia ler e escrever em árabe, devido ao estudo Alcorão desde cedo.
Tinham como alguns objetivos libertar todos os muçulmanos que ainda fossem cativos, bem como confiscar os bens da elite branca, proclamar um império islâmico no Brasil e acabar com a imposição do Cristianismo na sociedade, possibilitando a abertura religiosa necessária para que o Islã prosperasse.
Antes de ser posta em prática, contudo, a revolta foi denunciada às autoridades, que também se organizaram rapidamente e a reprimiram com violência. Sete integrantes das tropas oficiais e cerca de 70 revoltosos morreram no confronto. Mais de 200 pessoas foram presas, e suas penas variaram de morte, açoites, trabalhos forçados à deportação de volta para a África, por medo de uma nova revolta, ainda mais organizada que essa, uma preocupação recorrente entre os detentores do poder político e econômico do país.
Mesmo que não tenha alcançado seus objetivos a priori, a Revolta dos Malês foi fundamental para que o Brasil repensasse os pilares sobre os quais sempre esteve estabelecido. A escravidão e a monarquia de raízes europeias foram cada vez mais questionadas desde então, junto com as demais revoltas do período regencial, e o processo de desgaste só aumentou no decorrer do século XIX, culminando com a abolição formal da escravidão, em 1888, e com a proclamação da República, no ano seguinte.
Sobre o assunto:
- FREITAS, Décio. A Revolução dos Malês. Porto Alegre: Movimento, 1985.
- REIS, João José. Rebelião Escrava no Brasil. A história do levante dos Malês em 1835. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
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