quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Muhammad Ali: Uma vida

 


"Flutue como uma borboleta, pique como uma abelha. As mãos não podem atingir o que os olhos não veem".

"Eu sou o maior. Eu disse isso antes mesmo de saber que era".

"Muhammad Ali: Uma vida" é a biografia que eu mais queria há muito tempo. Conta a trajetória do maior boxeador de todos os tempos, reverenciado pelos outros grandes lutadores, a exemplo de Mike Tyson, que era um de seus maiores fãs.

Tyson dizia que "o que Ali fez fora dos ringues foi maior do que o que fez dentro deles". Isso é verdade. Ali conseguiu fama sendo um lutador implacável, mas se notabilizou pelos seus posicionamentos contundentes contra o racismo e pelo empoderamento Negro. Chegou a perder seus títulos no boxe por ter se recusado a servir o exército estadunidense na guerra do Vietnã, afirmando que seu verdadeiro inimigo estava na América.

Ao se converter ao Islamismo, rejeitou seu "nome de escravo" Cassius Marcellus Clay Jr., assim como Malcolm X tinha feito, por exemplo.

Em suas quase 800 páginas, o livro se divide em três partes, cobrindo tudo de mais importante sobre a vida de Ali, baseada em extensa pesquisa em entrevistas , documentos e gravações do FBI. Sim, aquela agência que perseguiu diversas personalidades Negras dos anos 60/70, como Angela Davis, Martin Luther King Jr., Malcolm X e os Panteras Negras.

Muhammad Ali foi um homem muito forte. Para além do físico. É uma das minhas maiores inspirações.


segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Ganhadores, a greve Negra na Bahia, de João José Reis




Em Ganhadores , o historiador João José Reis reconstitui a história dos negros de ganho, ou ganhadores, protagonistas de uma insólita greve que paralisou o transporte na capital baiana durante vários dias em 1857.

Esses trabalhadores escravizados, libertos ou livres, todos africanos ou seus descendentes, se organizavam em grupos de trabalho e percorriam a cidade de cima a baixo fazendo todo tipo de serviço, sobretudo o carrego de pessoas e objetos ou a venda de alimentos e outras mercadorias. Em 1857, porém, a Câmara Municipal baixou uma postura impondo-lhes medidas que combinavam arrocho fiscal e controle policial. Mas os ganhadores, que já viviam dia e noite sob a vigilância e a violência de autoridades, senhores e “cidadãos de bem”, não se deixariam abater. O resultado foi a primeira mobilização grevista no Brasil a paralisar todo um setor vital da economia urbana.

Baseado em ampla investigação em documentos escritos, impressos e iconográficos, Ganhadores é um livro revelador e essencial para se compreender a intrincada rede de relações sociais, econômicas e culturais que estruturava a sociedade baiana do século XIX, ancorada na instituição da escravidão e caracterizada por um sistema de controle baseado numa economia de favores e domínio paternalista.
Se o episódio de resistência aqui narrado trata mais especificamente da Bahia do século XIX, ele tem muito a dizer sobre as relações e opressões sociais e raciais no Brasil de hoje.

domingo, 19 de outubro de 2025

Marrocos é campeão da Copa do Mundo Sub-20

 


Marrocos conquistou a primeira taça da Copa do Mundo Sub-20, neste domingo. No estádio Nacional Julio Martínez Prádanos, em Santiago, a seleção africana derrotou a Argentina por 2 a 0, com dois gols de Zabiri. Maiores vencedores do torneio, os sul-americanos perderam a chance de se isolar com sete títulos. 

A estrela da final foi Yassir Zabiri. O atacante de 20 anos foi para o jogo empatado na artilharia do torneio com outros três atletas, mas se isolou na liderança ao marcar duas vezes contra a Argentina. Ele abriu o placar aos 11 minutos com um golaço de falta e ampliou aos 28.

Fonte: GE

terça-feira, 7 de outubro de 2025

"Malês", um filme necessário

 

Fiquei feliz em ver que Antônio Pitanga finalmente conseguiu. Há anos, eu acompanhava as notícias sobre as dificuldades de financiamento que ele enfrentou pra realizar esse filme.

"Malês" conta a história da Revolta dos Malês, ocorrida entre 24 e 25 de janeiro de 1835, em Salvador. Foi o maior levante de escravizados da história do Brasil e um dos maiores da América, mesmo sem ter acontecido plenamente como planejado.

Os Malês eram Negros muçulmanos vindos, principalmente, da Nigéria e que tinham uma grande organização e sentimento próprio de identidade, a ponto de arrecadar dinheiro para comprar a alforria dos que ainda estavam escravizados. Eram alfabetizados, falavam árabe e o Islã era a base de tudo, apesar de recorrerem a outras nacionalidades africanas que também se encontravam por aqui.

Antônio Pitanga, diretor do filme, é Pacífico Licutan, um dos mentores intelectuais do movimento. Seus filhos Camila e Rocco também atuam e o historiador João José Reis, autor de "Rebelião Escrava no Brasil", o livro mais completo sobre o assunto, é creditado como responsável pela revisão histórica do filme.

"Malês" é forte e necessário como tem de ser. Ao assistir, você vai entender por que deu tanto trabalho pra que ele saísse.

O livro de João José Reis serviu como base teórica para o filme.


sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Morre Assata Shakur aos 78 anos


 A ativista política, ex-Pantera Negra, escritora, uma das principais referências na luta pelos direitos civis e contra o racismo, além de tia e madrinha de Tupac Shakur, faleceu hoje em Cuba.

Seu legado permanecerá vivo para sempre!

Rest In Power, sister!

Sugestões de leitura

 

Dois clássicos!

"Como a Europa subdesenvolveu a África", do historiador e líder teórico do pan-africanismo Walter Rodney, detalha o impacto da escravidão e do colonialismo na história da África. Escrita em 1972 e publicada agora pela primeira vez em língua portuguesa, a obra, considerada uma obra-prima da economia política, argumenta que o inabalável “subdesenvolvimento” africano não é um fenômeno natural, e sim um produto da exploração imperial do continente, prática que continua até hoje. Um dos principais argumentos ao longo do livro é o de que a África desenvolveu a Europa na mesma proporção em que a Europa deliberadamente subdesenvolveu o continente africano.

Rodney detalha as formas de exploração econômica de diversos povos e regiões, primeiro como fornecedores de mão de obra escravizada e, depois, como mão de obra assalariada extremamente subvalorizada. Além disso, aborda como se deu a intervenção direta do modo de produção capitalista nas práticas econômicas típicas de cada povo e região, na divisão sexual do trabalho tradicional dos povos africanos e na educação formal durante o colonialismo.



Em "A nova era do império", o sociólogo britânico Kehinde Andrews reconstrói a história do Ocidente para demonstrar que racismo, xenofobia e afetos correlatos não são fenômenos regressivos ou anacrônicos. Pelo contrário, longe de significarem o retorno a um passado que a modernidade teria há tempos enterrado, eles seguem presentes, como substrato da sensibilidade cotidiana e cimento de nossa estrutura social.

Assolada por uma crise de representatividade sem precedentes, desprovida de utopias que possam conter o avanço predatório do capitalismo e sob a ameaça iminente da emergência climática, a civilização ocidental procura uma saída que não pode mais ser oferecida por nenhuma de suas (des)ilusões de progresso. “É a chance de recusar a próxima atualização de sistema do imperialismo, destruir o hard drive e criar uma estrutura inteiramente nova para o sistema político e econômico mundial.”

terça-feira, 19 de agosto de 2025

"Alma negra em pele branca?"



 Sobre a falta de ações práticas dos "brancos liberais" contra o Apartheid na África do Sul, em que consideravam qualquer iniciativa de autonomia negra algo "radical" (quase na linha do "racismo reverso" que muitos ainda acreditam até hoje), o que não os deixavam tão distantes dos conservadores que tanto criticavam, Steve Biko escreveu, em 1970:

"Os liberais se tornaram mestres no jogo de evasivas deliberadas. A pergunta 'o que posso fazer?' surge com muita frequência. Se pedir a eles que façam algo como deixar de usar os serviços em que haja segregação, sair da universidade e trabalhar em empregos subalternos como todos os negros, ou ainda denunciar e desafiar os regulamentos que lhes dão privilégios, sempre respondem: 'Mas isso não é realista!'. 

Embora tal afirmação possa ser verdade, esses exemplos servem apenas para demonstrar que, não importa o que um branco faça, a cor de sua pele - seu passaporte para o privilégio - sempre o colocará quilômetros à frente do negro. Portanto, em última análise, nenhum branco escapa de pertencer ao campo opressor."

BIKO, Steve. Escrevo o que eu quero, p. 37.

quarta-feira, 30 de julho de 2025

"Escrevo o que eu quero", de Steve Biko

 


Steve Biko (1946-1977) foi um ativista sul-africano e um dos líderes na luta contra o Apartheid. Também foi um dos fundadores do Movimento da Consciência Negra na África do Sul e destacou-se por sua crença no empoderamento psicológico e político da população Negra como forma de resistir à opressão racial.

Seu pensamento e coragem inspiraram gerações em várias partes do mundo, apesar de sua vida ter sido tragicamente interrompida pelo regime racista que vigorava em seu país.

Biko desenvolveu um poderoso pensamento estratégico contra o Apartheid, a ponto de, segundo Nelson Mandela, o governo "ter de matá-lo para conseguir prolongar a vida do Apartheid."

Este livro é uma coletânea de textos escritos entre 1969 e 1972, enquanto Biko era ativo no Movimento da Consciência Negra. Conta com prefácio de Benedita da Silva e textos de Desmond Tutu e Sílvio Humberto, presidente do Instituto que leva o seu nome em Salvador.

segunda-feira, 19 de maio de 2025

Um século de Malcolm X

 


Hoje, Malcolm X completaria 100 anos de vida.

Para celebrar a data, resgatei uma fala histórica registrada no livro "Malcolm X Fala", da Ubu Editora.

No apelo aos chefes de Estado africanos, no Cairo, Egito, em julho de 1964, Malcolm disse:

"Nossos problemas são vossos problemas. Vivemos há mais de trezentos anos naquele covil americano de lobos racistas, sempre com medo de perder nossa integridade física e nossa vida. Recentemente, três estudantes do Quênia foram confundidos com Negros americanos e foram brutalmente espancados pela polícia de Nova York. Pouco depois, dois diplomatas de Uganda também foram espancados pela polícia de Nova York, que os confundiu com Negros americanos.

Se africanos são brutalmente espancados apenas por visitar a América, imaginem o sofrimento físico e psicológico de que padecem vossos irmãos e irmãs que vivem lá há mais de 300 anos.

Não importa de quanta independência os africanos desfrutem aqui no continente-mãe; ao visitarem a América, a menos que estejam usando seus trajes nacionais tradicionais em todos os momentos, vocês podem ser confundidos com um de nós e sofrer a mesma humilhação psicológica e mutilação física que são ocorrências cotidianas em nossa vida."

terça-feira, 13 de maio de 2025

Por que não comemoramos o 13 de maio

 


13 de maio de 2025. 137 anos da abolição formal da escravidão. Apesar disso, os homens Negros continuam sendo o principal alvo da violência urbana, seja institucional ou não, alvos do genocídio e do encarceramento em massa, disfarçados de "guerra contra as drogas". 

As mulheres Negras continuam na base da pirâmide, recebendo os menores salários. 

Somos a maioria da população, mas não somos representados na política, na mídia nem nos cargos de chefia das grandes empresas. Trocamos as correntes enferrujadas por correntes douradas, fingindo ser livres, enquanto ainda existe trabalho "análogo à escravidão" em várias partes do Brasil e do mundo.

O racismo é crime inafiançável e imprescritível, mas não conheço ninguém que realmente tenha sido punido.

A escravidão legalizada acabou, mas todas as pessoas que vivem hoje no Brasil são heranças de um passado que nunca esteve tão presente. Muitos têm sangue Negro nas veias; outros, nas mãos.

Muito a denunciar. Nada a comemorar.

sábado, 5 de abril de 2025

Sugestão de leitura: O Livro Egípcio dos Mortos

 

O Livro dos Mortos é originário de um compilado de textos funerários, cujos primeiros exemplos são conhecidos como Textos da Pirâmide, porque eram escritos nas paredes das câmaras mortuárias nas pirâmides dos faraós. Os egípcios acreditavam que a vida após a morte era uma continuação da vida na Terra. 

O papiro mais antigo conhecido foi encontrado na Pirâmide do Rei Unas, em Saqqara, e data de, aproximadamente, 2345 a.C.

O objetivo dos Textos da Pirâmide era ajudar o faraó falecido a ocupar seu lugar entre os deuses e garantir uma viagem tranquila até o paraíso. Teria sido criado por Thoth, o Deus-Íbis do conhecimento e da sabedoria.

Quando os caixões mudaram de caixas retangulares de madeira  para uma forma que seguia os contornos do corpo mumificado do faraó, os textos passaram a ser escritos em um papiro que era enrolado e colocado no caixão, junto ao corpo.

Acreditava-se que o faraó entraria no Duat, ou "Mundo Inferior", onde era submetido a dois rituais: a pesagem do coração e a abertura da boca. Se o falecido seguisse as instruções do papiro e recitasse seus hinos e rituais, ele se tornaria um espírito abençoado, deixaria a múmia no túmulo e se juntaria a Rá, Osíris e a todos os outros faraós.

domingo, 9 de março de 2025

A tradição dos símbolos Adinkra


 Os ideogramas Adinkra são representações da tradição oral dos antigos povos Akan, que viviam na África Ocidental, mais precisamente em Gana, Costa do Marfim e Togo, e sua filosofia foi transposta para estes símbolos, o que permitiu sua permanência e transmissão através dos tempos.

Esses símbolos representam costumes, valores tradicionais específicos, fatos históricos, características de algum animal ou vegetal, parábolas e conceitos filosóficos etc. Eram utilizados em situações formais ou cerimônias especiais, como em velórios, por exemplo, estampados à mão em roupas como uma mensagem de despedida ao falecido, mas também poderiam ser esculpidos em madeira ou ferro, como uma espécie de carimbo.

Tenho alguns destes símbolos tatuados, com espaço pra mais em breve...

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

60 anos de morte de Malcolm X

 


"A mais perigosa criação do mundo, em qualquer sociedade, é um homem sem nada a perder".

Há 60 anos, Malcolm X foi assassinado no Harlem, por se opor publicamente ao sistema e à sociedade racista da América. O governo dos EUA tentou, em vão, sufocar suas ideias, mas elas permanecem vivas até hoje.

"Por qualquer meio necessário!"

Rest in Power, Malcolm! ✊🏿



domingo, 2 de fevereiro de 2025

2 de fevereiro, dia da rainha!

 


No dia 2 de fevereiro, celebramos Yemanjá, "a mãe cujos filhos são peixes", divindade dos povos Iorubá (Nigéria). Senhora dos mares, protetora dos pescadores, deusa da fertilidade e da prosperidade. Mãe dos Orixás.

Em Salvador, o culto a Yemanjá se destaca por não ser associado sincreticamente a nenhuma santa católica, como ainda acontece com outras divindades do Candomblé. Mãe Stella de Oxóssi sempre dizia que "santo é santo e orixá é orixá", ressaltando que o sincretismo foi importante durante a escravidão para a manutenção das religiões de matrizes africanas, que foram proibidas por séculos, pudessem continuar existindo, mas que hoje não é mais necessário.

É muito bom ver as praias cheias nesta data, mas ainda espero ver o respeito às religiões afro-brasileiras e indígenas no decorrer do ano.

Importante também preservar a origem Negra e Africana de Yemanjá, pra que a imagem dela sobreviva ao epistemicídio e ao embranquecimento, como já aconteceu com outras figuras históricas, mitológicas e religiosas pelo mundo.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Dia de Martin Luther King, posse de Trump e o pacto da branquitude

 


Hoje, 20 de janeiro, é celebrado, nos EUA, o Dia de Martin Luther King. Por uma infeliz ironia do destino, o dia que celebra o homem que se notabilizou pela luta contra o racismo e pelo sonho de convivência pacífica entre Negros e brancos é justamente a data da posse de Donald Trump, um dos mais notórios racistas do mundo pós-Segunda Guerra Mundial, que já chegou dizendo que vai acabar com qualquer coisa que faça referência a diversidade.

A própria formação do seu secretariado, com 11 bilionários brancos, donos dos principais conglomerados do país, já mostra que ele não estava brincando.

Tô lendo "O Pacto da Branquitude", de Cida Bento, e uma passagem me pareceu conveniente para o momento:

"Fala-se muito na herança da escravidão e nos impactos negativos para as populações Negras, mas quase nunca se fala na herança escravocrata e nos seus impactos positivos para as pessoas brancas."

Os bilionários (de lá, daqui ou de qualquer lugar do Ocidente) são descendentes diretos ou indiretos de quem saqueou, violentou e sequestrou milhões de pessoas na África, Ásia e América Latina ao longo de cinco séculos. E é por causa disso que o sonho de Luther King nunca esteve tão distante.

domingo, 12 de janeiro de 2025

O capitalismo sempre foi racial

 


"O capitalismo sempre foi racial. O capitalismo não seria a instituição econômica global que é hoje se não fosse pela escravidão, se não fosse pela colonização. E, de alguma forma, pensamos que são coisas separadas, mas, não são." 

(Angela Davis)