terça-feira, 19 de agosto de 2025

"Alma negra em pele branca?"



 Sobre a falta de ações práticas dos "brancos liberais" contra o Apartheid na África do Sul, em que consideravam qualquer iniciativa de autonomia negra algo "radical" (quase na linha do "racismo reverso" que muitos ainda acreditam até hoje), o que não os deixavam tão distantes dos conservadores que tanto criticavam, Steve Biko escreveu, em 1970:

"Os liberais se tornaram mestres no jogo de evasivas deliberadas. A pergunta 'o que posso fazer?' surge com muita frequência. Se pedir a eles que façam algo como deixar de usar os serviços em que haja segregação, sair da universidade e trabalhar em empregos subalternos como todos os negros, ou ainda denunciar e desafiar os regulamentos que lhes dão privilégios, sempre respondem: 'Mas isso não é realista!'. 

Embora tal afirmação possa ser verdade, esses exemplos servem apenas para demonstrar que, não importa o que um branco faça, a cor de sua pele - seu passaporte para o privilégio - sempre o colocará quilômetros à frente do negro. Portanto, em última análise, nenhum branco escapa de pertencer ao campo opressor."

BIKO, Steve. Escrevo o que eu quero, p. 37.