Há um século, no dia 7 de abril de 1924, o então presidente do Vasco da Gama, José Augusto Prestes, endereçou um ofício a Arnaldo Guinle, presidente da AMEA (Associação Metropolitana de Esportes Atléticos) que passou para a posteridade como a "Resposta Histórica".
Quem vê o futebol hoje pode achar que sempre foi um esporte popular, dada a origem de grande parte dos jogadores e torcedores, mas quando ele chegou ao Brasil, entre o final do século XIX e início do século XX, era extremamente elitista. Só os homens brancos e "de boa família" poderiam jogar (sobre o assunto, leia "O Negro no futebol brasileiro", de Mário Filho).
Neste contexto, os grandes clubes do Rio de Janeiro da época, América, Botafogo, Flamengo e Fluminense, não fugiam à regra e só aceitavam jogadores brancos. O Fluminense, inclusive, tem a polêmica do pó de arroz, mas isso fica pra outro dia...
Fato é que o Vasco, que surgiu para o futebol alguns anos depois dos citados, contrariou essa lógica desde o início, e tinha jogadores Negros e operários em seus quadros. Claro que isso desagradou os clubes da "elite", principalmente após o título vascaíno em 1923 pela Liga Metropolitana de Desportos Terrestres, desbancando os quatro favoritos.
A AMEA, então, foi criada, com a intenção de excluir os pretos e pobres do futebol e, na figura dos seus filiados, redigiu um documento obrigando o Vasco a demitir 12 jogadores, sob pena de não ser aceito na nova federação.
Como diz o documento acima, a diretoria Cruzmaltina decidiu, por unanimidade, não acatar a ordem, por conhecer a origem dos atletas e por reconhecimento ao título recém-conquistado. Assim, como represália, a liga principal seguiu sem o Vasco, que acabou se sagrando campeão da LMDT de novo em 1924, desta vez, invicto.
Em 1925, dada a repercussão e o sucesso que o Vasco vinha fazendo, a AMEA resolveu admiti-lo, embora ainda desejasse que seus atletas fossem brancos, o que não aconteceu. Pelo contrário, pouco a pouco, as outras equipes também passaram a aceitar jogadores Negros e operários, e o futebol se popularizou, apesar do racismo seguir vivo e violento até hoje, 100 anos depois.
Abaixo, o post do Vasco da Gama nas redes sociais para celebrar a data:
"Coragem pra lutar pelo lado certo da história. Sempre.
Centenário da Resposta Histórica.
Por negros. Por operários.
Por Respeito. Igualdade. Inclusão.
'[...] São esses doze jogadores, jovens, quasi todos brasileiros, no começo de sua carreira, e o acto publico que os pode macular, nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que elles com tanta galhardia cobriram de glorias'
#CoragemPraLutar
#CentenárioRespostaHistórica
#VascoDaGama "
Nenhum comentário:
Postar um comentário