terça-feira, 18 de março de 2014

Assassinatos sistemáticos de Negros e Negras no país da impunidade

Cláudia Silva Ferreira foi assassinada por PMs a sangue frio e arrastada pela viatura por mais de 300m, no Rio de Janeiro.

Não sou cristão, mas entendo perfeitamente a razão de muitas pessoas acreditarem em Deus. As pessoas são tão cruéis, corruptas e sanguinárias, e vivemos em um país tão covarde, impune e abominável, que a descrença na justiça humana faz com que se imagine uma punição pós-morte para as atrocidades gratuitas que são cometidas todos os dias. Um julgamento justo no Além, uma Jurisprudência Divina.
Somos massacrados todos os dias, à revelia da imprensa e dos governos, contrariando todos os artigos da Constituição, do Código Penal e da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Somos assassinados ou condenados previamente, sem chance de defesa, por tribunais de rua uniformizados ou à paisana. Homens, mulheres, crianças e adolescentes. Atores, professores, médicos ou auxiliares de limpeza.
Nós Negros não somos mais apenas o que somos. Nós somos o que conseguimos provar, antes do primeiro tapa na cara ou do primeiro tiro pelas costas. Somos culpados, os "vagabundos que se enchem de filhos pra ganhar o Bolsa Família"; os "favelados que querem tomar as vagas de quem estudou 'de verdade' através do sistema de cotas"; os "médicos cubanos que vieram tomar os postos de emprego dos médicos brasileiros"; somos os "garis que não querem trabalhar e sujam a imagem da cidade em pleno carnaval".
Que risco uma mãe de 4 filhos, que, mesmo sendo de origem humilde, conseguia sustentar outras 4 crianças, poderia oferecer à sociedade? Que misteriosa "troca de tiros" foi essa que ninguém viu, e nenhum "suspeito" foi apresentado, vivo ou morto, pra sustentar a operação? Quem consegue chegar em casa, beijar a mulher e os filhos, dormir à noite e seguir sua rotina tranquilamente, depois de ter matado e arrastado Cláudia Silva Ferreira por mais de 300 metros?
As pessoas "evoluídas" espiritualmente e as diplomáticas que me perdoem, mas não sinto nada além de puro ódio por esses assassinos a serviço do Estado. Não sei se tenho mais medo dos bandidos da PM ou dos bandidos comuns. Sempre fico apreensivo ao ver uma viatura, nunca se sabe o que eles estão procurando, e o biotipo suspeito é sempre o mesmo: O meu. 

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