segunda-feira, 29 de junho de 2015

67 anos do Apartheid na África do Sul: Para que nunca mais aconteça

Apesar de ser minoria, a elite branca sul-africana restringia violentamente o acesso aos Negros, até mesmo em locais públicos.

Em 29 de junho de 1948, uma das maiores vergonhas da história recente da humanidade foi oficialmente posta em prática. O regime do Apartheid ,"Separação", no idioma africâner, uma espécie de inglês com holandês falado pela minoria branca da África do Sul, que detinha o poder no país.

Esse sistema se caracterizava pelo racismo, dividindo o país, hierarquicamente, entre brancos, mestiços (em especial, indianos) e, por último, os Negros, que, mesmo sendo maioria numérica, possuíam menos direitos que os demais. No Apartheid, a saúde, a educação, os transportes e todos os serviços básicos seguiam essa hierarquia. Além disso, os Negros eram proibidos de circular pelas cidades ou viajar sem um passe de autorização e sua presença nas ruas era limitada a determinados locais e horários. Prisões arbitrárias de "suspeitos de conspiração" contra o governo foram legalizadas. 

É bom que se diga que, apesar de sua oficialização pelo Partido Nacional, na figura do primeiro-ministro sul-africano Daniel François Malan em 1948, o Apartheid foi um desdobramento do colonialismo europeu no continente africano, em que tradições milenares foram desprezadas e as relações tribais foram desestimuladas nos chamados "bantustões" que agrupavam cerca de 80% da população do país em mais ou menos 13% do território, pois, para os brancos, todos os Negros eram igualmente inferiores, não importando sua origem étnica, e as relações interraciais poderiam fazer com que seus costumes desaparecessem.

Organizações compostas por Negros criaram resistência ao Apartheid, com destaque para o CNA (Congresso Nacional Africano), que existia desde 1912, mas teve uma atuação muito importante nos anos de vigência do regime. Neste partido, destacou-se a figura de Rolihlahla Mandela, que recebera o nome de "Nelson" na escola, como acontecia com grande parte das crianças africanas Negras, pelo fato de os descendentes de europeus acharem seu nome tradicional muito complicado.

O Congresso Nacional Africano foi uma das principais vozes contra o Apartheid.

Mandela integrou vários boicotes e "campanhas de desafio", nas quais centenas de Negros pelo país circulavam por áreas exclusivas para brancos sem nenhum passe de autorização, acabou condenado à prisão perpétua, após o julgamento por conspiração e alta traição, mas isso não impediu que continuasse sendo uma grande liderança, mesmo isolado na Ilha Robben ou em outros presídios.

Com o passar dos anos,  o Apartheid foi sofrendo pressões internacionais e enfraquecendo, principalmente pelas suas semelhanças com o Nazismo e pelo fim de outros governos de minoria branca pelo continente. O movimento "Libertem Mandela" tomou conta do mundo inteiro e, a partir do governo de Frederik Willem de Klerk, Mandela foi finalmente solto em 1990, e as proibições foram, pouco a pouco, sendo revogadas.

Nas primeiras eleições livres do país, Nelson Mandela foi eleito o primeiro presidente Negro da história da África do Sul, iniciando um processo de mudanças por justiça e igualdade social. Em 1993, venceu o Prêmio Nobel da Paz, um reconhecimento a tantas décadas de luta contra o racismo.

Nunca devemos esquecer o Apartheid. Não podemos deixar de falar dessa aberração, para que não corramos o risco de vê-la ressurgir das cinzas, tal qual as diversas formas de preconceito latentes ao redor do mundo. Em tempos de "guerras cibernéticas" nas redes sociais por causa da união civil homoafetiva, pela redução da maioridade penal, pela laicidade do Estado e pela liberdade religiosa, em que o lado mais podre, vil e covarde do ser humano se expõe diante de todos, é bom aprender com o passado e perceber que nada de bom pode ser construído através do ódio e da segregação.

Saiba mais:

Filmes:

Mandela - Luta pela liberdade (2009)
Invictus (2009)
Mandela: Longo Caminho até a Liberdade (2013)

Livros:
Nelson Mandela: Longa Caminhada até a Liberdade (lançada em 2012, auto-biografia que deu origem ao filme e com prefácio de Fernando Henrique Cardoso)
Nelson Mandela: Conversas que tive comigo (2010, com prefácio de Barack Obama)

Auto-biografias de Mandela






quinta-feira, 25 de junho de 2015

6 anos de morte de Michael Jackson

Who's bad?

Hoje faz seis anos desde a morte do "King of Pop", Michael Jackson.

Coloquei esta capa do disco Bad, de 1987, por ter sido a primeira coisa relacionada a música que tive. Ganhei o LP nos idos de 1992 (faz tempo...) e ainda o tenho por aqui, mesmo tantos anos depois, pois tem um significado muito grande pra mim. Michael Jackson foi uma das primeiras referências musicais que tive quando criança, ao lado de Legião Urbana, Engenheiros do Hawaii e outras coisas que tocavam nas rádios entre o fim da década de 1980 e início da de 1990.

Não gosto muito de falar sobre morte, apesar de saber que é algo natural e previsível, mas prefiro celebrar a vida.

Michael Joseph Jackson (29/08/1958 - 25/06/2009) se notabilizou pela grande contribuição que deu à Música Negra norte-americana, levando a música pop a outro patamar, a ponto de influenciar os maiores artistas deste segmento musical até hoje, nos Estados Unidos e ao redor do mundo.

Michael possui, até hoje, cinco dos álbuns mais vendidos da história da música: Of The Wall (1979), Thriller (lançado em 1982, este é reconhecido como o álbum mais vendido de todos os tempos), Bad (1987), Dangerous (1991) e History (1995), sem contar os inúmeros sucessos #1 das paradas, desde os tempos de Jackson Five, grupo que integrava com seus irmãos.

Costumo colocá-lo no mesmo patamar de gênios como Michael Jordan, Pelé, Lionel Messi, Jimi Hendrix, Leo Fender, entre outras personalidades que inovaram ou transformaram algo que já existia em uma coisa ainda melhor, claro, respeitando suas devidas proporções. 

Citando Man in the Mirror, uma das minhas canções favoritas, "se você quer fazer do mundo um lugar melhor, dê uma olhada em si mesmo, e então, comece a mudança".



quarta-feira, 24 de junho de 2015

Calendário Negro: Nasce João Cândido, o "Almirante Negro"

O dia 24 de junho marca a data de nascimento do "Almirante Negro" João Cândido Felisberto, líder da Revolta da Chibata, que ocorreu na Marinha do Rio de Janeiro, em novembro de 1910. Esta revolta exigia, entre outras coisas, o fim dos castigos físicos impostos aos marinheiros, sobretudo aos Negros.

Foto do Almirante Negro (24/06/1880 - 06/12/1969) em jornal de 1910, momento da "Revolta da Chibata"


O Mestre-Sala dos Mares (João Bosco/Aldir Blanc)

Há muito tempo, nas águas da Guanabara
O dragão, no mar, reapareceu
Na figura de um bravo feiticeiro
A quem a História não esqueceu

Conhecido como o Navegante Negro
Tinha a dignidade de um mestre-sala
E ao acenar pelo mar, na alegria das regatas
Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas
Jovens polacas e por batalhões de mulatas

Rubras cascatas
Jorravam das costas dos santos, entre cantos e chibatas
Inundando o coração do pessoal do porão
Que, a exemplo do feiticeiro, gritava, então:

"Glória aos piratas, às mulatas, às sereias!
Glória à farofa, à cachaça, às baleias!"

Glórias a todas as lutas inglórias
Que através da nossa História
Não esquecemos jamais

Salve o Navegante Negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais...


quinta-feira, 18 de junho de 2015

O silêncio que incomoda


Repercutiu muito nas últimas semanas a foto da performance de uma transexual durante a Parada LGBT de São Paulo. Na imagem, ela aparecia crucificada, tal qual Jesus Cristo, simbolizando toda a violência gratuita e o ódio dos "detentores da fé" que, desde aquela época, condenavam à morte qualquer ato considerado um "desvio de caráter" ou uma deturpação da religião tida como "verdadeira".

O problema é que muitas pessoas não entenderam a intervenção artística (ou não se esforçaram para tal) e a foto gerou um tsunami de indignação entre os cristãos, principalmente dos evangélicos, o que não deixa de ser paradoxal, já que a maioria deste segmento religioso é avessa à veneração de imagens sacras.

Ironicamente, não se ouve o mesmo barulho das pessoas que - legitimamente - defendiam o respeito à sua religiosidade, no caso da menina carioca de 11 anos, candomblecista, que foi covardemente agredida a pedradas, pelo simples fato de estar vestida de branco e com trajes litúrgicos de sua religião. Segundo testemunhas, o ataque teria partido de evangélicos, o que não seria a primeira vez. Casos como esse se repetem dia após dia, e não há nenhuma "revolta" ou histeria coletiva pelo respeito às religiões de matrizes africanas. Inclusive, a própria garota, ainda abalada pelos acontecimentos, foi hostilizada novamente enquanto saía da perícia aos gritos de "demônia" e "vai queimar no inferno".

O que passa pela cabeça de alguém que acha que tentar destruir a religião alheia, incluindo nesta empreitada, machucar ou matar seus adeptos, o tornará uma pessoa melhor?
Quando os fundamentalistas cristãos vão deixar de ver outras denominações religiosas como "concorrência"?

Por que tudo que é diferente do que a moral seletiva do Cristianismo prega é visto como algo "diabólico"?

Vivemos em um momento perigoso no Brasil. Desde a Câmara dos Deputados, onde o presidente passou a realizar cultos evangélicos e vários dessa bancada se dedicam diariamente a legislar contra tudo que vá de encontro ao seu livro sagrado, até as simples atividades cotidianas, em que é difícil terminar o dia sem ouvir uma pregação de alguém na rua, no ônibus, no metrô ou até na porta de sua casa, dizendo que você deve viver da maneira que a religião dele obriga.

Tenho a grande impressão de que Jesus, revolucionário como era, seria apedrejado e crucificado novamente, se tentasse defender suas ideias no Brasil do século XXI.

Katia Marinho abraça a neta, que não quer mais usar roupas brancas fora do barracão Foto: Guilherme Pinto / Extra


quarta-feira, 10 de junho de 2015

11 anos sem Ray Charles


Ray Charles Robinson (23/09/1930 - 10/06/2004) foi um dos maiores expoentes do R&B, a música Negra norte-americana, e um dos principais responsáveis por sua difusão pelo mundo.
Faleceu há 11 anos atrás, aos 73 anos de idade, devido a uma doença hepática.
Seu legado viverá para sempre!

terça-feira, 9 de junho de 2015

Seja como for!

Créditos da imagem: Humaniza Redes


Pela valorização da beleza e da autoestima das meninas/mulheres Negras.
Sejam quem vocês quiserem, façam o que quiserem. 

sexta-feira, 5 de junho de 2015

SOJA - True Love (Tradução)


No sábado passado (30/05), tive a felicidade de ver o SOJA (Soldiers Of Jah Army) ao vivo aqui em Salvador. O Reggae é um estilo musical que prega a paz e a prosperidade por excelência, como alternativas a esse mundo caótico em que vivemos, por isso, escolhi True Love pra representar tudo isso. Pra que a gente possa se desligar de todas as formas de violência que existem de irmãos contra irmãos, fechar os olhos e, simplesmente, deixar o Amor Verdadeiro falar por nós.


Amor Verdadeiro

Assim como a terra que carrega o nome da África
O amor está na minha mente
É para todos, não importa de onde você é
O amor ultrapassa todas as barreiras
Como o sentimento de todas as estações mudando
O amor é uma memória
E nestes últimos dias, quando a maldade surpreende
O verdadeiro amor fala

Eu preciso de amor verdadeiro
Você sabe o que você significa para mim?
(Verdadeiro amor)
Demonstra como eu vivo e como eu respiro?
(Verdadeiro amor)
No vale da sombra, eu sei que você estará
(Verdadeiro amor)
Eu defendo, eu domino a morte
E eu domino o inimigo (inveja)

O que realmente é o amor, se ele afeta só um aspecto da vida?
É como um músico que só aceita o seu próprio tipo musical
É como um pregador que apenas respeita a manhã de domingo, e não a noite de sabado
É assim que um soldado pode vir a refletir
Esse amor é mais do que marido e mulher

Eu preciso de amor verdadeiro
Você sabe o que você significa para mim?
(Verdadeiro amor)
Demonstra como eu vivo e como eu respiro?
(Verdadeiro amor)
No vale da sombra, eu sei que você estará
(Verdadeiro amor)
Eu defendo, eu domino a morte
E eu domino o inimigo (inveja)

Em uma época de abundância, Jah irá me manter forte
As coisas chegarão e eu ficarei bem, yeah
Jah  me manterá forte
Quando meu copo estiver vazio
Jah  me manterá forte
Quando meu copo estiver cheio, yeah
Jah  me guardará da tentação...